29 Dezembro 2020
Nem mesmo a trágica sobriedade deste Natal pandêmico enterneceu os duros corações da direita clerical e farisaica que ataca o Papa Francisco. Pelo contrário, as festas marcaram mais um salto de qualidade nas acusações contra o pontífice argentino.
A reportagem é de Fabrizio D’Esposito, publicada em Il Fato Quotidiano, 28-12-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Já é o tempo da “Apostasia da Cúpula da Igreja”, e, no Vaticano, foi instaurada a “tirania de Satanás” (além da fumaça, aqui estamos em uma infernal névoa perene). Obviamente, palavra do arcebispo Carlo Maria Viganò, um dos líderes do antibergoglismo militante.
E, para acentuar as suspeitas “diabólicas” dos clericais tradicionalistas, entrou em jogo até a Natividade montada na Praça de São Pedro: o monumental presépio de Castelli, município de Abruzzo famoso pela arte em cerâmica. Lá, nos anos 1960, Serafino Mattucci deu à luz a ideia de um presépio moderno. E, assim, entre 1965 e 1975, as 54 estátuas que formam a composição foram realizadas no Instituto de Arte de Castelli.
Apenas uma dezena delas foram instaladas no Vaticano, mas isso foi o suficiente para desencadear as polêmicas, a ponto de até o New York Times abordar a questão: “As críticas foram amplificadas pelos conservadores que veem nas figuras de cerâmica mais uma erosão das tradições eclesiásticas e das imagens costumeiras que lhes são caras”.
O que gerou escândalo foi, em particular, o Astronauta e o Guerreiro com a caveira no elmo, que lembra muito o Darth Vader de “Guerra nas Estrelas”. A combinação desses elementos, para a direita clerical, tornou-se, assim, o símbolo de presenças satânicas e maçônicas na Igreja Católica.
Não só isso: segundo Maurizio Blondet, assinatura do conspiracionismo soberanista, existem inquietantes sinais do antigo Egito: “O que mais chama a atenção é o anjo que domina o centro da imagem; ele tem as asas abertas e é feito como que envolto nas faixas de uma múmia; no centro do peito, um evidente X. Tal simbologia lembra eficazmente os sarcófagos egípcios que, inicialmente apenas para o faraó e, em um segundo momento para todos, eram pintados mediante a representação de braços cruzados em forma de X”. Ou seja, o X de Osíris, que significa morte e degeneração.
Mas ainda não acabou. A arte oculta do pobre presépio de Castelli esconde “forçações bíblicas interpretadas com arte em sentido ufológico”. Em suma, o Astronauta e também o simil-Darth Vader encarnam um culto aos alienígenas, verdadeiro objetivo do pontificado franciscano.
Na vasta rede da direita clerical (incluindo os jornais Libero, Il Giornale e La Verità), críticas e ataques vão além da opinável estética da obra. Para a homofóbica Silvana De Mari, o presépio “é uma blasfêmia na Praça de São Pedro” (La Verità). E depois ainda o habitual Viganò: “Essa monstruosidade irreverente é a marca da religião universal do trans-humanismo desejada pela Nova Ordem Mundial; é a explicitação da apostasia, da imoralidade e do vício, da feiúra erigida como modelo”.
O bonito é que o presépio de Castelli não agradaria sequer ao Papa Francisco, como revelado pela versão italiana do Huffington Post. Mas não contem isso para os antibergoglianos.
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A direita clerical e o presépio vaticano, símbolo da “apostasia de Francisco” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU