30 Outubro 2021
O Papa Francisco e o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, conversaram em particular durante 75 minutos, um tempo incomumente longo para os padrões vaticanos, um sinal de que os dois líderes tiveram uma discussão mais aprofundada do que os observadores esperavam.
A reportagem é de Gerard O’Connell, publicada em America, 29-10-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Francisco acolheu calorosamente a Biden, o segundo presidente católico dos Estados Unidos, quando ele chegou à Biblioteca Papal pouco antes das 12h10, hora local em Roma. Ele então convidou o presidente à biblioteca, e os dois líderes se sentaram frente a frente à mesa da biblioteca onde o Papa Francisco conversou com muitos dos líderes mundiais nos últimos oito anos, incluindo os dois antecessores de Biden, Donald J. Trump, no dia 24 de maio de 2017, por 30 minutos, e Barack Obama, no dia 27 de março de 2014, por 52 minutos.
Sobre a mesa, havia um crucifixo, um relógio, um bloco de notas e uma campainha, que o papa toca para sinalizar o fim da audiência privada e para convidar a delegação do presidente a entrar na sala.
Antes do encontro de hoje, muito havia sido escrito sobre a pressão de alguns bispos dos Estados Unidos, embora não de todos, para negar a Eucaristia a políticos pró-escolha, incluindo o presidente, e alguns especulavam que o papa poderia levantar a questão com Biden. Uma fonte autorizada do Vaticano que pediu para não ser identificada, no entanto, disse à revista America na véspera da visita que o Papa Francisco havia expressado claramente a sua posição sobre todo esse assunto no avião de volta de Bratislava, no dia 15 de setembro, e não via a necessidade de dizer mais.
Na verdade, estava claro às autoridades e à mídia em Roma que Biden foi ao Vaticano não como um penitente para se confessar ao papa, mas como o presidente dos Estados Unidos da América, para discutir questões de imensa importância global com o líder do 1,3 bilhão de católicos do mundo, do qual ele é um grande admirador.
Uma alta autoridade vaticana, que também desejou manter o anonimato, disse à America que Francisco estava feliz por Biden ter decidido visitá-lo na véspera da cúpula do G20 entre os líderes mundiais em Roma e da importante conferência COP-26 em Glasgow, para onde presidente irá no dia 1º de novembro.
Na manhã dessa sexta-feira, 29, antes de se encontrar com o Biden (e o presidente Moon Jae-in, da Coreia do Sul), Francisco, em uma mensagem na BBC Radio 4, enfatizou a grande responsabilidade política dos governos em assumirem compromissos sérios na COP-26 para combater as mudanças climáticas e salvar a humanidade de desastres provocados pelo clima.
O presidente Biden estava acompanhado da sua esposa, Jill, e de uma delegação de outras 10 pessoas, que incluíam o secretário de Estado, Antony Blinken, o conselheiro de Segurança Nacional, Jake Sullivan, e o encarregado de Negócios da Embaixada dos Estados Unidos junto à Santa Sé, Patrick Connell, como novo embaixador ainda não confirmado pelo Senado estadunidense.
Depois de sua conversa privada, seguindo o protocolo, o papa e o presidente foram para o fundo da biblioteca e ficaram sob uma pintura da ressurreição de Cristo, do pintor renascentista italiano Perugino, do século XV. Lá, o presidente apresentou cada membro da sua delegação ao papa, começando pela sua esposa.
Uma autoridade da Casa Branca disse a correspondentes em Washington que “a conversa entre os dois estava muito calorosa quando a delegação chegou à sala. Havia risos e uma clara relação entre o presidente Biden e o Papa Francisco”.
Uma fonte vaticana que esteve presente na troca de presentes, mas não foi autorizada a falar, disse à America: “O ambiente era muito amigável e descontraído. Você pode ver que o papa e o presidente se conhecem bem e gostam de estar juntos”.
A atmosfera muito amigável ficou evidente nos vídeos divulgados pelo Vaticano após a visita. Eles mostravam os dois brincando um com o outro, como velhos amigos, mas, a certa altura, o presidente Biden disse: “Você é o guerreiro da paz mais importante que eu já conheci”. Ele também deu ao papa uma das suas “moedas de batalhão”, que tinha uma conexão com seu filho falecido, Beau.
Em seguida, os dois líderes foram para uma mesa no centro da biblioteca, onde estavam os presentes que iriam dar um ao outro. O Papa Francisco deu ao presidente vários presentes, incluindo uma pintura de “O Peregrino” em ladrilhos de cerâmica; os volumes dos documentos papais, incluindo suas encíclicas e outros textos importantes e a mensagem deste ano pela paz, pessoalmente assinada pelo Santo Padre. Ele também o presenteou com o “Documento sobre a Fraternidade Humana”, assinado em Abu Dhabi com o Grão-Imã de Al-Azhar, e o volume conhecido como “Statio Orbis”, que documenta, por meio de textos e fotos, o discurso e a oração do Papa Francisco na Praça de São Pedro no dia 27 de março de 2020, no auge da pandemia.
O presidente Biden presenteou o papa com uma casula tecida à mão, feita em 1930 na Igreja da Santíssima Trindade em Washington, onde Biden costuma participar da missa.
Depois dessa troca de presentes, o papa deu um presente à primeira-dama, Jill Biden, e a cada membro da delegação presidencial, e os membros da delegação foram embora.
O Papa Francisco, então, acompanhou o presidente Biden até a porta da biblioteca, e eles se despediram às 13h40, hora local. Isso significa que toda a audiência durou 90 minutos.
Após a audiência com o papa, o presidente Biden, acompanhado por Blinken, foi escoltado à Secretaria de Estado para uma reunião de quase uma hora com o cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado, e o arcebispo Paul Gallagher, secretário para as relações com os Estados. Ele já havia se encontrado com ambas as autoridades nos Estados Unidos em 2015 e no Vaticano.
O Vaticano emitiu a seguinte declaração quando o presidente deixou a cidade-Estado, sem distinguir o que foi discutido entre o presidente e o papa e o que foi discutido entre o presidente e os principais assessores do papa:
“No decorrer dos cordiais colóquios, eles se detiveram sobre o compromisso comum com a proteção e cuidado do planeta, sobre a situação sanitária e a luta contra a pandemia da Covid-19, assim como sobre o tema dos refugiados e da assistência aos migrantes. Não se deixou de fazer referência também à proteção dos direitos humanos, incluindo o direito à liberdade religiosa e de consciência. Enfim, os colóquios permitiram uma troca de pontos de vista sobre algumas questões referentes à atualidade internacional, também no contexto da iminente cúpula do G20 em Roma, e à promoção da paz no mundo mediante a negociação política.”
O presidente Biden subiu a Via della Conciliazione, rumo à Praça de São Pedro, por volta das 11h50, em meio a um intenso sistema de segurança terrestre e helicópteros, em uma carreata de 85 veículos, que relembrou o poder e o prestígio da Roma imperial em um era anterior. Biden estava sentado em um dos dois carros blindados idênticos, conhecido como “a Besta”, cercado por escoltas policiais.
O cortejo entrou pelo lado esquerdo da Praça de São Pedro, depois passou pelo Arco dos Sinos, ao lado da Basílica de São Pedro, rumo ao pátio de São Dâmaso. Em sua chegada, um pelotão de guardas suíços ficou em posição de sentido em sua homenagem quando ele saiu do carro e foi saudado com “boas-vindas” pelo regente da Casa Papal, Mons. Leonardo Sapienza. “É bom estar de volta”, respondeu Biden.
O monsenhor, então, o apresentou aos sete cavalheiros da Casa Papal, antes de acompanhá-lo até o elevador que o levou à segunda loggia (andar) do Palácio Apostólico.
Ao chegar lá, ele foi escoltado por guardas suíços e outros cavalheiros da Casa Papal pelos corredores e salões do século XV, decorados por Rafael e outros artistas italianos, até a pequena sala do trono em frente à Biblioteca Papal, onde foi recebido pelo Papa Francisco. Ele chegou quase 10 minutos atrasado para a audiência papal, devido ao fato de que o presidente Moon, da Coreia do Sul, que teve uma audiência privada anterior de 25 minutos com o papa e altas autoridades vaticanas, ainda não havia deixado o Vaticano.
Foi o 31º encontro entre um presidente dos Estados Unidos e um papa desde que Woodrow Wilson visitou Bento XV em janeiro de 1919. Ao longo do último meio século, todos os presidentes visitaram o papa, e, em 1984, os Estados Unidos e a Santa Sé firmaram relações diplomáticas.
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Papa Francisco e Joe Biden desfrutam de um encontro extraordinariamente longo no Vaticano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU