10 Março 2021
Uma blitz das forças especiais do Ministério do Interior da Líbia na “cidade dos fantasmas”. E um segundo golpe em 30 dias contra as milícias que administram, com traficantes subsaarianos, o mercado de seres humanos na Líbia nos centros “informais”.
A reportagem é de Paolo Lambruschi, publicada por Avvenire, 09-03-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Na madrugada do dia 5 de março, unidades da brigada de combate 444 da Rada, as forças anticrime, invadiram seis armazéns convertidos em prisões não oficiais em Bani Walid, prendendo torturadores líbios e africanos, e libertando 70 imigrantes somalis e etíopes. Entre os detidos, confirmam expoentes da oposição eritreia na Itália, estava o famigerado Hassan, que os refugiados que sobreviveram à duríssima prisão em Bani Walid descreveram como um torturador cruel e sádico desses campos de concentração.
Foto: Reprodução/Youtube/Channel 4 News
Um vídeo nas redes sociais mostra a invasão dos agentes e as prisões. De acordo com observadores em plena campanha eleitoral, o ministro do Interior, Fathi Bashaga, parece disposto a se apresentar aos europeus como um interlocutor confiável na candente questão do controle dos fluxos.
De fato, no dia 16 de fevereiro, as forças de segurança da Líbia haviam prendido seis traficantes que mantinham 156 migrantes, incluindo 15 mulheres e cinco crianças provenientes da Somália, Eritreia e Sudão, em uma prisão em Kufra, primeiro desembarque no deserto do Sudão.
Depois de tantos anos, nessa segunda-feira, ruiu o mito da impunidade da “cidade dos fantasmas”, assim chamada por muitos subsaarianos que ali perderam a vida. Bani Walid, 150 quilômetros a sudeste de Trípoli, é considerada um hub dos migrantes gerido diretamente pelos traficantes. Ponto de chegada das caravanas de migrantes provenientes do deserto, tanto da rota da África ocidental do Chade, quanto da rota oriental do Sudão, e com destino à costa, que se tornou o inferno para quem não tinha dinheiro para continuar.
Foto: Reprodução/Youtube/Channel 4 News
Os migrantes eram divididos em galpões-campos de concentração com base na nacionalidade e detidos em condições desumanas. As torturas, muitas vezes ao vivo por telefone com os parentes para extorquir resgates, eram tão habituais quanto as violências sexuais. Até sexta-feira, ninguém havia intervindo na cidade franca dos traficantes para acabar com os horrores conhecidos e documentados. Um vídeo divulgado nessa segunda-feira pelo Ministério do Interior da Líbia, de fato, mostra uma mulher espancada pelos carcereiros. Mas o Avvenire havia publicado fotos de prisioneiras e prisioneiros desse inferno pendurados no muro ou ameaçados com uma arma na cabeça ainda em 2018 e 2019, enquanto na Itália, por propaganda política, se discursava sobre “centros de bem-estar” líbios, ofendendo a memória das vítimas de atrocidades indescritíveis.
Por exemplo, há menos de três semanas, durante o processo em Addis Abeba, Kidane Zekarias Habtemariam, um supertraficante da Eritreia, escapou da prisão, talvez fugindo para o Sudão e ativo desde 2013 até o fim de 2019 também em Bani Walid. Onde, de acordo com testemunhas sobreviventes, ele estuprava as detentas e organizava torneios de futebol entre times de prisioneiros esquálidos que não podiam pagar os resgates, nos quais os perdedores eram mortos.
Foto: Reprodução/Youtube/Channel 4 News
Em Bani Walid, quem também torturava, estuprava e matava era o somali Osman Matammud, conhecido como Ismail, primeiro condenado à prisão perpétua, com uma sentença confirmada na Suprema Corte italiana, em outubro passado por crimes cometidos nos campos de concentração líbios. Suas vítimas fizeram com que ele fosse preso em Milão em 2016.
Elas também foram decisivas para a prisão, no Centro de Acolhida para Requerentes de Asilo de Isola Capo Rizzuto, ordenado pela procuradoria de Catania, de outro conhecido algoz que desembarcou na Itália, em Augusta, depois de ter sido salvo por uma ONG em fevereiro no mar. Sabir Abdallah Ahmed, sudanês, 26 anos, é acusado de associação criminosa com o objetivo de favorecer a imigração ilegal. Ele seria um dos cúmplices dos traficantes que usaram de violência para manter a ordem antes das partidas.
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Uma blitz nos campos de concentração da Líbia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU