10 Outubro 2019
O Sínodo da Amazônia está em andamento no Vaticano, convocado pelo Papa Francisco para considerar a vida de uma igreja em particular e os muitos desafios socioeconômicos e ambientais que a região amazônica enfrenta. Ao contrário dos três sínodos anteriores que o Papa convocou (da família em 2014 e 2015 e da juventude em 2018), as questões LGBTQ provavelmente não serão discutidas nesta reunião. Mas isso não significa que os defensores LGBTQ católicos devam ignorar um evento eclesial que pode impactar muito nossos esforços por igualdade na igreja. Aqui estão algumas reflexões sobre como as lições provenientes deste Sínodo podem ser aplicadas às questões LGBTQ.
O artigo é de Robert Shine, publicado por New Ways Ministry, 09-10-2019. A tradução é de Natália Froner dos Santos.
Lendo o Instrumentum Laboris do Sínodo, ou documento de trabalho, era difícil acreditar que fosse um documento produzido pelo Vaticano. Tanto o processo de seu desenvolvimento quanto o produto final estavam muito mais numa visão teológica latino-americana do que europeia. O processo do documento começou com uma escuta profunda das pessoas. Dezenas de milhares de pessoas em centenas de assembleias ofereceram informações sobre suas experiências, sua igreja e sua região, e o documento frequentemente faz referência às contribuições.
Uma pequena minoria de críticos atacou o Instrumentum Laboris por levantar questões como padres casados e mulheres no ministério, mas um dos autores do documento de trabalho, pe. Augusto Zampini Davies, disse: “se você quer ouvir, é isso que acontece. Você pode ouvir coisas com as quais não se sente confortável – mas precisa ouvir.”
O Instrumentum Laboris também é notável por seu foco em uma comunidade específica, que são as comunidades indígenas da Amazônia. O documento menciona em profundidade a multidão de injustiças que eles enfrentam: desmatamento, criminalização de protestos, violações de seus direitos, indústrias extrativas, assassinato de seus líderes e muito mais. Mas o documento também afirma essas comunidades indígenas marginalizadas como protagonistas desse processo sinodal e pergunta não apenas o que a igreja lhes oferece, mas o que elas oferecem à igreja. O documento chega ao ponto de dizer que a Amazônia é “epifânica”, pois é uma fonte da revelação de Deus (19).
Finalmente, o Instrumentum Laboris identifica uma necessidade pedida pelo Papa Francisco para que a igreja passe por uma conversão. Esse processo envolve, nas palavras do documento, “desaprender, aprender e reaprender.” As “atitudes e mentalidades que nos impedem de se conectar conosco, com os outros e com a natureza” precisam ser desaprendidas. Ficamos livres para aprender com a sabedoria das comunidades indígenas que nos ensinam e para reaprender como “tecer elos que conectam todas as dimensões da vida” (102). No final, o Instrumentum Laboris contempla a aparência de uma igreja com um rosto “Amazônico e Missionário”.
Considere o que um discernimento e foco semelhantes significariam para questões LGBTQ na igreja. E se os líderes da igreja realmente abrissem espaço e investissem em extensas sessões de escuta onde as pessoas LGBTQ pudessem compartilhar suas experiências de vida e de fé? E se a conversa não fosse apenas sobre o que a igreja oferece às pessoas LGBTQ, mas o que elas oferecem à igreja? Ainda mais radicalmente, e se colocássemos a questão de como uma igreja com um rosto LGBTQ seria?
O Sínodo da Amazônia continuará neste mês, abordando muitas das questões levantadas no Instrumentum Laboris. Os observadores vão olhar atentamente se existe a possibilidade de padres casados ou mulheres no ministério. Também devemos acompanhar de perto o que o povo da Amazônia disse sobre a promoção de uma ecologia integral que vincula o desenvolvimento humano à justiça ecológica (parafraseando o Papa Francisco).
Uma vez concluído este Sínodo, o papa deve anunciar um novo sínodo para considerar gênero e sexualidade. O que surge da escuta pode não ser confortável para alguns, e uma conversão na igreja vai certamente ser necessária. Ainda assim, a necessidade é clara e urgente. É hora da igreja universal contemplar, de maneira contextual e particular, a comunidade LGBTQ, que também é uma fonte epifânica da revelação de Deus.
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Como o Sínodo da Amazônia pode levar a uma igreja mais LGBTQ inclusiva - Instituto Humanitas Unisinos - IHU