08 Setembro 2020
Dezenas de milhares de meninas em vários países asiáticos são obrigadas, devido à pandemia de Covid-19, a se casar muito jovens. As meninas vêm de famílias que vivem em condições de pobreza, agravada pelo coronavírus. Teme-se que anos de avanços no combate ao fenômeno das "noivas crianças" sejam anulados pela mistura de vírus e pobreza: esse é o alerta da ONG "Girls Not Brides", que reúne uma rede de mais de 1.460 organizações espalhadas em todo o mundo, inclusive no mundo católico.
A reportagem é publicada por Agência Fides, 05-09-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
“Todos os avanços obtidos na última década vão sofrer um retrocesso”, relata Shipra Jha, chefe da ONG “Girls Not Brides”, internacionalmente comprometida com o combate ao flagelo das noivas crianças. “O casamento precoce está firmemente enraizado na desigualdade de gênero e nas estruturas patriarcais. O que aconteceu agora é que Covid agrava a situação”, releva a ONG em uma nota enviada à Fides. O alerta lançado por “Girls Not Brides” nos lembra que a pobreza, a falta de educação e a insegurança levam a casamentos precoces mesmo em tempos estáveis e que os períodos de crise agravam o problema. De acordo com as Nações Unidas, o fenômeno afeta 12 milhões de meninas menores de 18 anos a cada ano.
O casamento precoce é uma prática muito difundida em algumas comunidades tradicionais da Indonésia à Índia, Paquistão e Vietnã, mas os números do fenômeno – alerta a ONG – vêm diminuindo gradativamente nos últimos anos, graças ao empenho de organizações e associações que estimulem o acesso das mulheres aos serviços de educação e saúde. No entanto, essas melhorias estão sendo revertidas pelo impacto da pandemia que, em muitos estados asiáticos, causa perda de empregos e deixa as famílias em sérias dificuldades.
A ONG Girls Not Brides explica: "A Ásia meridional abriga a maior população de jovens e adolescentes do mundo. A pandemia causou uma crise econômica sem precedentes e agravou as desigualdades. O impacto é particularmente grave para mulheres e meninas. que devem enfrentar maiores riscos de violência de gênero, gravidez indesejada e casamentos precoces”. Pedem-se, então, "respostas de políticas para atender às suas exigências e desafios específicos. Essa situação deve mudar. Os governos das nações asiáticas devem intensificar seus esforços para incluir mulheres e meninas entre as prioridades na proteção da dignidade humana na Ásia meridional". “Precisamos trabalhar juntos, graças a uma parceria entre governos e sociedade civil, para garantir que meninas em risco de casamento precoce e garotas casadas não sejam deixadas de lado nas intervenções ligadas à emergência Covid-19”: esse é o apelo lançado pela ONG.
Entre as várias organizações católicas, são sobretudo as irmãs de várias ordens religiosas que lidam com o problema, acompanhadas por leigas voluntárias que trabalham para organizações religiosas como a Caritas. Em muitos países, há uma seção especial da organização que lida com casamentos precoces e tráfico de pessoas. A Caritas Índia, por exemplo, trabalha nesse sentido em dezenas de aldeias em Bihar, para sensibilizar as famílias sobre os efeitos nocivos dos casamentos precoces. Na Índia, essa tradição prevalece principalmente nos estados de Jharkhand, Bihar, Rajasthan e Uttar Pradesh, mas também no rico Punjab, onde, entre outras congregações, estão ativas as Pequenas Irmãs de Santa Teresa que, através do diálogo e de um caminho específico de formação, educam as famílias da diocese de Jalandhar a abandonar essa prática. Em troca, oferecem educação e formação profissional aos jovens e principalmente às meninas, para dar uma alternativa às famílias.
A Irmã Lucy Kurien, das Irmãs da Santa Cruz, é a fundadora e diretora da "Maher" (em língua Marathi "Casa da Mãe"), uma comunidade e organização inter-religiosa para mulheres carentes e crianças vítimas de abusos, com sede em Pune, no estado de Maharashtra. Nas casas "Maher" em Jharkhand, Kerala, Uttar Pradesh e Maharashtra é recomendado, especialmente nas áreas rurais, não deixar casar as filhas adolescentes, realizando um trabalho de educação familiar. A obra de sensibilização é realizada entre as comunidades hindus, cristãs e muçulmanas. A Irmã Lucy fundou a "Maher" no início de 1990 e em 1997 a primeira casa Maher foi inaugurada na aldeia de Vadhu Budruk, na periferia de Pune. Em fevereiro de 2017, a Irmã Lucy também fundou a "Associação para o Serviço à Humanidade e à Natureza”, um grupo inter-religioso que envolve voluntários de diferentes comunidades de fé, sobre os valores da promoção da dignidade humana e da emancipação da mulher.
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Vírus e pobreza: agrava-se o fenômeno das “noivas crianças”, urgem respostas políticas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU