23 Setembro 2021
O Canadá tem 37 milhões de habitantes, mas comprou 400 milhões de vacinas. Querendo, poderia chegar à décima dose. Os Estados Unidos assinaram contratos de 1,6 bilhão de doses para 330 milhões de habitantes e a União Europeia de 3,1 bilhões de doses com meio bilhão de habitantes. Claro, muitos desses frascos existem apenas no papel: ainda estão em produção. Mas muitos outros não se encontram apenas nos refrigeradores, também estão vencendo. Aqueles com a data 31 de dezembro de 2021 estampada na etiqueta são 100 milhões. 40% estão na Europa.
A reportagem é de Elena Dusi, publicada por La Repubblica, 22-09-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Airfinity, uma empresa britânica de análise de bens e produtos de saúde, fez o cálculo. O problema dos países desenvolvidos que não conseguem utilizar todos seus estoques se reflete no problema dos países menos desenvolvidos que sofrem com uma grave escassez. Na África, por exemplo, apenas 3% da população é vacinada, diante de uma média de 60% na Europa e nos Estados Unidos. Dos 5,7 bilhões de injeções feitas até o momento, apenas 2% ocorreram na África. Continuando assim, prevê Airfinity, no próximo verão registraremos mais 100 milhões de casos da Covid no mundo, com um milhão de vítimas por causa da pandemia (hoje estamos em 228 milhões de casos e 4,7 milhões de mortos).
Para matar dois coelhos com uma cajadada só - acelerar a distribuição da vacina e avançar a imunização daquela parte do mundo que está muito, muito atrás - o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou na quarta-feira sua intenção de doar 500 milhões de doses. Sua meta é levar a taxa de vacinação para 70% em todo o mundo até setembro do próximo ano.
Os Estados Unidos não vão distribuir doses vencidas: a maioria dos frascos prometidos pelo chefe da Casa Branca ainda está em produção pela Pfizer. Custarão a Washington US $ 7 por dose, bem menos do que os US $ 20 pagos pelos países ricos, e deveriam partir para seus destinos (países de renda média ou baixa) em janeiro. Outros 500 milhões de doses, também produzidos pela Pfizer e pagas pelos Estados Unidos, estão em curso de distribuição desde junho. A cada injeção dada a um cidadão estadunidense, os Estados Unidos doaram três ao exterior, calcula hoje a Casa Branca, acusada de egoísmo por seu programa de estender a campanha de vacinação para a terceira dose, quando a maioria dos habitantes do resto do planeta ainda não teve nenhuma.
O problema também diz respeito à Europa. Os jornais britânicos divulgaram a notícia de que 800.000 doses do AstraZeneca expiraram em agosto e foram jogadas no lixo. A Grã-Bretanha e o Canadá, no início de setembro, deram à União Africana mais de um milhão de doses que expirarão em parte no final do mês, em parte no final de outubro. A Itália praticamente excluiu a AstraZeneca de sua campanha de vacinação (restam algumas doses para reforços). Desde 4 de julho não recebe mais entregas da vacina desenvolvida em Oxford e o ministério do Exterior já fez doações de cerca de 100 milhões de doses cada para Tunísia, Irã e Iraque. Espera chegar a 15 milhões, incluindo Iêmen, Líbano e outros países em grande dificuldade.
Existem nações, como a Grã-Bretanha, que usam a técnica da troca para se desfazer de estoques não utilizados: entregam as doses aos países que precisam delas (principalmente as nações ricas da Ásia) em troca da promessa de recebê-las daqui a alguns meses. Outra estratégia consiste em mudar a data de validade. Por exemplo, os Estados Unidos e o Canadá já o fizeram. De fato, a maioria das vacinas não Covid dura alguns anos. Com a pandemia, a pressa gerou cautela, levando a prever apenas 5 ou 6 meses, dependendo da marca das vacinas. Mas já em vários casos esse prazo foi estendido para 9 meses para evitar descartar lotes inteiros do que foi definido como o bem mais precioso do mundo.
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Cem milhões de vacinas com vencimento no final do ano. E Biden promete meio bilhão aos países pobres - Instituto Humanitas Unisinos - IHU