30 Junho 2007
Onde estão os novos leitores? A missão de resgatar o gosto pela literatura é difícil e deve contar com o apoio da sociedade e dos governantes. Um dos fortes meios de incentivar a leitura é a internet. Para falar de leitores que crescem utilizando as novas tecnologias como principal meio de leitura, a IHU On-Line falou com Antonio Athayde, diretor executivo da Associação Nacional de Jornais. Durante a entrevista, Athayde comenta sobre onde encontrar os novos leitores, a influência da internet para a leitura e os fatores que podem excluir as pessoas das novas tecnologias.
Além de diretor executivo da ANJ, Antonio Athayde foi Subsecretário de Assuntos Internacionais da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado de Minas Gerais, além de ter trabalhado em diversos veículos de comunicação brasileiros. Ele foi, também, um dos convidados a participar, no último Festival de Propaganda de Gramado, da mesa “Leituras contemporâneas: onde estão os novos leitores?”.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Dentre as leituras contemporâneas, para o senhor, onde estão os novos leitores?
Antonio Athayde - Os novos leitores estão entre os jovens, entre aqueles que sabem ler, mas cujo poder aquisitivo não lhes permite ter o hábito permanente da leitura - com a compra de livros e jornais -, e também no imenso universo de analfabetos. Por isso, em nosso país, quando melhora a situação econômica, aumenta a circulação dos jornais, o poder aquisitivo e a compra de jornais. O grande número de jornais populares, de preços mais acessíveis, lançados recentemente no Brasil, é prova disso. Em relação aos jovens, devemos buscar temas e linguagens que nos aproximem deles. E, em relação aos analfabetos, é necessário um grande esforço de toda a sociedade, para vencer esse vergonhoso problema, com conseqüências profundas para o próprio princípio de cidadania.
IHU On-Line - Com o avanço das tecnologias, como o senhor vê o hábito da leitura entre os novos leitores?
Antonio Athayde - A televisão e, mais recentemente a internet, têm impacto profundo sobre os hábitos de leitura. Mas é importante lembrar que esse é um processo complexo e que começou já há muitos anos. No início do século passado, a palavra impressa - nos livros, jornais e revistas - não tinha a concorrência de outros meios de comunicação. Depois, vieram o rádio, o cinema, a televisão e a internet. Esta, sozinha, tem hoje a capacidade de conter todas as mídias. É uma imensa oferta de informações em várias mídias e o dia continua a ter apenas 24 horas! Desta forma, é evidente que a o hábito da leitura mudou, e é preciso muito trabalho para conquistar novos leitores.
IHU On-Line - Qual é a influência, em sua opinião, da internet no costume da leitura? E na escrita?
Antonio Athayde – A internet tem uma imensa capacidade de atrair audiência, em prejuízo da leitura na mídia impressa. Mas é imprescindível assinalar que a leitura também se dá na internet. Hoje, por exemplo, a indústria jornalística não é apenas aquela que produz jornais impressos. Ela produz conteúdo que são lidos também na internet, nos sites jornalísticos. Os jovens de hoje podem não ler e escrever no papel tanto quanto os de décadas atrás, mas fazem isso intensamente pela internet. É certo, igualmente, que a comunicação rápida e instantânea da internet vem produzindo alterações na forma da leitura e da escrita. Contudo, isso nos remete a uma reflexão mais profunda, que deve ser feita por estudiosos da língua e da escrita.
IHU On-Line - Qual é o papel da propaganda no projeto de incentivo à leitura?
Antonio Athayde - Acho que a propaganda tem, sim, papel como incentivadora da leitura. Não apenas com peças explícitas sobre a importância do hábito da leitura, mas também na valorização da palavra escrita em sua própria atividade. Sei que a comunicação audiovisual, que valoriza a emoção e os sentidos, é o terreno por excelência da propaganda. Mas a informação objetiva e de credibilidade, tão necessária à atividade de vender produtos e serviços, também é de grande importância. Por isso, a importância de se valorizar sempre a palavra escrita e a leitura.
IHU On-Line - Como o senhor vê o jornalismo se especializando cada vez mais? Isso atrai novos leitores?
Antonio Athayde - A especialização do jornalismo pode ser uma tendência para os jornais impressos. Enquanto o noticiário mais "quente", das notícias recentes, de última hora, tende a se concentrar nos sites jornalísticos, um caminho dos jornais impressos pode ser a análise, a especialização, o aprofundamento dos temas. E isso pode sim atrair novos leitores.
IHU On-Line - Que tipos de investimentos devem ser feitos em relação a esses novos leitores? E aos leitores excluídos por causa das tecnologias?
Antonio Athayde - A indústria jornalística brasileira busca novos leitores investindo em produtos que realmente interessam aos cidadãos e também oferecendo preços mais acessíveis, como é o caso já citado dos jornais populares. Em relação ao hábito da leitura, temos na ANJ (Associação Nacional de Jornais) o Programa Jornal e Educação, que estimula esse hábito por meio do uso dos jornais como instrumento pedagógico em salas de aula.
IHU On-Line - Quais são as vantagens e desvantagens daquele leitor que tem acesso às novas tecnologias daquele que não tem acesso?
Antonio Athayde - Quem não tem acesso às novas tecnologias obviamente está em desvantagem. A mídia digital, a internet, é uma conquista que deveria ser acessível ao maior número de pessoas.
IHU On-Line - Que tipos de práticas os governos, nacional e estaduais, deveriam/devem promover para que estimular a leitura?
Antonio Athayde - Os governos deveriam investir melhor na educação os recursos arrecadados junto aos cidadãos. E todos os segmentos da sociedade deveriam estar mais engajados nesse processo, cobrando dos governos, participando das discussões. O projeto Todos pela Educação, que é uma iniciativa da sociedade civil e de organizações não-governamentais, trabalha para atingir quatro metas:
1. Colocar na escola toda criança e jovem de 4 a 17 anos;
2. Alfabetizar toda criança até os oito anos;
3. Todo aluno concluir o Ensino Médio até os 19 anos;
4. Investimento, garantido e bem gerido, com Educação.
IHU On-Line - Como o senhor vê a atuação das escolas no estímulo à leitura? O seu papel está sendo cumprido?
Antonio Athayde - As escolas são reflexos da forma como a sociedade e os governos encaram a educação. É claro que a leitura, entre tantos outros aspectos do ensino, poderia ser muito mais estimulada se houvesse maior engajamento dos governos e da sociedade.
IHU On-Line - Como o senhor enxerga o fato de haver cada vez mais incentivo ao desenvolvimento das novas tecnologias, ao mesmo tempo em que o Brasil possui um número grande de analfabetos que não têm acesso a essas novas tecnologias?
Antonio Athayde - Não considero que novas tecnologias e alfabetização sejam excludentes. Muito pelo contrário. O aumento do conhecimento será sempre positivo para a sociedade. Mas é preciso que esse aumento de conhecimento se estenda para toda a sociedade. Ler, escrever e compreender o mundo em que se vive são princípios básicos de cidadania. E as novas tecnologias podem e devem ser usadas também nesse processo de inclusão social.
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Onde estão os novos leitores? Entrevista especial com Antonio Athayde - Instituto Humanitas Unisinos - IHU