04 Setembro 2020
Desconhece-se o paradeiro de duas religiosas da congregação de São José de Chambéry que desapareceram durante o violento ataque de grupos jihadistas ao porto de Mocímboa da Praia.
A reportagem é publicada por Aleteia, 03-09-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
O padre Kwiriwi Fonseca, da diocese de Pemba, informou à fundação ACN que as autoridades ainda não esclareceram o que aconteceu a essas duas freiras e às mais de sessenta pessoas que estavam no convento da comunidade quando ocorreu o ataque.
Mapa da África Austral com destaque a Moçambique. Fonte: Wikicommons
Mapa de Moçambique, destaque para Cabo Delgado e Pemba. Fonte: Wikicommons
Mocímboa da Praia (Foto: Rádio Moçambique)
O padre Fonseca explicou que a região de Mocímboa da Praia está praticamente fechada e que “ninguém chega lá”. O sacerdote de Pemba lembra que o ataque “começou no dia 5 de agosto”, seguido de “dias consecutivos” de combates “até ao dia 11”. “Durante esses dias atacaram e ocuparam o porto de Mocímboa da Praia”.
Foi durante esse ataque que o contato com ela foi perdido: irmãs Inês Ramos e Eliane da Costa. “Elas são brasileiras. Uma [Inês] é uma senhora idosa com mais de 70 anos”, indicou mais tarde o padre Kwiriwi.
Foto: ACN
“Quando a cidade foi ocupada”, disse o sacerdote à ACN, “devido à impossibilidade de comunicação devido à falta de ligação, não pudemos [estabelecer] contato com as irmãs e acreditamos que [elas] perderam o telefone… Tentamos pensar positivo... Acreditamos que elas podem não estar mortas, mas que não têm como se comunicar. É assim que nos consolamos, pois não sabemos exatamente a versão oficial. Não temos notícias oficiais”.
No momento do ataque, havia no convento das Irmãs de San José de Chambéry “cerca de sessenta pessoas”, basicamente idosos e algumas crianças. O que aconteceu ninguém sabe. “Se [as irmãs] voltaram para o local, a gente também não sabe, porque lá não tem lugar onde você possa comprar um telefone novo... Como não temos notícias dessas [60] pessoas, não sabemos se desapareceram, se morreram, se foram sequestradas. Não sabemos de nada…”.
Os responsáveis da Diocese de Pemba tomaram conhecimento do ataque à casa das Irmãs de San José por telefonema de um membro da comunidade. “Foi ele quem nos deu a notícia de que a casa tinha sido arrombada. O silêncio delas nos faz acreditar que elas perderam seus telefones e que estão em um lugar incerto. Por isso concluímos que as irmãs Inês e Eliane encontram-se em um paradeiro desconhecido e as damos por desaparecidas, não temos dados e não podemos inventar”.
A crise humanitária que se vive em Cabo Delgado, no norte de Moçambique, na sequência dos atentados terroristas que assolam esta região, adquiriu uma dimensão terrível face ao número de mortos e deslocados, e face à falta de recursos para acolher esta população.
O padre Cantífula de Castro, diretor adjunto da Rádio Encontro, da Arquidiocese de Nampula, enviou uma mensagem à sede portuguesa da fundação ACN onde disse que “na Arquidiocese de Nampula, cerca de cinco mil deslocados chegaram aos distritos de Meconta, Nampula e Rapale. A maioria são mulheres jovens e crianças que precisam de ajuda humanitária. Na verdade, faltam espaço para ficar, comida, roupa e até material para a prevenção da Covid-19”.
Segundo o padre Cantífula, “a província de Cabo Delgado está ardendo em guerra há três anos”. “As pessoas estão vivendo momentos insuportáveis por causa do terrorismo”, diz o padre. “É uma situação deplorável. Estima-se que sejam pouco mais de mil mortos, casas queimadas, aldeias abandonadas, pessoas que moram na montanha e outras que se refugiam, de mãos vazias, em lugares mais seguros em busca de proteção”, explica na mensagem de vídeo enviada a ACN.
Foto: ACN
Desde outubro de 2017, a província de Cabo Delgado tem sido palco de ataques de grupos armados que há alguns meses se declaram filiados ao Daesh, vulgo Estado Islâmico. Os ataques têm aumentado de intensidade nos últimos meses, principalmente desde o início deste ano.
Padre Cantífula de Castro indica que, apesar da situação complexa e da falta de recursos, “a Igreja não abandona essas pessoas, mas fica ao seu lado, dando-lhes ajuda material e conforto espiritual”. Ele então lançou um apelo à comunidade internacional: “Por favor, não se esqueçam de nós. Se puderem, ajudem essas pessoas que perderam tudo e tiveram que fugir de suas casas. Muito obrigado”.
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Moçambique. Duas religiosas brasileiras desaparecidas no ataque a Mocímboa da Praia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU