11 Fevereiro 2021
A Companhia de Jesus tem investido por uma década em rigoroso treinamento a seus membros para evitar e conscientizar sobre o crime contra vulneráveis.
A reportagem é de Heloïse de Neuville, publicada por La Croix, 10-02-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
A Companhia de Jesus intensificou seus esforços nos últimos anos para treinar seus membros em todo o mundo na prevenção de abusos sexuais.
Os 400 ou mais jesuítas da província francófona, apenas, recentemente passaram por dois meses em formação comunitária sobre como identificar e combater coisas como pedofilia, abuso sexual e abuso de poder.
Entre setembro e dezembro, os padres da província, irmãs e seminaristas realizaram seu segundo programa de treinamento de conscientização nos últimos três anos.
E a mensagem era clara: a primeira e mais importante coisa que eles deveriam fazer é escutar o sofrimento das vítimas.
E então eles precisaram aprender a desmantelar, um a um, as dinâmicas que permitem que tais abusos ocorram.
O treinamento de conscientização iniciou com áudios de três pessoas que foram abusadas por membros da congregação.
Os jesuítas já estabeleceram uma linha direta em 2014 para encorajar as vítimas a denunciarem.
“Esse trabalho está rendendo frutos e nós absolutamente queremos compartilhar com nossos irmãos o que nós aprendemos com esses testemunhos”, explicou o padre Thierry Dobbelstein, vice-superior provincial.
A linha direta ajudou a identificar 41 jesuítas franceses acusados de abuso desde 1949. Entre eles, 38 já foram penalizados por abuso sexual.
“Nós percebemos que homens que queriam, como nós, seguir a Cristo através da espiritualidade de Santo Inácio tiveram vidas machucadas”, disse o padre Gregoire Le Bel, superior de uma das comunidades jesuítas da França.
“Obviamente, nós nos sentimos sujos e feridos por essas realidades. Mas elas nos encontra hoje para sermos mais cuidadosos em nossas práticas diárias”, admite.
“Para mim, haverá um antes e depois”, acrescentou o padre Claude Philippe, diretor da Maison Magis, um centro de orientação espiritual para jovens adultos em Paris.
“Para realmente entender a profundida do trauma causado, você precisa se sentar e escutar uma pessoa encontrar forças para falar. Sem isso, as feridas ficam abstratas para sempre”, destaca.
Ouvir o sofrimento de outra pessoa visa ajudar esses Jesuítas a compreenderem melhor a dinâmica que conduz ao abuso espiritual e sexual.
Também visa ajudá-los a ver que todos podem ser afetados pela dinâmica de influência, sejam eles testemunhas, perpetradores, vítimas ou confidentes.
O padre Stéphane Joulain, membro dos Missionários da África (Padres Brancos) e especialista no tratamento de pedófilos, detalhou a dinâmica do ponto de vista do agressor.
Isabelle Chartier-Siben, uma médica, então abordou a questão do abuso sexual e espiritual detalhando os danos causados às vítimas.
Essas questões são cruciais para os jesuítas, uma vez que se especializam em dar direção espiritual.
“Pode parecer trivial, mas após o treinamento, acrescentamos uma janela de vidro à nossa sala onde acontecem as confissões”, diz o padre Le Bel.
“Agora entendemos que devemos ser capazes de ver o que está acontecendo ali, porque nossas ações nunca devem ser questionadas”, observa.
As sessões de treinamento ocorreram nas comunidades e foram seguidas por discussões em pequenos grupos.
“Isso nos levou a nos questionar sobre nossas próprias jornadas, sobre os momentos em que devemos ter ainda mais cuidado”, diz o padre Le Bel.
Frequentemente, esses são assuntos delicados de tratar, visto que dizem respeito à vida afetiva dos membros da Companhia.
Temas como “amizades um pouco intensas, momentos em que devemos nos distanciar e confiar a pessoa que orientamos à outra pessoa”, nota o sacerdote.
Mas ele diz que está encantado, “a palavra está se espalhando” sobre esses assuntos delicados.
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Jesuítas franceses continuam os esforços para prevenir os abusos sexuais - Instituto Humanitas Unisinos - IHU