26 Agosto 2019
Rayanne Cristine Máximo França, indígena que luta em defesa da natureza: "A Amazônia é nossa, não de Bolsonaro". "Não esqueçamos o apelo do Papa Francisco: Deus sempre perdoa, a natureza nunca".
A entrevista é de Raffaella Scuderi, publicada por La Repubblica, 23-08-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
"Deus sempre perdoa, os homens às vezes. A natureza nunca perdoa". Rayanne Cristine Máximo França, ativista indígena da Amazônia brasileira, resume nas palavras do Papa Francisco o que ela pensa sobre o destino de sua terra. A jovem de 24 anos da tribo Baré vive em Brasília, mas cresceu na floresta, onde os pais ainda moram.
"Nos últimos anos, nós indígenas experimentamos um desenvolvimento acelerado que influenciou intensamente a floresta amazônica".
Por exemplo?
A invasão de madeireiros, o desmatamento e a entrada de grandes empresas em nossas terras. A natureza respondeu de acordo.
Quais são os temas de suas lutas?
O desmatamento. Mas quando levantamos nossas vozes em defesa da terra e dos direitos dos indígenas, somos criminalizados. Defender a Amazônia se tornou o maior crime.
Em que sentido?
Sempre cuidamos do meio ambiente. Faz parte da nossa cultura. Para nós, a natureza é como uma mãe. Nós somos os guardiões da floresta. Sabemos onde semear, plantar e quando é hora de colher. É por isso que somos perseguidos.
De que maneira?
Quantos ativistas foram mortos no Brasil? Muitos. Mais do que em qualquer outro lugar.
O presidente Bolsonaro na campanha eleitoral acenou positivamente para os latifundiários.
De fato. Esse governo não possui uma política ambiental. Ele não se importa com os direitos: à terra, ao território, a um ambiente limpo e seguro. À vida. Aqueles que apoiam Bolsonaro são os grandes proprietários de terras. Desde o início de seu mandato, houve um desmantelamento das políticas ambientais. Agora há um aumento de pesticidas, extração ilegal, rompimento de barragens e invasão de terras.
Você acredita na mobilização internacional que está ocorrendo?
Espero que sim.
Em um vídeo Bolsonaro ri, brinca e se autodenomina Nero. Parece impermeável.
Minimiza as suas decisões e define como sendo sensacionalismo o que está acontecendo.
Você tem confiança no futuro?
Sim. Para um ambiente saudável. Para mim e as gerações futuras. Mas não posso fazer isso sozinha. Apelo à sociedade para que não nos abandone. Nós somos os guardiões das florestas e rios. A Amazônia é nossa, não de Bolsonaro. Não devemos esquecer o apelo do Papa Francisco.
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A ativista que luta contra o desmatamento: “somos nós, os indígenas, os guardiões da floresta” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU