30 Agosto 2021
“Acompanho a situação no Afeganistão com grande preocupação e partilho a dor de quem está de luto, por quem perdeu a vida nos atentados da quinta-feira passada e por quem procura ajuda e proteção. Peço a misericórdia de Deus a todos os mortos, e agradeço aos que ajudam a população, posta à prova, especialmente, mulheres e crianças". Francisco quis fazer uma recordação especial ao drama que se vive no país depois da retirada do exército estadunidense e a tomada do poder por parte dos talibãs, depois da oração do Angelus.
A reportagem é de Jesús Bastante, publicada por Religión Digital 29-08-2021.
“Rezo para que o diálogo e a sociedade conduzam a uma convivência pacífica e fraterna. Que Deus dê esperança ao futuro do Afeganistão", clamou Francisco, que recordou que "em momentos históricos como este não podemos permanecer indiferentes, a história da Igreja nos ensina isso".
"Como cristãos esta situação compromete-nos", disse, chamando "a todos para intensificar a oração e praticar o jejum, oração e penitência. É o momento para fazê-lo. Estou falando seriamente. Intensificar a oração e praticar o jejum, pedindo ao Senhor misericórdia e perdão".
Um bebê sendo entregue a um soldado estadunidense no aeroporto de Cabul. Foto: Reprodução Religión Digital
"Não percamos tempo contaminando o mundo com queixas, porque isso não é cristão". No último Angelus de agosto, o Papa Francisco demonstrou que, além dos rumores sobre supostas doenças ou hipotéticas renúncias, está disposto a seguir trabalhando positivo e propositivamente. Sem tirar a culpa dos rígidos, como os escribas e fariseus do Evangelho do último domingo, cujo relato provocou as reflexões desde a sacada da Praça São Pedro.
Uma praça que já recupera o ambiente do período pré-pandemico, um ano e meio depois. Em sua alocução, Bergoglio discorreu sobre o "escândalo" das práticas supostamente contrárias à religião que, aos olhos dos guardiões das leis, Jesus fazia.
"Por que Jesus e seus discípulos não se preocupavam com estas tradições?", perguntou o Papa. "Ao fim e ao cabo, não são coisas más, mas bons hábitos ritualísticos, simples abluções antes de comer. Por que Jesus não dá atenção? Porque para ele é importante levar novamente a fé ao centro. E evitar um perigo, que vale tanto para esses escribas como para nós: o de observar as formalidades externas, colocando o coração da fé em segundo plano".
É “o risco de uma religiosidade da aparência”, muito comum em nossos dias, e que consiste, segundo o Papa, em “mostrar-se bem por fora, negligenciando a purificação do coração”. “Sempre há a tentação de 'agradar a Deus' com alguma devoção externa, mas Jesus não se contenta com este culto. Ele não quer exterioridade, quer uma fé que chegue ao coração”.
“Jesus inverte a perspectiva: não prejudica o que vem de fora, mas o que vem de dentro”, explicou Francisco. Essa é a revolução do mestre de Nazaré. "Isso também nos preocupa", sublinhou Bergoglio. “Muitas vezes pensamos que o mal vem principalmente de fora: do comportamento dos outros, daqueles que pensam mal de nós, da sociedade. Quantas vezes culpamos os outros, a sociedade, o mundo, por tudo o que nos acontece! É sempre culpa dos “outros”: do povo, dos governantes, do azar”.
Além disso: “parece que os problemas sempre vêm de fora. E nós gastamos tempo distribuindo culpas; mas gastar tempo culpando os outros é uma perda de tempo. Você fica com raiva, fica amargo e mantém Deus fora do seu coração. Como aquelas pessoas do Evangelho, que reclama, escandaliza, discute e não acolhe Jesus”.
Essa prática não é cristã. "Você não pode ser verdadeiramente religioso ao reclamar: raiva, ressentimento e tristeza fecham as portas para Deus". Por isso, o Papa pediu “ao Senhor que nos livre de culpar os outros. Peçamos na oração a graça de não perder tempo poluindo o mundo com queixas, porque isso não é cristão”.
“Jesus convida-nos para olharmos a vida e o mundo com nossos corações. Se olharmos para dentro, encontraremos quase tudo que odiamos fora. E se pedirmos sinceramente a Deus que purifique nossos corações, começaremos a tornar o mundo mais limpo. Porque existe uma forma infalível de vencer o mal: comece a vencê-lo dentro de si”, explicou, pedindo a Nossa Senhora que nos ajudasse a “superar o vício de culpar os outros e reclamar de tudo”.
Depois do apelo ao Afeganistão, o Papa também quis lembrar as vítimas das enchentes em Mérida (Venezuela).
“O grito da terra e dos pobres cresce de forma alarmante. Vamos transformar esta crise em uma oportunidade”, concluiu, saudando os representantes do Movimento Laudato Si'.
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“Que Deus dê esperança ao futuro do Afeganistão, não podemos ficar indiferentes”, afirma o Papa Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU