08 Fevereiro 2021
"O anúncio do Papa abre para a Igreja italiana e para a próxima presidência da CEI a possibilidade de voltar a se questionar sobre a comunhão no seguimento do Evangelho: fora dos alinhamentos, fora dos saudosismos, fora do simplismo que divide doutrina e pastoral", escreve Alberto Melloni, historiador italiano, professor da Universidade de Modena-Reggio Emilia e diretor da Fundação de Ciências Religiosas João XXIII, de Bolonha, em artigo publicado por Repubblica, 01-02-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Depois de seis anos, Francisco decidiu: a Igreja italiana “deve” (ele assim disse) ter seu sínodo. O primeiro evento conciliar em sua história nacional é uma passagem de época.
Porque "sínodo" não é o nome católico de um parlamento.
Não é um congresso em salas saturadas de incenso. E nem mesmo uma convenção pela miserável vaidade dos quadros eclesiais ou um episódio pretensioso dos "Estados Gerais" que estão na moda entre aqueles que não se lembram do que foram. É um ato de decisão conjunta litúrgica, portanto nome da igreja quando se manifesta pelo que deveria ser: miséria à espera da graça, silêncio que espera pela palavra, pó capaz de compaixão, "casta meretrix" coberta pelo olhar de Deus. Desde os tempos do Concílio de Trento, a península sempre se mostrou desconfiada em relação à sinodalidade, que não parecia útil na terra do "primaz da Itália". Até mesmo Carlo Borromeo teve problemas com seus próprios sínodos e concílios provinciais; Roma teve seu primeiro concílio provincial em 1725 e seu primeiro sínodo em 1960; a condenação papal das proposições “jansenistas” do Sínodo de Pistoia em 1786 teve um eco pedagógico.
De modo que nem mesmo depois do Vaticano II, apesar de ter celebrado muitos sínodos diocesanos, a Itália teve um sínodo nacional, como o alemão em Würzburg em 1973. Para a igreja italiana do pós-concílio eram concedidos "conferências eclesiais", que começaram em 1976 com "Evangelização e promoção humana". Acoplada a divisões políticas da época, aquela conferência foi retratada pelo Pe. Sorge, que dela participou, como um evento quase sinodal. Infelizmente não era verdade. Historicamente, de fato, foi exatamente o contrário. A progenitora de uma sequência que, em um ritmo quinquenal, atravessou sem gerar frutos a era dos presidentes da CEI - o esforço de Ballestrero, o efémero politicismo de Ruini, a decantação infinita de Bagnasco. Até à conferência de Florença de 2015: onde Francisco falou não para convocar um sínodo nacional, mas para estigmatizar com palavra incandescentes a igreja italiana, seus vícios espirituais, sua fé morna. A reação da CEI foi de indiferença constrangida e constrangedora. O Papa nunca perdoou ao episcopado italiano aquele descuido, do qual resultaram asperezas até o incidente de maio de 2019. A hipótese do sínodo italiano havia de fato reaparecido nos meses anteriores com artigos "inspirados" na revista Civiltà Cattolica, com um documento do Comissão Teológica Internacional, com artigos de bispos também publicados pelo L'Osservatore Romano de Andrea Monda. O próprio Francisco falou disso na assembleia geral da CEI em maio de 2019, evocando a necessidade de sinodalidade de cima e de baixo. E por algumas horas pareceu que o episcopado italiano estava pronto para se alinhar com o desejo bergogliano. Mas o papa não aceitou de bom grado uma concordância em que viu apenas conformismo e imaturidade: reagiu negando com uma nota oficial jamais ter "exigido" um sínodo e deixou claro seu furioso desapontamento diante de uma igreja "morta". E o sínodo, assim, continuou a balançar entre a pretensão do Papa de ver florescer a proposta a partir de baixo e aquela dos bispos de receber por escrito a licença para pensar e pensar sobre o sínodo. Depois disso vinte meses de vazio, no desastre pandêmico.
Finalmente, a decisão tomada no sábado por Francisco como primaz da Itália: “A Igreja italiana deve iniciar um processo de Sínodo nacional, comunidade por comunidade, diocese por diocese. Na Convenção de Florença existe precisamente a intuição do caminho a percorrer nesse Sínodo. Agora, é preciso retomá-lo: está na hora. E começar a caminhar”. Um corte firme que finalmente reconhece a natureza homeopática da sinodalidade, que assume a causa dos males da Igreja (os bispos, o clero, os quadros) e pede que se deixem transformar na cura. À agenda do futuro sínodo italiano, a crise do Covid acrescentou a dissolução da catequese, o desmoronamento da vida comunitária. Mas já era longa: começava com a crise qualitativa e quantitativa do clero no cuidado das almas, a depressão da teologia, a incapacidade (representado, mas não esgotado da Universidade Católica) para formar pessoas de princípios firmes e cabeças abertas, dramaticamente ressaltada pela quantidade de cabeças fechadas e costas encurvadas sobre umbigos e frases feitas. O novo caminho sinodal alemão, agora em andamento, acrescenta temores tanto àqueles que temem que aquele da Itália se torne o modelo de um severo disciplinamento romano, quanto àqueles que temem a conexão com instâncias maximalistas que crescem vigorosamente onde os problemas se escondem.
No entanto, o anúncio do Papa abre para a Igreja italiana e para a próxima presidência da CEI a possibilidade de voltar a se questionar sobre a comunhão no seguimento do Evangelho: fora dos alinhamentos, fora dos saudosismos, fora do simplismo que divide doutrina e pastoral, com a simples lucidez do comentário de São João Crisóstomo ao Salmo 149: "A igreja é sintagma: e sínodo é o seu nome".
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O que o Papa quer de seus cardeais - Instituto Humanitas Unisinos - IHU