23 Junho 2019
Em conflito estão os Jesuítas, uma ordem de padres conhecida por educar gerações de católicos, e a poderosa hierarquia da Igreja. Essa é a mais recente batalha de escolas católicas que querem empregar professores gays e lésbicas contra bispos que insistem que todos os empregados devem seguir à risca a doutrina católica.
A reportagem é de Daniel Burke, publicada por CNN, 20-06-2019. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
O que faz desse conflito incomum é que os Jesuítas e suas escolas desfrutam de um grau de independência da hierarquia da igreja. Em contraste com outras escolas católicas forçadas a demitir professores gays, os Jesuítas rejeitaram o pedido do arcebispo Charles Thompson para remover professores.
“É raro que instituições católicas fiquem ao lado de membros da comunidade LGBT, mas ainda mais que também o façam diante a oposição feroz de um bispo”, disse o padre James Martin, um jesuíta e autor de “Building a Bridge: How the Catholic Church and the LGBT Community Can Enter into a Relationship of Respect, Compassion, and Sensitivity” (Construindo uma ponte: como a Igreja Católica e a comunidade LGBT podem entrar em uma relação de respeito, compaixão e sensibilidade).
“Nesse caso, também é raro que um bispo vá tão longe a ponto de remover publicamente a designação de ‘Católica’ da escola”, continuou Martin, que reside em Nova Iorque e não é afiliado à escola.
O catecismo católico ensina que “atos homossexuais são intrinsicamente desordenados”, mas também que as pessoas LGBT “devem ser aceitas com respeito, compaixão e sensibilidade. Todo sinal de injusta discriminação em relação a eles deve ser evitado”.
O decreto do arcebispo Thompson, datado de 21-06, afirma que a Brebeuf Jesuit Preparatory School, em Indianápolis, não será reconhecida ou identificada como uma instituição católica ligada à Arquidiocese.
“Para efetivamente testemunhar a Cristo, mesmo que se ensine religião ou não, todos os ministros nas vidas privadas e profissionais devem transmitir e ser apoiadores dos ensinamentos da Igreja Católica”, disse a Arquidiocese na declaração. “A Arquidiocese de Indianápolis reconhece todos os professores, conselheiros, orientadores e administradores como ministros”.
A Arquidiocese disse que tentou chegar a um acordo com a escola jesuíta, mas falhou.
Na declaração, três administradores da Brebeuf Jesuit Preparatory School disseram que, “respeitosamente, recusaram a insistência e a diretriz da Arquidiocese de que demitíssemos um professor altamente capaz e qualificado, devido ao fato de o professor estar casado com um parceiro e cujo casamento homossexual é civilmente reconhecido”.
O padre Brian Paulson, que lidera a Midwest Province of Jesuits (Província do Centro-Oeste dos EUA da Companhia de Jesus), disse que o professor não ensina religião e “é um empregado valoroso, de longo tempo na escola”. O professor não é nomeado em nenhuma das declarações.
“Até onde sabemos, a intromissão direta da Arquidiocese de Indianápolis em uma questão de emprego de uma escola governada por uma ordem religiosa é sem precedentes", disseram os administradores. “Essa é uma ação única entre as mais de 80 escolas jesuítas secundárias/pré-secundárias que operam nas dioceses pela América do Norte”.
Em 2014 a Arquidiocese de Cincinnati ordenou professores das escolas católicas da cidade a assinarem cláusulas detalhadas de moralidade se quisessem continuar nos seus empregos. Os contratos revisados proibiam professores de – entre outras coisas – exibirem um estilo de vida gay.
Paulson disse que os Jesuítas apelarão dessa nova decisão, primeiro ao arcebispo Thompson, e então, se necessário, ao Vaticano.
Lideranças de Brebeuf, que a fundaram em 1962 como uma escola católica independente, disseram que sempre tiveram controle sobre suas decisões.
“Enquanto a Arquidiocese de Indianápolis pode escolher participar ou não das missas e funções formais da escola, Brebeuf Jesuit é, e sempre será, uma escola católica jesuíta”, disseram os administradores.
Em um tuíte nesta quinta-feira, a escola usou a hashtag #BeBrave para anunciar sua decisão.
We are saddened by today’s news, but we are so grateful for the ongoing support of our community. We are, and always will be, an independent, Catholic, Jesuit school. #BeBrave pic.twitter.com/xCKQKEG86u
— Brebeuf Jesuit (@BrebeufJesuit) 20 de junho de 2019
“Nós entendemos que essas notícias estimularão um centro de emoções, questões e mesmo confusões nos próximos dias”, disseram os administradores da escola. “Por favor, tenha certeza de que a decisão da Arquidiocese não mudará a missão ou operações da Brebeuf Jesuit".
Abaixo a mensagem que foi enviada para a Brebeuf Jesuit Community na quinta-feira, 20-06-2019.
Querida Comunidade Brebeuf Jesuit,
Em nome do Conselho de Administradores da Brebeuf Jesuit Preparatory School, escrevemos para compartilhar notícias sobre a relação da Brebeuf Jesuit com a Arquidiocese de Indianápolis. Queremos informá-los, nossos membros fiéis da comunidade jesuíta de Brebeuf, desta notícia primeiro e convidá-los a orar conosco por um resultado justo e pacífico.
Brebeuf Jesuit foi fundada em 1962 como uma escola católica jesuíta independente. Embora tenhamos mantido uma parceria colaborativa com a Arquidiocese por aproximadamente 57 anos, sempre mantivemos o controle das operações de nossas escolas e governanças, incluindo nossas decisões pessoais. É de nosso conhecimento que a Arquidiocese de Indianápolis, sob direção do arcebispo Charles Thompson, não mais reconhecerá formalmente Brebeuf Jesuit como escola católica na Arquidiocese. Sabemos que um decreto formal anunciando a decisão da Arquidiocese será publicado no The Criterion (Nota de IHU On-Line: The Criterion é o jornal oficial da Arquidiocese de Indianápolis) por volta de sexta-feira, 21 de junho.
O decreto segue um sincero e significativo desacordo entre a Arquidiocese, de um lado, e a Brebeuf Jesuit e a Província dos EUA do Centro-Oeste da Companhia de Jesus, do outro, sobre se a Arquidiocese ou os líderes de nossa escola devem tomar decisões finais de governança relacionadas a assuntos administrativos internos da Brebeuf Jesuit e, em particular, sobre o emprego de nossos professores e funcionários. Especificamente, a Brebeuf Jesuit respeitosamente recusou a insistência e a diretriz da Arquidiocese de que demitíssemos um professor altamente capaz e qualificado, devido ao fato de o professor estar dentro de um casamento homossexual civilmente reconhecido”.
Até onde sabemos, a intromissão da Arquidiocese de Indianápolis em uma questão de emprego de uma escola governada por uma ordem religiosa é sem precedentes; essa é a única ação entre as mais de 80 escolas jesuítas de secundário/pré-secundário que operam nas dioceses da América do Norte, também entre as incontáveis escolas católicas operadas por outras ordens religiosas, como os Irmãos de Cristo, Dominicanos e Irmãos Xaverianos.
Depois de longa e orante consideração, decidimos que seguir a diretriz da Arquidiocese não apenas violaria nossa consciência informada nessas questões particulares, mas também abriria um precedente para futura interferência nas operações da escola e matérias de governança que as lideranças da Brebeuf Jesuit têm historicamente o único direito e privilégio de abordar e decidir.
Além disso, reconhecemos o conflito que aderir a essa ordem causaria em nossos altamente capacitados e qualificados professores e funcionários. Como uma instituição com a missão de desenvolver homens e mulheres para os outros, nossa intenção tem sido fazer a coisa certa para as pessoas que empregamos, preservando nossa autoridade como uma escola católica jesuíta independente.
Desde nossa fundação, a missão da Brebeuf Jesuit como uma instituição católica tem sido derivada da Companhia de Jesus – os jesuítas – que representam a maior ordem de homens na Igreja Católica. Esta posição foi afirmada em nossa estreita consulta com a Província do Centro-Oeste dos EUA da Companhia de Jesus e o advogado canônico de Brebeuf Jesuit. Embora apreciemos nossa parceria de longa data com a Arquidiocese, que elogiou a missão católica da Brebeuf Jesuit em recente avaliação, desanimamos com a escolha do arcebispo de encerrar nossas relações formais. Mesmo assim, nossa identidade como uma instituição católica jesuíta permanece inalterada.
Enquanto a Arquidiocese de Indianápolis pode escolher participar ou não das missas e funções formais da escola, Brebeuf Jesuit é, e sempre será, uma escola católica jesuíta. A Arquidiocese nos assegurou que os padres jesuítas podem continuar servindo a Brebeuf Jesuit e manter-se-ão habilitados para celebrar os sacramentos da Igreja Católica.
À medida que olhamos para o próximo ano letivo, o Conselho de Curadores da Brebeuf Jesuit e a liderança da escola continuarão focados em fornecer uma educação excepcional dentro da tradição jesuíta. Estamos orando para discernir sobre a melhor maneira de prosseguir com o processo de apelação contra a diretriz da Arquidiocese.
Entendemos que essas notícias provavelmente estimularão uma série de emoções, perguntas e até mesmo confusão nos próximos dias. Por favor, tenha certeza de que a decisão da Arquidiocese não mudará a missão ou operações do Brebeuf Jesuit. Com mais de 8.000 graduados ao longo de quase seis décadas, a missão da Brebeuf Jesuit está sendo vivida em todo o mundo. Continuaremos a oferecer um rigoroso programa acadêmico que segue mais de 450 anos de tradição jesuíta e está comprometido com o pensamento expansivo e crítico, a preocupação ética competente e compassiva, a expressão criativa e artística e a excelência fundamentada na fé e na dignidade da pessoa humana.
Pedimos aos membros da comunidade Brebeuf Jesuit que sejam respeitosos com todas as partes envolvidas, e pedimos que você se junte a nós para manter nossos alunos, professores, funcionários e toda a comunidade católica da grande Indianápolis em seus pensamentos e orações.
Vamos mantê-lo informado sobre quaisquer novos desenvolvimentos, e convidamos você a nos contatar em Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo. com perguntas, preocupações e feedback.
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EUA. Um arcebispo ordena que uma escola jesuíta demita um professor gay. Eles dizem não - Instituto Humanitas Unisinos - IHU