30 Agosto 2019
O pulmão do planeta está em chamas. O desmatamento da Amazônia está colocando em risco 20% do oxigênio do mundo e as devastadoras imagens estão comovendo a nível internacional. Mas, essa não é a única grande floresta ameaçada. O centro de dados da NASA, Fire Information for Resource Management System, revelou que um grande número de incêndios está afetando vários pontos do globo, da Nova Zelândia à Sibéria, com mais intensidade na África do Sul, Sibéria e Indonésia, que se mostram completamente tingidos de vermelho.
A reportagem é de Ana Amat Vendrell, publicada por La Vanguardia, 29-08-2019. A tradução é do Cepat.
Imagem de satélite dos incêndios atualmente queimando no planeta Terra (Fonte: FIRMS / NASA)
O efeito mais preocupante compartilhado pelos diferentes incêndios que ardem no planeta é a amplificação das mudanças climáticas. Segundo informa o professor de Incêndios Florestais e Mudança Global da Universidade de Lleida, Victor Resco, 50% das emissões de dióxido de carbono são eliminadas de forma natural. Desse percentual, 20% é absorvido pelos oceanos e 30% pelas florestas. Os outros 50% permanecem na atmosfera e, portanto, contribuem para as mudanças climáticas.
Resco afirma que se queimarmos e savanizamos nossas florestas, 30% do dióxido de carbono que absorvem irá imediatamente para a atmosfera e piorará a crise climática, causando mudanças drásticas nas temperaturas. "Você precisa preservar os escoadouros naturais", avalia o especialista.
Mas, o que diferencia os incêndios que ardem atualmente no mundo? Embora na NASA todas as chamas sejam coloridas da mesma maneira, nos cinco continentes, a gravidade, as causas e os efeitos não são os mesmos.
A agitação midiática e a ampliação nas redes sociais dos devastadores incêndios no Brasil aconteceram na semana passada, quando a cidade brasileira de São Paulo escureceu, por volta das três horas da tarde, devido à chegada da fumaça dos incêndios florestais da Amazônia, localizada a milhares de quilômetros de distância.
A floresta amazônica está sendo devorada. De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) do Brasil, que contabiliza incêndios por imagens de satélite, os focos de incêndio em todo o país, até este momento do ano, excedem 83% em relação ao mesmo período de 2018. E em um relatório divulgado recentemente pelo INPE, especifica-se que entre 1º de janeiro e 18 de agosto foram registrados 71.497 focos de incêndio no Brasil e que 52,5% dos incêndios estão localizados na região amazônica.
Os incêndios na Amazônia estão transformando florestas tropicais em savanas. Segundo o especialista Victor Resco, o fogo não apenas mata um grande número de árvores, mas consome as sementes existentes na serapilheira e nas camadas mais superficiais do solo, até ficar empobrecido pela perda de nutrientes com as chamas.
Tudo isso torna a recuperação da floresta "improvável". A perda de biodiversidade e a capacidade de fixar e armazenar carbono são significativas e têm repercussões a nível global. Portanto, os incêndios na Amazônia mostram maior preocupação em relação a outros, porque não se recuperam após o incêndio e correm o risco de savanização.
A principal causa de incêndio no Brasil é a mudança no uso da terra para o plantio de soja que alimenta o gado. O responsável por Florestas do Greenpeace, Miguel Ángel Soto, destaca que “o gado é a principal causa do desmatamento”.
Soto afirma que por trás dessas indústrias existem grandes interesses de amplos setores econômicos "muito bem representados no governo Bolsonaro, presidente que declara guerra à legislação ambiental no Brasil com um modelo de desenvolvimento muito caduco".
Angola, Zâmbia e República Democrática do Congo estão registrando um grande número de focos de incêndio, na verdade, atualmente têm mais ativos do que a Amazônia.
A agência espacial dos Estados Unidos, NASA, diz que desde 21 de agosto passado houve mais de 7.000 incêndios em Angola e 3.395 na República Democrática do Congo, onde predominam as áreas de savana.
