08 Setembro 2021
O documento preparatório e o Vade-mécum para a fase de escuta e diálogo com o povo de Deus que cada diocese iniciará no dia 17 de outubro, foram apresentados na Sala de Imprensa do Vaticano. Cardeal Grech: “O sucesso do Sínodo dependerá da fase de consulta”. O voto das mulheres: "Não é o que importa, mas se o Sínodo envolverá a todos". Irmã Becquart: “A Igreja quer ser renovada”
A reportagem é de Salvatore Cernuzio, publicada por Vatican News, 07-09-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
“Um Sínodo não é um parlamento. Um processo sinodal não é um jogo de partidos no qual quem tem mais força condiciona e subjuga o outro”. O cardeal Mario Grech, secretário-geral do Sínodo, esclarece de imediato a perspectiva com a qual olhar para o caminho sinodal que desde sua abertura, nos próximos 9 e 10 de outubro, levará à assembleia dos bispos do mundo no Vaticano em 2023. Um caminho dividido em etapas, com duração de três anos, por decisão do Papa, que quis favorecer a sinodalidade - tema do Sínodo - envolvendo os fiéis em primeira pessoa numa fase de consulta que será iniciada por cada bispo em cada diocese no domingo, 17 de outubro, com uma celebração na catedral.
E é precisamente a fase de consulta que é a etapa fundamental desse percurso marcado por diálogos e questionários, reflexões e contribuições ad intra e ad extra: “O sucesso do Sínodo dependerá do sucesso da consulta”, explica Grech ao Vatican News, à margem da conferência na Sala de Imprensa do Vaticano para a apresentação do documento preparatório e do Vade-mécum. “O meu apelo é aos bispos e às Igrejas particulares que organizem bem tudo e deem espaço para ouvir a todos. Talvez este Sínodo ajude a Igreja a se entender melhor como Igreja sinodal...”.
Mas, acima de tudo, “o Sínodo terá sucesso ou fracassará na medida em que confiarmos no Espírito Santo, a quem confiaremos nossas escolhas e nossos processos”, disse o Cardeal Grech na conferência, recordando a dimensão espiritual que espera possa permear todo o processo. “Sem o Espírito, mesmo esta fase de consulta acabaria por se reduzir a uma sondagem de opinião, prendendo o sensus fidei dentro dos mecanismos da opinião pública”.
É nesta perspectiva, acrescentou o purpurado, que devemos olhar também para as questões que, já presentes nos Sínodos anteriores e ainda agora, geram discussões, em primeiro lugar, o direito de voto das mulheres na assembleia. Este é um tema levantado por vários jornalistas da Sala de Imprensa do Vaticano. No momento, esta questão não diz respeito à fase de consulta, mas à assembleia geral que será celebrada no Vaticano e que "é uma expressão do Sínodo, mas não a única", como esclareceu monsenhor Luis Marín de San Martín, subsecretário do Sínodo dos Bispos.
“Essa atenção ao voto - respondeu o Cardeal Grech - não me deixa sereno porque não é o voto que conta, mas se o Sínodo será um processo que envolve todo o povo de Deus, que deve convergir para um consenso, discernir junto para, possivelmente, chegar a essa harmonia. O Espírito Santo é harmonia e pode nos ajudar a chegar a esse consenso. Talvez um dia cheguemos a uma solução e possamos prescindir do voto”. Grech também acrescentou que no Sínodo que terá início em 10 de outubro em igrejas locais ("que já é o Sínodo, não uma preparação") "todos podem e devem participar, homens e mulheres, todo o povo de Deus ... Todos têm o espaço para contribuir para este nível de discernimento."
No tema das mulheres, perguntou-se a opinião das duas representantes femininas na mesa dos oradores. Em primeiro lugar, Ir. Nathalie Becquart, subsecretária do Sínodo, que a partir de sua experiência expressou a esperança de que as mulheres - “que fazem parte do sensus fidei e do povo de Deus" - "possam ser ouvidas e possam ser protagonistas do processo sinodal". “Penso realmente que é um ponto importante envolver e ouvir as mulheres”, insistiu a religiosa, reiterando a mensagem de que “todos são bem-vindos” no Sínodo. “Estamos reaprendendo a sinodalidade, e sinodalidade é um aprender fazendo”, acrescentou. “O Sínodo é um processo sem precedentes, mostra que a Igreja quer se renovar, visto que os Sínodos anteriores não tiveram esse tipo de fase diocesana”.
Por sua vez, Myriam Wijlens, Professora de Direito Canônico da Universidade de Erfurt (Alemanha), enviou um encorajamento a todas as mulheres a "falarem com coragem" e "se apresentarem com suas esperanças, medos e dores e compartilhar o que têm para compartilhar”. Certamente existem culturas "muito diferentes entre si", onde o papel das mulheres também é diferente, mas, disse a professora, com o Sínodo sobre a sinodalidade "estamos abrindo uma porta". E estamos abrindo para "todos".
Neste “todos”, incluem-se também os que hoje estão excluídos ou que estão à margem. Estas pessoas terão de encontrar no Sínodo uma oportunidade para se expressarem, como repetido várias vezes no Documento Preparatório. “A Igreja não é só aqueles que frequentam a Igreja, quem ocupam os primeiros assentos - explicou Grech aos nossos microfones. A Igreja, como uma mãe, inclui todos, mesmo aqueles que não praticam, mesmo aqueles que deixaram a 'instituição'. Este é um chamamento ... Este Sínodo é um convite a nos reunirmos e juntos tentarmos ouvir o que o Espírito Santo está dizendo. E o Espírito Santo não faz distinções, pode comunicar a todos”.
Para Monsenhor Marín, trata-se de criar uma “unidade pluriforme”, expressão que subverte qualquer lógica de “uniformidade” e dinâmica de maiorias e minorias, mas que evoque a variedade dos carismas, das vozes, dos pensamentos. “O Sínodo mostra a vitalidade e o dinamismo de uma Igreja inclusiva, participativa e orientada para a evangelização”, destacou o prelado espanhol, recordando as palavras de João XXIII: “A Igreja não é um museu de arqueologia”. O documento preparatório e o Vade-mécum querem ser um suporte para a construção deste caminho: “Não condicionam, não são uma imposição, mas ajudam e deixam em aberto a possibilidade de serem interpretados à luz das várias situações diocesanas”. E precisamente "para fazer emergir as diversidades" das realidades que vive a Igreja nos cinco continentes, que foi introduzida neste Sínodo uma nova etapa que são os encontros sinodais continentais: serão sete e cada uma produzirá um documento final útil para compor o Instrumentum laboris da assembleia dos bispos.
Dom Dario Vitali, professor de Teologia da Pontifícia Universidade Gregoriana, também falou sobre a natureza dos documentos publicados hoje, e definiu os dois textos como “o prego sobre o qual se pendura todo o quadro”. Neles encontramos o cenário em que se realizará o trabalho do caminho sinodal: “O documento não aborda todos os temas e não resolve os problemas. É um mapa conceitual, que permite compreender os desafios que a XVI Assembleia Geral do Sínodo coloca em campo”. De parte de Vitali também uma reflexão sobre a “sinodalidade constitutiva”: “O que esperamos do Espírito é que nos tornemos Igreja sinodal, que alcancemos este fim, que é novo, mas sempre antigo, porque aquela dimensão sinodal é uma dimensão constitutiva do Igreja, como a hierárquica".
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“O Sínodo não pode ser uma sondagem de opinião. Mais protagonismo para as mulheres” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU