23 Novembro 2021
Números do levantamento da Associação Nacional de Livros (ANL) indicam que a cada três dias uma livraria fecha as portas no Brasil. Em 2014, o Brasil tinha 3.095 livrarias; em 2021 caíram para 2.200. No total, o país conta com 2.680 livrarias, uma para cada grupo de 96 mil pessoas, quando indicadores da Unesco apontam que o adequado seria uma para cada 10 mil.
A reportagem é de Edelberto Behs, jornalista.
A redução do número de livrarias no Brasil é consequência da recessão econômica e da mudança nos hábitos de consumo, após a consolidação “das novas tecnologia que possibilitaram a intensificação do comércio on-line”, analisou o presidente da ANL, Bernardo Gurbanov, segundo matéria divulgada pelo portal da Deutsche Welle.
Mas não só isso. “A formação de leitores – assinalou – depende mais de adequadas políticas públicas nos âmbitos da educação e da cultura do que as ações da sociedade civil”. Na avaliação de Gurbanov, os índices que medem o desempenho escolar e os hábitos de leitura “demonstram que estamos diante de um enorme fracasso institucional no que diz respeito à formação de leitores”, o que ele qualificou como “uma verdadeira tragédia nacional”.
Constata-se, ainda, uma concentração de livrarias: 68% delas estão localizadas nas regiões Sudeste e Sul. Mais de mil das 2,2 mil existentes estão concentradas em São Paulo e no Rio de Janeiro. O Distrito Federal tem uma loja para cada 30,8 mil habitantes.
O relatório “Education at Glance” (Educação em um relance), divulgado em setembro pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), indicou que apenas um terço dos estudantes brasileiros que realizaram o Pisa em 2018 – exame internacional aplicado pela entidade em jovens de 15 anos nos 38 países que a integram, mais Argentina, Brasil, China, Índia, Indonésia, Rússia, Arábia Saudita e África do Sul – foi capaz de distinguir fatos de opiniões.
A capacidade de leitura e interpretação de textos afeta a habilidade dos jovens de se desenvolverem social e profissionalmente, e de exercerem sua cidadania. A renda e a posição socioeconômica influenciam a capacidade de aprendizagem de alunos e estudantes, uma desigualdade que é bem acentuada no país, reporta matéria da BBC News Brasil com base no relatório da OCDE.
O abismo cultural entre estudantes de classes sociais mais avantajadas e os mais pobres em todo o mundo é um dado que preocupa o diretor de educação da OCDE, Andreas Schleicher. O relatório constatou que “nativos digitais” não sabem buscar conhecimento na internet.
No Brasil, constata o relatório, a proporção de jovens mais pobres que conseguiu alcançar o nível 2 em leitura do Pisa – numa escala de 1 a 6, o 2 é considerado o nível básico de leitura – foi 55% menor do que de jovens das classe mais abastadas. Essa disparidade é 26 pontos percentuais superior à média dos países da OCDE.
A organização define habilidade de leitura como “a capacidade de entender, usar e refletir sobre textos escritos de modo a conquistar objetivos, desenvolver conhecimento e potencial, e participar da sociedade”. O relatório mostrou que o status socioeconômico segue impactando a vida dos jovens, ao diminuir o seu acesso ao ensino superior e, desse modo, deixa-os mais vulneráveis ao desemprego.
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Nível de leitura no Brasil é uma tragédia nacional, diz presidente da ANL - Instituto Humanitas Unisinos - IHU