No entanto, a diferença entre os incêndios do continente africano e os da Amazônia é que o fogo é considerado parte de sua cultura e é utilizado, entre outros usos, para a queima de restos de galhos e folhas que permanecem nos terrenos com a intenção de queimar e cultivar os campos, o sistema chamado "slash and burn" em inglês.
Os incêndios no continente africano não são tão perigosos quanto os da Amazônia, que estão fora de controle. O fogo que queima na África é estável ao longo do tempo, passa ano após ano e não está mudando. Todos os pontos vermelhos vistos nas imagens de satélite são o resultado da atividade agrícola.
No entanto, não devemos desviar os olhos do continente. Como a Amazônia, a floresta tropical na bacia do Congo corre o risco de ser atingida novamente por incêndios descontrolados, afirma o Greenpeace África, em um comunicado.
A floresta da Bacia do Congo abriga aproximadamente um milhão de indígenas, que são seus primeiros guardiões, além de milhares de espécies que dependem dela. Também serve como um escoadouro de carbono e desempenha um papel vital na regulação climática global.
Os incêndios na Sibéria também estão contribuindo significativamente para as mudanças climáticas. Desde o início do ano, as chamas queimam um total de 13,1 milhões de hectares.
O Greenpeace, que está documentando os incêndios florestais nesta área, relata que as chamas neste verão atingiram tamanho e força sem precedentes. A ONG afirmava, no início de agosto, que esses incêndios estão emitindo mais de 166 milhões de toneladas de CO2 na atmosfera, representando "quase o mesmo que 36 milhões de carros por ano".
As chamas que queimam na Sibéria são semelhantes às da Amazônia. O professor de Incêndios Florestais e Mudança Global da Universidade de Lleida, Victor Resco, disse que "a Sibéria e a Amazônia têm semelhanças em efeitos, mas não em causas". Nos dois lugares, há muito carbono e, se é queimado, vai direto para a atmosfera. O incêndio gera uma diminuição na capacidade de absorver e assimilar o carbono e altera as temperaturas.
Concretamente, de acordo com o Greenpeace, os incêndios nas florestas siberianas são especialmente perigosos para o clima devido à sua produção de carbono negro, que é depositado no gelo do Ártico e acelera sua fusão.
Mais de 90% dos incêndios florestais na Rússia estão ardendo nas chamadas "zonas de controle", áreas remotas onde as autoridades não são obrigadas a combater as chamas. O Greenpeace Rússia exige uma revisão dessas zonas de controle para evitar que o mesmo desastre ocorra novamente no próximo ano.
A Indonésia é outro país com um dos ecossistemas mais ricos do planeta, mas o quinto maior emissor mundial de gases do efeito estufa e sofre uma das maiores taxas de desmatamento, de acordo com os dados mais recentes do Global Forest Watch.
O especialista em incêndios florestais, Victor Resco, ressalta que os incêndios na Indonésia são provenientes do solo, ou seja, não há chamas visíveis, apenas fumaça pode ser vista no meio ambiente. O professor diz que a preocupação com esse tipo de incêndio é que geram turfeiras tropicais e armazenam muito carbono no solo que, quando queimado, prejudicam diretamente a atmosfera.
O desmatamento emite grandes quantidades de gases do efeito estufa que tornam mais críticas as mudanças climáticas e, quando aumenta, as temperaturas se situam em números históricos e diminuem as chuvas.
Neste verão, o planeta Terra pôde experimentar a sensação de urgência e crise global em todos os continentes. Vimos como a Islândia realizava um funeral pelo desaparecimento de uma geleira, como a Groenlândia está perdendo grandes áreas de gelo, como Paris e a Europa central derreteram com temperaturas recordes, quando o termômetro no Alasca marcava 32 graus, entre outros fenômenos que florescem de maneira terrível com o passar do tempo.
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Não é só a Amazônia. O que distingue os diferentes incêndios no planeta? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU