08 Janeiro 2021
Após nove meses e meio na linha de frente do combate à pandemia do novo coronavírus, os trabalhadores da saúde estão “extremamente desgastados e estressados”. Com a flexibilização das regras de isolamento no final do ano, foram registradas festas e aglomerações por todo o país. As consequências já são sentidas em diversas cidades, que enfrentam a aceleração da pandemia e a falta de leitos nas UTIs. E o quadro, entretanto, ainda deve se agravar.
A reportagem é publicada por Rede Brasil Atual, 06-01-2021.
Há ainda os desacertos e a lentidão do governo federal em dar início ao plano de imunização. Sem vacina aprovada pelas autoridades reguladoras, faltam até agulhas e seringas. Além disso, começou a circular no Brasil a nova cepa do vírus, com maior capacidade de transmissão.
“É a preparação da tempestade perfeita”, afirmou o enfermeiro Helcio Marcelino, vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores Públicos da Saúde no Estado de São Paulo (Sindsaúde-SP) sobre a aceleração da pandemia. Em entrevista ao Jornal Brasil Atual nesta quarta-feira (6), ele afirma que “dá medo” de pensar no que deve ocorrer no país até o final de deste mês.
“Temos probabilidade grande de acabar vendo cenas como as que aconteceram na Nicarágua e no Equador, no começo da pandemia. Pessoas morrendo em casa, porque não vai haver leitos nas UPAs e UBS, de tanta gente que vai estar contaminada”, afirmou Marcelino.
Hipocrisia e desinformação
O vice-presidente do SindSaúde classificou como “hipocrisia” o “abre e fecha” definido pelo governador de São Paulo, João Doria. Em função do aumento do número de casos, internações e mortes, o estado regrediu para a fase 1-vermelha, a mais restritiva, entre os dias 25 e 27 de dezembro e entre os dias 1º e 3 de janeiro. No entanto, desde segunda (4), as medidas foram flexibilizadas. “Se fecha num dia e abre no outro, as pessoas entendem que é hipocrisia”, criticou.
Ele também criticou o presidente Jair Bolsonaro e o seu entorno por seguirem sugerindo suposto “tratamento precoce” contra a covid-19, com a indicação de medicamentos – hidroxicloroquina e ivermectina – sem eficácia comprovada contra a doença. Por outro lado, Marcelino também afirmou que o atraso na vacinação faz parte da “política de morte” do Bolsonaro. Sem previsão para começar a vacinar a população, clínicas privadas negociam a compra da vacina. “Para mim, é de propósito. Para garantir que o setor privado ganhe dinheiro com o desespero das pessoas”, afirmou.
Assista à entrevista
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Com aceleração da pandemia, enfermeiro teme ‘tempestade’ em janeiro - Instituto Humanitas Unisinos - IHU