25 Outubro 2019
Em um briefing do Sínodo no dia 24 de outubro, Delio Siticonatzi Camaiteri, membro do povo Ashaninka e professor do Peru, disse que os temores sobre a proposta de rito amazônico são injustificados, porque os povos indígenas buscam a unidade e não a divisão.
A reportagem é de Junno Arocho Esteves, publicada por Catholic News Service, 24-10-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
“Nós queremos ter os nossos próprios ritos? Sim, queremos! Mas esses ritos devem estar incorporados naquilo que é central, que é Jesus Cristo. Não há mais nada a discutir sobre esse assunto! O centro que está nos unindo neste Sínodo é Jesus Cristo”, disse ele.
Durante todo o Sínodo, os membros discutiram a possibilidade de incorporar tradições e elementos culturais locais na liturgia. Embora existam quase duas dezenas de ritos diferentes na Igreja Católica, os críticos da proposta temem que isso introduza os chamados elementos pagãos na liturgia.
Conversando com os jornalistas no briefing, Siticonatzi disse que percebeu que os presentes pareciam “um pouco desconfortáveis” e não entendiam “o que a Amazônia realmente precisa” quando se trata de estabelecer um novo rito.
“Nós temos a nossa cosmovisão, a nossa forma de ver o mundo que nos rodeia. E a natureza nos aproxima mais de Deus. Aproxima-nos a olhar para o rosto de Deus na nossa cultura, na nossa vivência”, afirmou.
No entanto, acrescentou, há muitos que “duvidam dessa realidade que buscamos como indígenas”.
“Não endureçam os seus corações! Suavizem o coração; é isso que Jesus nos convida: que vivamos juntos”, disse. “Cremos em um único Deus! No fim das contas, vamos estar unidos.”
O padre mexicano Eleazar López Hernández, membro da comunidade zapoteca e especialista em teologia índia, disse aos jornalistas que, assim como os membros de outros ritos da Igreja Católica, as Igrejas na América Latina também “precisam poder expressar a nossa fé na nossa cultura e na nossa língua”.
“É nisso que se baseia o rito amazônico”, afirmou López. “Não podemos mais continuar vivendo dentro de estruturas estranhas ao nosso povo. Isso é alienação.”
O teólogo mexicano disse que as discussões sobre a criação de um rito amazônico foram “encorajadas” por um princípio formulado por São Tomás de Aquino: “(Quidquid) recipitur ad modum recipientis recipitur” (“O que é recebido é recebido ao modo do receptor”).
“Os nossos povos tinham as suas próprias experiências religiosas, tinham teologias que davam sentido às suas vidas”, disse. “Quando a perspectiva cristã chegou, eles a receberam dentro dessas estruturas.”
No que diz respeito à liturgia, continuou, os cristãos têm a responsabilidade de saber a diferença entre “o que é substancial na perspectiva cristã e o que é secundário, o que é cultural”.
“O Papa Francisco nos disse que não é correto pensar na perspectiva cristã, na vida da Igreja, através de uma expressão monocórdia e monocultural”, disse López. “A Igreja é plural. Temos que voltar para a diversidade original das Igrejas; unidas em uma única fé, mas com distintas expressões teológicas e litúrgicas.”
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Proposta de rito amazônico está centrado em Cristo, afirma professor indígena - Instituto Humanitas Unisinos - IHU