08 Fevereiro 2021
Entrevista com o secretário geral do Sínodo dos Bispos sobre a nomeação de dois novos subsecretários que o acompanharão no trabalho por uma Igreja cada vez mais sinodal, como deseja o Papa Francisco.
Um passo de grande importância para fortalecer a Secretaria do Sínodo e dar um novo impulso ao compromisso com uma Igreja sinodal e missionária. Assim, o cardeal Mario Grech comenta à mídia vaticana a nomeação, anunciada este sábado (06/02), de dois subsecretários para a Secretaria do Sínodo dos Bispos. O purpurado maltês se detém particularmente sobre a nomeação da Irmã Nathalie Becquart, primeira mulher a receber este encargo, e sobre as perspectivas que esta nomeação abre para o papel da mulher na vida da Igreja.
A entrevista é de Alessandro Gisotti, publicada por Vatican News, 07-02-2021.
Cardeal Grech, este sábado foram anunciadas as nomeações dos dois subsecretários da Secretaria do Sínodo dos Bispos. A nomeação da Irmã Nathalie Becquart se destaca em particular. Pela primeira vez, uma mulher assumiu este encargo. Que significado tem esta escolha no caminho sinodal, tão caro ao Papa Francisco?
O Papa Francisco nos lembrou várias vezes que uma Igreja sinodal é uma Igreja caracterizada pela escuta: pela escuta mútua na qual todos - fiéis, bispos e o bispo de Roma - aprendem uns com os outros; e sobretudo por uma escuta todos juntos do Espírito Santo.
A nomeação da Irmã Nathalie Becquart como subsecretária nos ajuda a lembrar de forma concreta que nos caminhos sinodais a voz do Povo de Deus tem um lugar específico e que é fundamental encontrar formas de incentivar neles uma participação efetiva de todos os batizados.
Esta perspectiva tem caracterizado a maneira como o Papa Francisco interpretou o Sínodo ao longo de seu Pontificado. Vimos isso no Sínodo sobre os jovens e depois no Sínodo sobre a Amazônia: a escuta e a participação dos jovens e dos povos indígenas tiveram um impacto crucial em sua preparação e realização.
Como subsecretária, a Irmã Nathalie terá o direito de votar no próximo Sínodo, centrado na Igreja Sinodal. A questão do voto das mulheres no Sínodo tem tido um grande relevo nos últimos encontros sinodais. Esta nomeação representa uma abertura também sobre a possibilidade de outras mulheres terem o direito de voto no Sínodo?
Nos último Sínodos, numerosos padres sinodais enfatizaram a necessidade de que toda a Igreja reflita sobre o lugar e os papéis das mulheres dentro dela. O Papa Francisco também tem, em várias ocasiões, enfatizado a importância de as mulheres estarem mais envolvidas nos processos eclesiais de discernimento e tomada de decisões; e já nos últimos Sínodos o número de mulheres participantes como especialistas ou auditoras tem aumentado. Com a nomeação da Irmã Nathalie Becquart e sua possibilidade de participar com direito a voto, abriu-se uma porta, veremos que outros passos podem ser dados no futuro.
Outra novidade: pela primeira vez, a Secretaria do Sínodo terá dois subsecretários. Que contribuição específica trará o subsecretário, padre Luis Marín de San Martín, que vem de uma grande tradição espiritual como a dos agostinianos?
O padre Luis Marín de San Martín tem muita experiência no acompanhamento de processos de tomada de decisões comunitárias e seu conhecimento do Concílio Vaticano II será precioso, tendo em mente as raízes do caminho sinodal. Além disso, o fato de ambos os subsecretários do Sínodo dos Bispos serem religiosos, cada um crescido em uma espiritualidade específica, diz a importância de que a Igreja sinodal também leve em conta os diferentes carismas presentes na Igreja.
Essas nomeações também são acompanhadas por uma nova forma de trabalho do Sínodo? Podemos esperar alguma ulterior novidade na estrutura da Secretaria Geral?
Sem dúvida. Estas nomeações sublinham a importância de que o caminho de uma Igreja sinodal seja acompanhado por uma equipe que trabalhe em conjunto: a estrutura e a forma de trabalho da Secretaria Geral devem ser elas mesmas sinodais! Este trabalho em equipe permite que os leigos participem mais nas dinâmicas da responsabilidade.
Desta forma, gostaria que nós três e todo o pessoal da Secretaria do Sínodo trabalhássemos com espírito de colaboração e experimentássemos um novo estilo de liderança "sinodal", uma liderança no serviço menos clerical e hierárquica, que permita a participação e corresponsabilidade sem ao mesmo tempo abdicar das responsabilidades que lhes foram confiadas. Também neste caso, procuramos seguir o exemplo do Papa Francisco.
Nos últimos dias, o Papa encorajou a Igreja italiana a iniciar um processo sinodal. Outras Igrejas iniciaram ou estão iniciando processos sinodais. Como avalia esta renovada disponibilidade das Igrejas locais a assumir um "estilo sinodal"?
O Papa Francisco ressaltou que "a sinodalidade é o caminho que Deus espera da Igreja do terceiro milênio"; e tem insistido no vínculo entre a sinodalidade e a missão de evangelização. A situação pandêmica tem destacado ainda mais o quanto é importante, como Igreja e como sociedade, "caminhar juntos" e assumir responsavelmente os laços que nos unem uns aos outros.
Além disso, o anúncio do próximo Sínodo sobre a sinodalidade já está fecundado pelas dinâmicas sinodais que estão ocorrendo nas Igrejas locais, embora em contextos diferentes e com modalidades diferentes; se a Igreja italiana se mover nessa direção, ela também poderá enriquecer a reflexão da Igreja universal. Como Secretariado Geral do Sínodo, seguimos com interesse todos esses diferentes processos sinodais em andamento e estamos dispostos a nos colocar a serviço deles. São ocasiões para buscar juntos como promover e desenvolver aquele "estilo sinodal" que está nos desejos do Papa Francisco e ao qual aspiram muitos fiéis no mundo inteiro.
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Grech: reforça-se o compromisso com uma Igreja cada vez mais sinodal - Instituto Humanitas Unisinos - IHU