09 Junho 2020
Representantes do movimento negro reuniram-se, ontem de manhã, em frente à Fundação Cultural Palmares, na capital federal, em protesto às manifestações desabonadoras do seu presidente, o jornalista Sérgio Camargo. Em áudios divulgados pelo jornal O Estado de S. Paulo, ele classificou o movimento negro de “escória maldita” e criticou o Dia da Consciência Negra.
A reportagem é de Edelberto Behs, jornalista.
“A nossa principal reivindicação é a retirada imediata de Sérgio Camargo da presidência da Fundação Cultural Palmares e de todas e todos como ele que possam ser colocados nessa cadeira”, explicou a pastora Val Moraes, presidenta da Aliança de Negras e Negros Evangélicos do Brasil.
Também presente à manifestação, a secretária-geral do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil, pastora Romi Bencke, disse que “não tem como a gente falar do racismo religioso sem fazer uma crítica forte à tradição de fé que eu represento”. O cristianismo, prosseguiu, “contribuiu e contribui para legitimar o racismo religioso e o racismo que estrutura as relações econômicas e sociais do nosso país. Esse mesmo cristianismo é o cristianismo que tem sido instrumentalizado, na sua versão mais fascista e nazista, para disseminar o ódio e para aprofundar as desigualdades”.
Num dos áudios, Camargo disse que Zumbi dos Palmares era um “fdp que escravizou pretos”, e em outro áudio ele chamou a Mãe Baiana de Oyá de “fdp”, “macumbeira” e “miserável”. Ao G1, a líder religiosa, presente no protesto de ontem, disse que “esse é um ato pacífico porque nós somos um povo de paz. É importante para dizer para quem falou que nós somos vagabundos... que vidas negras importam”.
Camargo defendeu a abolição por decreto presidencial do feriado do Dia da Consciência Negra porque ele “causa incalculáveis perdas à economia do país, em nome de um falso herói dos negros e de uma agenda política que alimenta o revanchismo histórico e doutrina o negro no vitimismo”. Em mensagem numa rede social, o presidente da Fundação Cultural Palmares escreveu que “sente vergonha e asco da negrada militante”.
Em nota, Camargo disse “lamentar a gravação ilegal” do que falara numa reunião agendada para tratar do desaparecimento de um celular corporativo do presidente. Sob críticas e indignação do movimento negro, a nomeação de Camargo para a presidência da Fundação ocorreu em 27 de novembro de 2019.
Portando cartazes pedindo justiça para as mortes de Marielle Franco e dos meninos negros João Pedro e Miguel Otávio, manifestantes cantaram, jogaram capoeira e soltaram 200 balões em memória de negr@s mort@s e pelas vítimas do covid-19.
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Movimento negro pede saída de Camargo da Fundação Palmares - Instituto Humanitas Unisinos - IHU