24 Março 2021
No Dia Mundial da Água (22/03), a Fundação SOS Mata Atlântica chama a atenção para a condição ambiental dos rios monitorados durante o ciclo hidrológico de março de 2020 a fevereiro de 2021 que coincide com o primeiro ano da pandemia do novo coronavírus. Com o relatório “Retrato da Qualidade da Água nas Bacias Hidrográficas da Mata Atlântica”, disponível aqui, a ONG apresenta um panorama sobre a qualidade da água de 130 pontos de monitoramento, distribuídos em 77 trechos de rios e corpos d’água brasileiros, em 64 municípios, nos 17 estados do bioma Mata Atlântica.
A reportagem é publicada por Fundação SOS Mata Atlântica, 22-03-2021.
Ao analisar os dados, os especialistas da Fundação destacam a tendência de melhoria na qualidade ambiental de rios e córregos urbanos ao longo de 2020 por conta de avanços nos índices de coleta e tratamento de esgoto e do isolamento social que resultou na redução de fontes difusas de poluição, como lixo e material particulado proveniente da fuligem de veículos automotivos. Porém, a melhoria aferida, de forma pontual, só se tornará perene se for acompanhada de investimentos contínuos em saneamento ambiental e proteção de matas nativas e áreas verdes. Como foi observado nos rios analisados que melhoraram sua situação. a equipe técnica da organização ainda destaca que a pressão sobre o uso doméstico da água, durante a pandemia, resultou no comprometimento da qualidade da água de rios em regiões impactadas , no mesmo período, por secas e diminuição das vazões.
No total dos 130 pontos monitorados neste ciclo de 2020 a 2021, 95 deles (73,1%) apresentaram qualidade da água regular, 22 (16,9%) ruim e 13 (10%) estão em boa condição. O levantamento não identificou corpos d’água com qualidade de água ótima ou péssima.
Qualidade da água em 130 pontos monitorados
(Gráfico: Fundação SOS Mata Atlântica)
Considerados os 95 pontos fixos de monitoramento, em que é possível fazer um comparativo com o período anterior (2019-2020) aqueles que também foram analisados entre 2020 e 2021, os indicadores aferidos apontaram variações expressivas em 20 pontos. A condição da qualidade da água melhorou em 10 pontos e manteve estabilidade nos indicadores, mesmo com variações climáticas intensas nos períodos de seca e chuva, em 75 pontos que continuam com as mesmas condições do levantamento anterior, inclusive com destaque para quatro pontos bons. No comparativo, também não foram encontrados pontos com condição ótima ou péssima.
“A gente já fala há muitos anos que a situação de um rio é o espelho do comportamento da sociedade. O processo de degradação de um corpo d’água, por lançamento de esgotos sem tratamento ou desmatamento de suas margens é rápido, mas, a recuperação pode demandar muitos anos. Por isso, os indicadores e dados mudam pouco, mas os rios têm, em geral boa capacidade de se recuperar, desde que não fiquemos parados. É preciso agir agora, mudar a nossa forma de gestão e governança e como consumimos a água”, afirma Gustavo Veronesi, coordenador do projeto Observando os Rios da Fundação SOS Mata Atlântica.
As altas temperaturas registradas em alguns rios neste ciclo de monitoramento , em alguns casos chegando a 30ºC ou mais, trouxe um alerta sobre os impactos das mudanças do clima sobre a qualidade da água. Altas temperaturas reduzem o oxigênio presente na água e, consequentemente, afetam a vida e a qualidade. Em condições normais, as médias consideradas adequadas para os rios das bacias monitoradas, deveriam ser de temperaturas na faixa de 18 e 23ºC. A existência de áreas verdes e matas nativas nas margens dos rios, fazendo sombreamento a ele, pode minimizar o aumento da temperatura.
Os indicadores de qualidade da água reunidos no estudo foram obtidos graças ao trabalho voluntário de 3.000 pessoas que integram 256 grupos de monitoramento do projeto Observando os Rios, patrocinado pela Ypê e com apoio da Sompo Seguros. Os grupos de voluntários coletaram e analisaram a qualidade da água, mensalmente ao longo do ciclo de 12 meses, com acompanhamento e supervisão técnica da Fundação SOS Mata Atlântica.
“É necessário atenção especial das autoridades e da sociedade para a qualidade da água e proteção dos grandes rios da Mata Atlântica, para segurança hídrica. Com ênfase para a necessidade urgente de ações voltadas às populações que vivem em situação de vulnerabilidade social e econômica, principalmente, aqueles desprovidos de acesso ao saneamento básico e os que perderam moradia e passaram a viver nas ruas das cidades e em beira de rios ao longo da pandemia. Os indicadores levantados também reforçam que em áreas rurais há a necessidade de fiscalização e controle contra o uso intensivo de agrotóxicos e fertilizantes.”, afirma Malu Ribeiro, diretora de Políticas Públicas da Fundação SOS Mata Atlântica.
“Cuidar da qualidade e do acesso à água é dever de todos nós. Sabemos da importância da água para o ecossistema em que vivemos, além de ser um insumo central na produção e utilização de nossos produtos. Temos consciência de nossas responsabilidades sociais e ambientais, por isso apoiamos iniciativas como o projeto Observando os Rios, que monitora e zela por esse recurso tão essencial para todos nós”, afirma Waldir Beira Júnior, presidente da Ypê.
Dos dez pontos que melhoraram de condição alcançando o índice de qualidade de água boa cinco estão próximos de áreas protegidas, ou com mata nativa. Entre eles estão os rios Pratagy, em Alagoas, Biriricas, no Espírito Santo, o Córrego Bonito, na cidade de mesmo nome, no Mato Grosso do Sul. E pontos dos rios Tietê e Jundiaí, em São Paulo, que alcançaram o índice de qualidade boa.
“O ponto do Tietê é na cidade de Salesópolis, onde fica sua nascente, e o rio Jundiaí, no município de Salto. Os outros pontos com melhoria foram encontrados nos estados de Pernambuco, Sergipe e outros três em São Paulo. Estes últimos saíram de ruim para regular”, afirma Gustavo Veronesi, coordenador do projeto Observando os Rios.
No caso do rio Tietê, dos 14 pontos de monitoramento fixos, quatro apresentaram melhora. Além do ponto já citado na cidade de Salesópolis, o rio saiu da condição ruim para regular nas cidades de Itu, Salto e Santana de Parnaíba.
Valores não consideram a mudança de cada ponto,
mas sim a distribuição deles em cada indicador (Gráfico: Fundação SOS Mata Atlântica)
“O rio Tietê, sempre destacado em razão das altas cargas de poluição que recebe apresentou apenas um ponto com piora no índice de qualidade da água, na média dos 12 meses de análises. Esse ponto localizado no município de Itaquaquecetuba, na região metropolitana de São Paulo vem sofrendo com o aumento acelerado de ocupações irregulares entre as cidades de Mogi das Cruzes e Suzano, em área de risco para as populações. Conseguir que um grande rio como o Tietê, apresente esses indicadores, pode parecer pouco, mas, reforça a importância de investir de forma continua em saneamento básico", reforça Malu Ribeiro.
Entre aqueles que pioraram de situação, destaque para oito pontos que passaram da condição regular para ruim. Eles ficam nos estados da Bahia, Ceará, Pernambuco (dois pontos), Rio Grande do Sul (dois pontos) e São Paulo (dois pontos).
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Comportamento da sociedade durante a pandemia teve pouco impacto na qualidade da água - Instituto Humanitas Unisinos - IHU