24 Setembro 2019
Você sabe qual a taxa de precisão do tiro do policial de sua polícia, por modalidade defensiva de tiro e tipo de armamento? Certamente não, indaga Jacqueline Muniz, professora do Departamento de Segurança Pública da Universidade Federal Fluminense (UFF), fundadora da Rede de Policiais e Sociedade Civil da América Latina e integrante do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, antropóloga e cientista política, em artigo publicado por Jornalistas Livres, 23-09-2019.
Eis o artigo
Você sabe qual a taxa de precisão do tiro do policial de sua polícia, por modalidade defensiva de tiro e tipo de armamento? Certamente que não.
Aqui atira-se muito, atira-se mal! Não há padrão de tiro e menos ainda programa continuado de uso suficiente de força para todos os policiais do estado. Para não usar a cidadania como manequim de tiro, o policial tem que tirar do bolso o treinamento. Atira-se primeiro e pergunta depois, porque frequentemente não se sabe onde pôs a bala. A insegurança decisória do tiro que deveria ser preciso, profissional, é elevada e, por isso, mascarada com os tiros de supressão, “sentar o dedo nervoso”, plataforma aérea de tiro, etc. Atira-se muito porque atira-se com medo.
Medo da arma mascar, medo da própria imprecisão decisória, medo da desaprovação social, medo da solidão na cena tática, medo do kit sucesso, medo do tiro amigo. Com o dinheiro desperdiçado pela Intervenção militar seria possível capacitar 750 mil policiais brasileiros em uso concreto de força, para reduzir os erros, as incapacidades e incompetências que custam as vidas dos próprios policiais e de civis.
Observa-se que o policial é tão ou mais inseguro que o cidadão comum, porque armado atrai ocorrência e não dispõe de juízo tático qualificado para agir repressivamente reduzindo incerteza, risco e perigos reais para ele, seu companheiro de guarnição e os cidadãos envolvidos ou não na ação policial. Pior que uma polícia mal paga e joguete de oportunistas políticos e carreiristas corporativos, é uma polícia insegura no que deve ser o estado de sua arte: uso potencial e concreto de força em tempo real, no imediato do nosso medo, insegurança e temor.
Não existe bala perdida, existe “bala achada” nos corpos tombados! Não existe policial rambo, existem zumbis de patrulhamento, cujas vidas foram desprezadas tal como as das vítimas civis! Se o policial possui uma taxa de precisão de tiro estático e dinâmico abaixo de 95% é fundamental ser capacitado para a profissão ou virar professor de segurança pública como eu!
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Atira-se muito, atira-se mal! - Instituto Humanitas Unisinos - IHU