05 Julho 2019
No início dessa primavera [nos Estados Unidos], Paul Campion, da Loyola University Chicago, e eu dedicamos um minuto dos nossos discursos de formatura para exigir uma ação contra as mudanças climáticas. Nós falamos como membros da Class of Zero, uma nova campanha que encoraja os oradores das formaturas a pedirem “zero emissões, zero desculpas e zero tempo a desperdiçar”. Embora eu tenha experiência em energias renováveis, não foi a ciência que me motivou. Foi a minha fé.
O relato é de Robin Happel, graduada pela Fordham University, natural de Jonesborough, no Tennessee, e membro de vários grupos de escritores e ativistas dos Apalaches, como a North Carolina Folklore Society e a NAACP. O artigo foi publicado por America, 03-07-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
No ano passado, eu conheci Marquetta Goodwine, ou a Rainha Quet, uma ex-aluna da Fordham University. Ela é a líder do povo Gullah/Geechee, um grupo de afro-americanos que habitam a terra que se estende pelo Sul estadunidense e se identificam com uma mistura de cultura crioula e africana. Não é exagero dizer que, um dia, a terra Gullah/Geechee pode simplesmente escorregar para dentro do mar.
No começo, eu assumi que a Rainha Quet e eu não teríamos nada em comum. Ela era convidada para falar em reuniões promovidas pelas Nações Unidas; às vezes eu entrava nos briefings da ONU como pouco mais do que alguém da equipe de apoio. O que nos unia, no entanto, era a nossa educação jesuíta compartilhada. Formada na Fordham, a Rainha Quet credita sua alma mater por a ter formado para ser uma líder e por lhe dar conexões com as Nações Unidas que sustentaram sua defesa da justiça climática. Ela, assim como Paul Campion e outras lideranças ambientais que eu conheci, é movida não apenas pela ciência, mas também pela fé.
Estudantes como eu são a geração da Laudato si’. Na época em que o Papa Francisco se encontrou com Greta Thunberg, muitos dos meus amigos e eu já havíamos nos unido à greve estudantil que ela inspirou em todo o mundo para exigir uma ação contra as mudanças climáticas. Inspirado pelo valor inaciano da fé em ação, eu queria fazer mais do que ficar sentado na aula de biologia.
Eu me juntei à Class of Zero e falei sobre a crise climática na graduação, em parte em nome da Rainha Quet, mas também em meu nome e em nome de outros da minha idade que olham para o futuro mais com medo do que com esperança. E me juntei à campanha em nome das pessoas da minha idade que eu nunca encontrei – aquelas que não tiveram a sorte de escapar dos incêndios que assolaram a minha terra natal no leste do Tennessee e daquelas que perderam suas vidas por causa de ciclones, inundações e furacões que ganharam as manchetes e destruíram vidas desde que meus colegas e eu pisamos pela primeira vez no campus da Fordham.
O reitor da Fordham University, Joseph McShane, SJ, gosta de dizer: “A quem muito é dado muito se espera”. Eu aprendi com o Pe. McShane que, para realmente viver os ideais da nossa educação jesuíta, devemos encarnar a “excelência incomodada”, preocupada com o mundo fora dos nossos portões.
Na primavera passada, a Fordham assinou uma declaração climática apoiada pela Conferência dos Bispos dos EUA. Nós também somos clientes do maior sistema de energia solar da cidade de Nova York, que tem o potencial de ajudar a reduzir os custos de energia para muitos fora do nosso campus. Para as famílias que lutam para chegar ao fim do mês, qualquer coisa que ajude a manter as luzes acesas pode mudar a vida. Para aqueles que vivem na pobreza em todo o mundo e são mais afetados pelas mudanças climáticas, temos o dever moral de agir, como afirmado poderosamente pelo papa no início de junho.
É possível inverter a maré ou já passamos dos pontos de inflexão críticos? As tradições de fé do Sul nas quais eu fui criada – o manto do Dr. [Martin Luther] King carregado pela moderna Campanha dos Pobres – sustentam que sempre há tempo para fazer o que é certo. Eu acredito firmemente que me unir à Class of Zero não será em vão. No mínimo, eu saberei que fiz alguma coisa.
Na Laudato si’, o Papa Francisco diz que toda a vida é criada com um propósito. “O solo, a água, as montanhas: tudo é carícia de Deus”, escreve ele. Talvez seja ingênuo acreditar que estudantes como Paul e eu fomos colocados aqui para um propósito. No entanto, a própria essência da fé é acreditar em algo para além de uma existência aleatória e sem sentido.
A minha educação jesuíta me guiou rumo a um caminho de serviço para o bem comum. Assim como a Rainha Quet, o Pe. Daniel Berrigan e outros estudantes da Fordham antes de mim, eu escolho dar continuidade a isso, não simplesmente em um discurso, mas na ação. É realmente uma bênção me formar em uma escola como a Fordham, e a minha promessa é de fazer o que eu puder para transmitir essa bênção, aonde quer que a minha vida possa me levar.
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Geração Laudato si': por que eu fiz o meu discurso de formatura sobre as mudanças climáticas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU