20 Novembro 2020
Após conferência de dois dias realizada no final de outubro, em Cartum, líderes muçulmanos e cristãos assinaram declaração voltada à promoção da paz no Sudão, além de encorajar o diálogo comunitário entre pessoas de diferentes religiões. Eles enfatizam que a liberdade religiosa é um direito humano.
A reportagem é de Edelberto Behs, jornalista.
Mapa do Sudão. (Foto: Wikipédia)
Após 30 anos sob a sharia, um conjunto de leis islâmicas, o governo de transição encabeçado pelo primeiro-ministro Abdalla Hamdok, depois da deposição do presidente Omar al-Bashir, em abril de 2019, introduziu reformas no país. Desde setembro passado o islã deixou de ser a religião do Estado.
A sharia foi implantada pelo ex-presidente al-Bashir. No seu governo igrejas foram fechadas e demolidas, líderes cristãos sofreram perseguições e prisões. “Acho que estamos em um excelente progresso, mas levará algum tempo para que as visões da população mudem totalmente”, avaliou o arcebispo católico de Cartum, Michael Didi. Afinal, foram três décadas de sharia, sinalizou o religioso para a Voice of America.
A lei que punia com pena de morte as pessoas que desertavam do islã foi revogada. “Cancelamos o artigo 126 da Lei Penal sudanesa, garantimos a liberdade religiosa e a igualdade na cidadania e no estado de direito”, afirmou o ministro da Justiça, Nasredeen Abdulbari, em entrevista ao canal Al Jazeera.
As mulheres não precisam mais da autorização de algum parente do sexo masculino para viajar com os filhos, e a prática da mutilação genital feminina é, agora, punível com três anos de prisão. Também está proibido o açoitamento público. “Garantimos ao nosso povo que a reforma legal continuará até que retiremos todas as leis que violam os direitos humanos no Sudão”, assegurou Abdulbari.
Raja Nichola Abdul Messih, integrante do Conselho Soberano do Sudão, assegurou que o governo está empenhado em reformar todas as leias opressivas e promover a justiça social. “O Sudão pode ser um exemplo brilhante para o mundo, onde grupos multiculturais podem coexistir pacificamente”, frisou.
Jibril Bilal, do grupo Justice and Equality Movement, com base em Darfur, afirmou, depois das reformas, que “o Estado e o governo têm que cuidar do interesse dos sudaneses, independentemente de sua religião, etnia, cores”.
O co-presidente da organização Unity International com sede em Cartum, William Delvin, exortou muçulmanos e cristãos a esquecerem o passado e trabalharem juntos para construir um novo Sudão, “onde os cidadãos sejam tratados com igualdade”.
Mas ainda há situações que precisam ser sobrepujadas. Grupos islâmicos, apoiadores do presidente deposto, insistem que a sharia deve ser mantida e pediram, inclusive, a intervenção do exército para defendê-la.
Nem todos os grupos rebeldes do país assinaram a declaração de paz para acabar com conflitos internos, de modo especial nas áreas do sul do Sudão. Segundo a ONU, esses conflitos já mataram 300 mil pessoas e forçaram o deslocamento de 2,7 milhões de sudaneses para outras regiões.
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Muçulmanos e cristãos apoiam promoção da paz no Sudão - Instituto Humanitas Unisinos - IHU