24 Junho 2019
Um ditado norte-americano diz: "A velhice não é divertida". É verdade. Ser idosos é ter que começar do zero a todo momento e fazer isso muitas vezes, obrigados a reaprender coisas básicas, que havíamos inclusive ensinado aos outros por toda a vida. Coisas simples (e incrivelmente complexas) como caminhar, organizar os próprios espaços, cuidar da alimentação, sair de casa, comunicar. Acordamos um dia e nada disso é tão óbvio quanto era antes.
O comentário é do arcebispo português José Tolentino Mendonça, arquivista do Arquivo Secreto do Vaticano e bibliotecário da Biblioteca Apostólica Vaticana, foi professor e vice-reitor da Universidade Católica Portuguesa, publicado por Avvenire, 23-06-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
Ser idosos é fazer o que se fazia, mas muito mais devagar.
Ser idosos é sentir mais frequentemente a tentação de desistir; e, ao mesmo tempo, ter a inexplicável obstinação de recomeçar quando não pareceria mais possível.
Ser idosos é mostrar, no ponto extremo de fragilidade, ter sete vidas. Ser idosos é aceitar o presente, sentindo esgueirar-se tão próxima a imprevisibilidade, e sabiamente rir dela. Ser idosos é fazer mais com menos: saber que só se pode contar na força de uma mão ou no apoio de uma única perna, mas mesmo assim insistir e continuar.
Ser idosos é compreender o valor das migalhas, que sempre foram nosso grande alimento sem que percebêssemos. Ser idosos é lutar para manter uma conversa com um quinto do vocabulário, mas com olhos que falam cinquenta vezes mais.
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Ser idosos. Reflexão de José Tolentino Mendonça - Instituto Humanitas Unisinos - IHU