25 Junho 2021
A ONG Transport & Environment – que faz um notável trabalho de estudo e elaboração de propostas sobre as questões de mobilidade sustentável – publicou recentemente uma nota sobre a pegada de carbono delirante da chamada aviação executiva.
A reportagem é de Antoine de Ravignan, publicada por Alternatives Économiques, 18-06-2021. A tradução é de André Langer.
E esvaziou alguns balões que dão de bandeja os gestores de comunicações a serviço desses super-ricos, franceses e britânicos no topo na Europa, que se deslocam em Falcon 2000, Cessna Citation e outros jatos particulares de luxo.
Esses empresários não poderiam usar as linhas regulares – avião para as distâncias mais longas e trem para as mais curtas –, porque lhes fariam perder um tempo precioso. Ainda mais, ao que parece, porque algumas rotas têm pouco ou nenhum serviço das principais companhias aéreas. Na verdade, é complicado encontrar um voo da Air France quando você tem uma sede localizada em La Roche-sur-Yon e precisa assinar um contrato em Charleville-Mézières.
Uma pegada de carbono delirante, de fato. Esses jatos de baixa capacidade (cerca de dez pessoas) são o meio de transporte mais poluente do mundo. De acordo com a Transport & Environment, eles emitem em média dez vezes mais CO2 por passageiro e por quilômetro voado do que um avião comercial.
Essa diferença pode ser ainda maior dependendo do modelo. Um Falcon 2000 (Dassault) deixa um rastro no céu de 1.600 g de CO2 por passageiro/quilômetro, em comparação com 120 g de um Airbus A320. Em uma hora de voo, um jato particular pode emitir 2 toneladas de CO2, tanto quanto um europeu médio emite em três meses.
Estamos de acordo em que a chamada aviação “executiva” representa apenas uma pequena fração das emissões do setor aéreo, em torno de 2%. Mas não temos todos nossa “parte de beija-flor” para reduzir nossas emissões de gases de efeito estufa a zero? E quando se é um pássaro grande e com penas, o esforço realmente não significa muito, especialmente se comparado a quem tem apenas pele sobre os ossos.
São empresas muito ricas que pagam esses voos a seus líderes, que devem ser muito ricos se acontecer de pagar por eles do próprio bolso. Quando você compra tempo de voo privado de empresas, custa pelo menos 5.000 euros a hora. Se você comprar um jato (50 milhões de euros por um avião que pode voar de Paris a São Francisco, mais uma enorme taxa de custo anual), você tem que ser bilionário.
Todo este belo mundo lamenta sinceramente encher o planeta de fumaça, mas garante que é fundamental para a condução dos negócios. Economizar tempo é economizar dinheiro, certo? E esse tempo economizado não é dinheiro economizado para a empresa e, portanto, para os trabalhadores? Este argumento é nebuloso. Em grande medida, os super-ricos viajam em jato particular para seu local de férias ou para um destino turístico.
Na França, campeã europeia em número de voos executivos, as ligações Paris (Le Bourget)–Nice predominam e explodem no verão. No plano europeu, Paris e a Côte d’Azur também são os principais destinos. Alguns aeroportos de negócios onde o tráfego é zero em janeiro estão particularmente ativos em julho: Cannes-Mandelieu, Ibiza, Olbia Costa Smeralda, Palma de Mallorca...
Quanto às verdadeiras viagens de negócios, o argumento do tempo ou da falta de alternativas é bastante enganoso. Em voos de longa distância, um voo Paris–Nova York por exemplo, é melhor fazer um longo voo comercial: os jatos particulares têm uma velocidade de cruzeiro menor do que os Airbus e outros Boeing. Quanto aos voos de curta distância (menos de 500 km), existem na maioria dos casos alternativas ferroviárias (com wi-fi a bordo e possibilidade de trabalhar) com menos de três horas de diferença.
Porque, é claro, viajamos mais entre Londres, Paris e Zurique do que entre La Roche-sur-Yon e Charleville-Mézières. Embora o voo de curta distância seja a forma mais poluente de voar (que consome muito nas fases de descolagem e aterrissagem), é neste nicho que se situa a maior parte da aviação executiva, que se concentra na Europa em três países: França e Reino Unido, seguidos de longe pela Itália.
Este setor está crescendo. E sua contribuição para a destruição do planeta também. Enquanto as emissões de CO2 da aviação comercial europeia aumentaram 25% entre 2005 e 2019, as da aviação executiva aumentaram ainda mais rápido, 31%.
A Transport & Environment também observa que o tráfego de jatos particulares cresceu durante a pandemia, assim que eles tiveram a oportunidade de decolar. Porque os ricos, que procuram evitar as massas, fizeram-no ainda mais nos tempos de Covid por medo de serem infectados.
Este último detalhe é em si um resumo do curso atual do mundo: os ricos, que proporcionalmente mais contribuem para a destruição do planeta, são também aqueles que têm mais meios para se proteger dela.
E embora tivessem os meios para agir de outra maneira ou, na sua falta, para aplicar o princípio do poluidor-pagador, não o querem. Na França, já os ouvimos aplaudir quando a Convenção Cidadã para o Clima apelou para uma eco-contribuição sobre os voos aéreos, com um aumento reforçado para os jatos particulares?
Em relação a esta última questão, o pedido foi, no entanto, muito modesto: 360 euros para um voo de menos de 2.000 km, quando os suíços já cobram uma taxa mínima de 3.000 euros por voo. E os ricos não aplaudindo, a maioria dos parlamentares não se viu encorajada a seguir em frente.
Como muitas outras, esta proposta cidadã não foi incluída no projeto de lei sobre o combate às mudanças climáticas. Não apenas o querosene queimado por esses aparelhos não foi sobretaxado, como continua subestimado em comparação com a gasolina ou o diesel que o Senhor e a Senhora Todo Mundo colocam em seus carros quando vão de férias. Se vão de férias.
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Jatos particulares: os super-ricos são superpoluidores - Instituto Humanitas Unisinos - IHU