04 Agosto 2020
Um destacado cardeal expressou o seu apoio a uma abadessa beneditina que está sendo processada por abrigar refugiados na Alemanha.
A reportagem é de Madoc Cairns, publicada por The Tablet, 30-07-2020. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
O Cardeal Michael Czerny, jesuíta canadense feito cardeal em outubro de 2019, disse que a religiosa alemã faz parte de uma “longa tradição de cristãos que vivem a fé até as últimas consequências”. Ele acrescentou que não vê razão por que deveríamos “refutar ou romper” esta tradição na atualidade.
Subsecretário da Seção para Migrantes e Refugiados, do Dicastério para o Serviço de Desenvolvimento Humano Integral, o Cardeal Michael Czerny fez este comentário ao falar, em um webnário da revista católica The Tablet, sobre a “superação da indiferença para com os migrantes e refugiados”.
Perguntado se os católicos deveriam se dispor a correr o risco que a Madre Mechthild Thurmer está correndo, o Cardeal Czerny respondeu: “Deus a abençoe!”
A Madre Mechthild Thurmer, irmã beneditina, concedeu refúgio a mulheres que solicitaram asilo em seu mosteiro, a Abadia de Maria Frieden, localizada no município de Kirchschletten. Isso ocorreu mais de trinta vezes nos últimos anos. Hoje, a religiosa está sendo acusada em dois casos, por “ajudar e favorecer residentes ilegais” e deve ir a julgamento no tribunal regional de Bamberg, na Bavária.
Este caso pode se tornar um marco legal, já que tradicionalmente o asilo religioso tem, na prática, ficado isento das restrições imigratórias, com a exceção das fianças nominais. Thurmer se recusa a pagar fiança, já que ela não interpreta as suas ações como sendo violadoras da lei. Franz Bethauser, advogado de Thurmer, afirma esperar que este caso venha a esclarecer a posição das organizações religiosas em situações semelhantes.
Sob o acordo de 2015 entre as igrejas alemãs e o governo, as autoridades devem tolerar os solicitantes de asilo que recebem abrigo em instituições religiosas enquanto os seus formulários estão sendo analisados, desde que não estejam escondidos. Em 2018, um tribunal local definiu que, se o estado não buscar ativamente deportar os solicitantes de asilo cujos casos foram rejeitados, as igrejas não poderão ser processadas por lhes abrigar. Na medida em que clima político na Alemanha mudou, no entanto, o governo federal passou a reprimir os estrangeiros que permaneciam no país depois que os seus pedidos de asilo foram rejeitados. Thurmer foi acusada após buscar impedir a deportação de uma requerente de asilo nesta situação.
A própria religiosa insiste que não cometeu crime algum. “Eu agi com espírito cristão”, disse a beneditina de 62 anos. “Prestar ajuda concreta a alguém necessitado não pode ser crime”. Acrescentando que àquelas pessoas a que ofereceu refúgio tinham suportado um enorme sofrimento, a abadessa afirmou que Jesus certamente teria oferecido asilo a quem lhe pedisse, fosse ele quem estivesse neste lugar. A irmã insistiu ainda em continuar dando asilo a uma solicitante curda, apesar do acordo proposto pelo tribunal.
Tendo em vista o considerável tempo na prisão a que a religiosa pode ser condenada, o tribunal de Bamberg “pede com urgência” que ela pelo menos pare de abrigar a sua atual requerente de asilo. Se assim proceder, haverá boas perspectivas de que se suspenda a punição, segundo o tribunal.
Em entrevista à imprensa local, a abadessa declarou que recusou o acordo: “Estamos lidando com uma vida humana. Trata-se do futuro das pessoas”. Nesse caso em particular, a religiosa não poderia sacrificar a solicitante de asilo só porque está, hoje, envolvida em uma batalha jurídica. “Não é um jogo de xadrez”, lembrou Thurmer.
Enquanto isso, a religiosa alemã vem recebendo mensagens de solidariedade enviadas de várias partes do mundo. “Eu precisaria de duas secretárias extras para responder a todas as mensagens”, disse.
Em nome da cliente, Bethauser afirmou que a “liberdade de crença” – algo garantido na Constituição alemã – “pesa mais do que o suposto delito criminal”. No começo desta semana cancelou-se o julgamento de Thurmer, originalmente marcado para 31 de julho. O tribunal salientou que ainda pretende pôr a abadessa sob julgamento, no entanto.
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Cardeal apoia a abadessa processada por abrigar refugiados - Instituto Humanitas Unisinos - IHU