17 Outubro 2020
No Dia Mundial da Alimentação, o Pontífice propõe novamente a sugestão já avançada pelo Papa São Paulo VI na "Popularium progressio" e contida na encíclica "Fratelli tutti", isto é, a criação de um “Fundo mundial” para eliminar definitivamente a fome com o dinheiro usado em armas e em outras despesas militares.
A reportagem é de Bianca Fraccalvieri, publicada por Vatican News, 16-10-2020.
Vergonhosa: assim o Papa definiu a condição de milhões de pessoas no mundo que não têm o que comer.
Em 16 de outubro, se celebra o Dia Mundial da Alimentação, que este ano coincide com os 75 anos da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) .
Para esta ocasião, o Papa Francisco enviou uma mensagem ao diretor-geral da instituição, Qu Dongyu, dirigida também a todos os membros que a compõem.
Comentando o tema escolhido para 2020 “Cultivar, nutrir e preservar. Juntos. As nossas ações são o nosso futuro”, Francisco ressalta a necessidade de agir conjuntamente e com firme propósito para gerar iniciativas que melhorem o meio ambiente.
“No decorrer desses 75 anos, a FAO aprendeu que não é suficiente produzir alimento, mas é preciso também garantir sistemas alimentares que sejam sustentáveis e ofereçam dietas saudáveis e acessíveis a todos.”
Em outras palavras, se trata de adotar soluções inovadoras que possam transformar o modo em que produzimos e consumimos os alimentos.
Para o Papa, vivemos uma época de contradições: de um lado, somos testemunhas de um progresso sem precedentes em vários campos da ciência; de outro, o mundo enfrenta múltiplas crises humanitárias, com um aumento do número de pessoas que lutam contra a fome e que a pandemia está agravando.
Francisco então entra no âmago do seu discurso com um apelo à responsabilidade:
“Para a humanidade, a fome não é só uma tragédia, mas também uma vergonha. Em grande parte, é provocada por uma distribuição desigual dos frutos da terra, à qual se acrescentam a falta de investimentos no setor agrícola, as consequências das mudanças climáticas e o aumento dos conflitos em várias regiões do planeta. Por outro lado, se descartam toneladas de alimentos. Diante desta realidade, não podemos permanecer insensíveis ou paralisados. Somos todos responsáveis.”
Francisco reforça a necessidade de políticas e ações concretas, pois as “discussões dialéticas ou ideológicas” nos afastam do objetivo de erradicar a fome e permitem que “nossos irmãos e irmãs continuem a morrer por falta de alimento”.
O Pontífice propôs novamente a sugestão já avançada pelo Papa São Paulo VI na "Popularium progressio" e contida na encíclica "Fratelli tutti", isto é, a criação de um “Fundo mundial” para eliminar definitivamente a fome com o dinheiro usado em armas e em outras despesas militares.
O Papa encerra sua mensagem fazendo votos de que a atividade da FAO seja sempre mais incisiva e fecunda, de modo que todos “possamos viver dignamente, com respeito e amor”.
Em sintonia com o Papa Francisco, o secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou que “em um mundo de fartura, é uma afronta grave que centenas de milhões de pessoas vão para a cama com fome todas as noites.”
Atualmente, 690 milhões de pessoas não têm o que comer. Ao mesmo tempo, mais de 3 bilhões de pessoas não têm dinheiro para fazer uma dieta saudável.
Guterres lembra ainda a entrega do Prêmio Nobel da Paz deste ano ao Programa Mundial de Alimentos, PAM, e os 75 anos da FAO, afirmando que a comunidade internacional deve aproveitar a data para “intensificar os esforços para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.”
O secretário-geral convocou para setembro do próximo ano, à margem da Assembleia Geral, uma Cúpula de Sistemas Alimentares para inspirar ações rumo aos Objetivos.
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Francisco: a fome não é só uma tragédia, mas uma vergonha para a humanidade - Instituto Humanitas Unisinos - IHU