04 Outubro 2021
O principal bispo da França advertiu que um próximo relatório sobre os abusos sexuais clericais será “bastante assustador”, e o chefe da comissão independente que investiga o escândalo admitiu que teve que procurar ajuda psicológica depois de ouvir os depoimentos das vítimas.
A reportagem é de Tom Heneghan, publicada em The Tablet, 01-10-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O arcebispo Éric de Moulins-Beaufort, presidente da Conferência Episcopal, realizou cinco encontros com paroquianos em sua Arquidiocese de Reims em setembro para prepará-los para o relatório do extenso inquérito realizado pelo alto funcionário público aposentado Jean-Marc Sauvé.
“Se, por algum tempo, pensamos que tínhamos sido poupados na França em relação a esse flagelo, tivemos que encarar os fatos: há casos graves e numerosos de abusos cometidos por padres”, disse o arcebispo em um encontro.
“Temo que, no dia 5 de outubro, o relatório da comissão independente sobre os abusos sexuais na Igreja forneça números bastante assustadores”, disse ele em outro encontro.
Em março passado, Sauvé estimou que a sua comissão encontraria pelo menos 10.000 casos de abuso desde 1950. Ele foi nomeado pela Conferência Episcopal em 2018, porque a pressão aumentou sobre a Igreja para que a enfrentasse o escândalo.
Nos últimos dois anos e meio, a comissão de 21 especialistas leigos – homens e mulheres, católicos e não católicos – percorreu a França vasculhando arquivos e encontrando vítimas para compilar o relatório.
Depois de ouvir uma vítima por duas horas no fim de 2019, Sauvé disse ao Le Monde que precisou de ajuda para continuar os trabalhos. Vários outros membros da comissão também consultaram um psicólogo para ajudar a processar o que ouviram.
“Ouvir as vítimas deu carne a uma missão abstrata”, disse Sauvé ao Le Monde. “A grande dificuldade é poder receber [essas informações] sem se deixar abalar por aquilo que você ouve.”
Aparentemente, poucos clérigos seguiram o exemplo do arcebispo Moulins-Beaufort. “As paróquias realmente não estão medindo e antecipando a onda de choque que essa pesquisa sem precedentes pode criar”, disse o semanário católico La Vie.
Embora o escândalo na França tenha chegado às manchetes ainda em 2001, os clérigos argumentam que os secularistas muitas vezes anticlericais da França foram tão rápidos em revelar os malfeitos que não poderia haver ainda muitas coisas ocultas.
Mas, nos últimos anos, vários chefes de novas comunidades religiosas foram revelados como abusadores. O arcebispo de Lyon, cardeal Philippe Barbarin, renunciou depois de ter sido divulgado que por muito tempo ele havia acobertado um padre abusador em série, que, desde então, foi condenado a cinco anos de prisão.
O próximo relatório foi discutido com o papa durante a visita ad limina dos bispos franceses a Roma na semana passada. Segundo o arcebispo de Paris, Michel Aupetit, Francisco disse aos bispos que eles devem “olhar a verdade de frente”.
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Relatório sobre abusos sexuais na França será “assustador” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU