16 Setembro 2021
O “G20 das religiões” terminou em Bolonha. Durante três dias, a cidade acolheu uma densa agenda de encontros e mesas redondas onde se reuniram 370 líderes religiosos, parlamentares e ministros, cientistas e personalidades da cultura; 160 palestrantes de 70 países tomaram a palavra, animando 32 sessões de trabalho. A cerimônia de encerramento contou ainda com a presença do primeiro-ministro Mario Draghi que, em tempos de pós-pandemia, vai liderar o G20, o fórum internacional que reúne as principais economias do mundo. “O dever da política - disse dirigindo-se aos líderes religiosos - é a ação, precedida, orientada pelo estudo e pela reflexão. Nisto, vocês, autoridades religiosas, têm um papel fundamental. Despertem as sensibilidades adormecidas pela indiferença ou pelos cálculos de conveniência. Chamem a política para a ação coerente com a vossa mensagem".
A reportagem é de M. Chiara Biagioni, publicada por SIR, 14-09-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
A política responde assim aos líderes das religiões mundiais e lhes entrega uma tarefa "essencial". O primeiro-ministro Mario Draghi encerrou o Fórum Inter-religioso do G20 em Bolonha, que aconteceu este ano na véspera do G20 sob a presidência italiana e com o título "Hora de Curar - Paz entre as culturas, compreensão entre as religiões". Chegando para a sua conclusão, o primeiro-ministro Draghi expressou um verdadeiro tributo ao papel que as religiões têm na esfera pública. “Nos momentos mais trágicos da história recente - disse ele - vocês construíram pontes onde o terrorismo, a guerra e a indiferença ergueram barreiras. Vocês apelaram para o respeito às diferenças, pelo repúdio às discriminações. Defenderam com coragem os direitos das comunidades que são vítimas de perseguição. As propostas que apresentaram neste Fórum e que o G20 pretende examinar, reafirmam a profundidade do vosso empenho e a importância do conhecimento e da escuta, sem os quais não pode haver uma autêntica cultura da diversidade e o pleno reconhecimento dos valores que estão na base da nossa humanidade”.
“O oposto da pandemia, um mal universal, é a fraternidade universal”, disse o cardeal Matteo Zuppi, arcebispo de Bolonha. “As pandemias espalham-se e atingem com maior força se os muros são muitos e altos e as pontes poucas e frágeis”. Os eventos que abalam o noticiário internacional, os ataques a locais de culto e o aniversário dos atentados às Torres Gêmeas e ao Pentágono, demonstram que nunca devemos baixar a guarda. É preciso - diz Zuppi - “curar o mundo de toda semente, sempre fértil, de ignorância, de intolerância, velhos e novos racismos, escolhendo o caminho do encontro, da educação para combater o analfabetismo religioso”. O caminho - recorda o arcebispo - é aquele corajoso do Espírito de Assis, encontro profético organizado por São João Paulo II para combater juntos a pandemia da guerra e alcançar a paz. “Com humildade, mas com firmeza - disse o cardeal - queremos oferecer essas reflexões a quantos devem e podem decidir as soluções comuns em benefício de todos”. “Não queremos que a fraternidade seja, na melhor das hipóteses, uma expressão romântica, mas sim uma práxis de empenho comum”.
Durante três dias, coordenados pelo historiador Alberto Melloni, em Bolonha os líderes religiosos de todas as religiões, parlamentares e ministros de várias partes do mundo, estudiosos e cientistas de várias disciplinas discutiram as grandes questões da política internacional, do diálogo inter-religioso e intercultural, dos desafios sem precedentes que o mundo enfrenta hoje. Falou-se de terrorismo e paz, do Afeganistão e dos corredores humanitários, das vacinas e do desenvolvimento sustentável, dos empenhos que se aguardam da cúpula de Glasgow sobre o clima, a COP26.
O Patriarca Ecumênico de Constantinopla Bartolomeu I tomou a palavra sobre os temas ambientais e lançou um apelo aos líderes mundiais para que não hesitem em agir para salvar o planeta. Surgiram também propostas e indicações. Por exemplo, numa mesa redonda foi proposto “o apelo ao legislador nacional para retirar da Constituição o conceito de raça” e “deletar” a palavra “raça” do léxico das instituições, mesmo quando “é utilizada com as melhores intenções". Também foi interessante o que disse Bernard Spitz, presidente de Assuntos Europeus e Internacionais da Medef, a associação de empresários franceses, que lançou a ideia de "uma nova Bretton Woods do século XXI para enfrentar os problemas reais do nosso tempo".
Em Bolonha, falou-se também do Mediterrâneo, fronteira de paz com uma mesa redonda organizada em colaboração com a Conferência Episcopal italiana. Depois do encontro em Bari, em fevereiro de 2020, a CEI está convocando de novo na Itália, na cidade de Florença, os responsáveis das Igrejas que se localizam nas costas da bacia do Mediterrâneo. “Hoje - disse o cardeal Gualtiero Bassetti - estamos em um ponto da história da humanidade em que não podemos mais permitir que se afirmem aquelas dinâmicas que nos tornam estrangeiros uns aos outros, porque os desafios que temos pela frente precisam ser enfrentados juntos e não com um lado em detrimento do outro". “O Mediterrâneo - acrescentou - já não é mais apenas uma bacia marítima que banha três continentes, muitas vezes em conflito entre si”, mas “um ângulo visual fundamental do qual olhar para o mundo inteiro”. Um lugar onde se encontram as três grandes tradições religiosas, mas também uma bacia de trocas comerciais e, infelizmente, "um mar dramaticamente atravessado por um grande fluxo de migrantes - homens, mulheres e crianças - que vêm do Norte da África, da África Subsaariana, Chifre de África e do Oriente Médio”. “Deste ponto de vista, infelizmente - resume Bassetti -, o Mediterrâneo é uma espécie de caleidoscópio em que se concentram as crises mundiais. É necessário inverter o curso. É absolutamente necessário mudar a marcha. Com coragem, caridade e responsabilidade!”.
O cardeal Giuseppe Betori, arcebispo de Florença, ecoou suas palavras. “É necessário transformar o Mediterrâneo de um 'fosso', que divide os povos e as culturas, em um grande lago em torno do qual as civilizações florescem e se encontram”. E a Itália tem um papel essencial que pode e deve desempenhar: “neste mar - disse o cardeal - a Itália é lançada 'como uma ponte': daí o papel de mediação, de terreno de encontro entre o Norte e o Sul do mundo, entre o Oriente e o Ocidente, que cabe ao país e que para Florença, cidade de beleza e de diálogo, representa uma missão particularmente sentida”.
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G20 das religiões aos líderes mundiais: “O antídoto para as pandemias é a fraternidade universal” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU