14 Janeiro 2021
Só um coração, um coração que ajuda a restaurar, a colocar de pé a tantos homens e mulheres que perderam tudo, e tudo é tudo mesmo! Essas palavras nos falam do padre Júlio Lancellotti, alguém a quem Antônio Cardoso quis homenagear com uma canção, uma música que “foi uma das poucas canções que eu escrevi na minha vida sem mudar uma frase, ela saiu, simplesmente fluiu”.
A reportagem é de Luis Miguel Modino.
Ele afirma que “as canções, elas são como uma inspiração divina, quando a gente se entrega, quando a gente abre o coração, tudo isso flui na vida do poeta”. Junto com isso, Antônio Cardoso, que se define como “missionário, apesar de muitos me chamarem de artista”, destaca que “a gente também tem que se deixar tocar, se sensibilizar pelos acontecimentos”. Segundo ele, “uma das coisas que tem aflorado muito na pandemia são as desigualdades”, algo lembrado constantemente pelo Papa Francisco.
No Brasil, “tem extravasado ainda mais essa desigualdade”, segundo Cardoso, o que “faz com que algumas pessoas se transformem quase em heróis”. Mesmo que “nós não estamos precisando de heróis, porque há uma grande diferença entre vocação e profissão”, o padre Júlio Lancellotti, com 72 anos de idade, é alguém que todos os dias “vem falando dessa tragédia humana que São Paulo vem atravessando há muitos anos, há muitos governos, mas que tem sido mais difícil ainda neste tempo de pandemia, e isso tornou este homem um símbolo de um vocacionado”, afirma Antônio Cardoso. Para ele “todos nós somos chamados a viver nossa vocação, mas alguns com um pouco mais de coragem, se lançam mais na linha de frente”.
Diante da música, o padre Júlio, igual a muitas outras pessoas, ficou emocionado, segundo o compositor. Junto com a música tem sido elaborado um vídeo que mostra o dia a dia do padre Lancellotti. Para Antônio Cardoso, que já tem uma caminhada de 40 anos no mundo artístico, “Só um coração” é “uma dessa canções que brota e que se transforma numa oração, que nos impele a viver com fidelidade o chamado da construção do Reino”.
Ele repara nas palavras que dizem “quando a gente perde tudo, e tudo é tudo mesmo, aí a gente fica sem chão”. Aí é mostrado que “muita gente já viveu isso, no mundo da saúde, no mundo econômico, muitos pais de família que ficaram desempregados e foram para a rua, o mundo das drogas, pais e mães que lutam para restaurar seus filhos e não conseguem”, afirma o compositor baiano afincado em São Paulo. Ele também lembra “daqueles que estão trabalhando com os indígenas, que vê aquela tragédia humana acontecendo, especialmente com as invasões de reservas indígenas”.
Antônio Cardoso reconhece o valor “dessa gente simples, que dialoga de outra maneira, o vocabulário é outro”. Diante disso, ele afirma que “eu sinto que a cada momento a nossa humanidade vem sendo transformada, e a gente precisa ter esse espírito ungido, pelo Espírito da Verdade, para que a gente possa verdadeiramente se lançar a essa linha de frente”. Ainda mais, ele diz que “sou muito grato ao Papai do Céu, que está sempre me instigando para que eu possa dar a minha contribuição àqueles que estão muito mais na linha de frente do que eu. Eu só faço traduzir em palavras e em canções o que a maioria já está trabalhando”.
Para o compositor, os últimos meses, esse tempo de pandemia, está sendo um tempo difícil. Descobrir como poder satisfazer as necessidades familiares, como “pai de família, eu tenho que arrumar um jeito de sustentar, colocar minha filha na escola, e não é fácil isso, em tempos normais, imagine numa pandemia”. Junto com a carga emocional que surge diante da intolerância, das pessoas que não aceitam a vacina, das pessoas negacionistas, mesmo com o povo morrendo, já são mais de 200 mil pessoas, o mundo do trabalho vivendo uma tragédia incrível, reflete alguém que afirma e canta que diante dessa realidade: “Só um coração pode entender o que se passa com você. Pois, não há palavras para explicar a solidão de alguém que perdeu tudo”.
(Antonio Cardoso)
Só um coração pode entender
O que se passa com você
Pois, não há palavras para explicar
A solidão de alguém que perdeu tudo
E tudo é tudo mesmo!
O vazio não tem explicação
Só um coração
Só um coração e uma porta aberta
Podem restaurar você
E nisso você pode acreditar
A cruz não é nenhuma derrota!
A cruz que você vive
É a porta da vitória
Só um coração
Aprendi do Mestre que amar
Tem suas dores, tem suas oblações e a fé
Creia no Espírito de Deus
Que te coloca de pé
Deus te coloca de pé!
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“Só um coração”, a música de Antônio Cardoso para homenagear o padre Júlio Lancellotti - Instituto Humanitas Unisinos - IHU