10 Junho 2019
Nos últimos meses, e em várias ocasiões Matteo Salvini, líder da Lega (e do governo), exibiu atitudes e símbolos religiosos. Ele beijou o Terço, invocou Nossa Senhora. Enquanto em algumas fotos, nas prateleiras das livrarias, atrás dele, pode ser visto um ícone de Jesus, sob o santinho de Putin e a cabeleira de Trump. Ao lado a foto de Baresi e o boné dos carabinieri. As paixões do vice (?) premier. Que combinam sagrado e profano. De modo aparentemente casual. Porém, assim, sagrado e profano contaminam-se um ao outro. E não nos surpreenderia se, em breve, os personagens religiosos fossem apresentados com a camiseta do time de futebol e o boné dos carabinieri. Salvini, por outro lado, está atento à comunicação. Assistido por uma equipe de consultores altamente qualificados.
O comentário é de Ilvo Diamanti, sociólogo, politólogo e ensaísta italiano, publicado por La Repubblica, 08-06-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
Assim, a combinação de sagrado e profano não é surpreendente. Porque evoca sentimentos diferentes. Expressos por públicos diferentes. Em especial: o pedido por segurança. Por garantias. Mas também de "fé". Afinal, como argumentamos em outras ocasiões, a camiseta e a bandeira do time de futebol atraem mais do que outros sujeitos e ambientes. Políticos, territoriais ... religiosos. Eles geram "fidelidade". Isso é: "fé". É por isso que Salvini os ostenta e propõe juntos. Em uma aparentemente desordem "casual". Mas, na minha opinião, bem "organizada". Porque eles "dialogam" com diferentes públicos. Com diferentes setores do mercado eleitoral e muitos outros componentes de um povo "fiel". Animado pela "fé". Por outro lado, o vínculo entre religião e política, na Itália, tem uma longa história. O partido que governou na Itália por quarenta anos se chamava Democracia "Cristã". Exatamente. Seu símbolo era o Escudo dos Cruzados. Portanto: a cruz. Um verdadeiro partido "nacional".
Mais enraizado e forte, acima de tudo, no Nordeste e nas províncias do norte. Território de pequenas cidades e pequenas empresas. Onde ganhou maciçamente a Lega, nas eleições europeias. Mas também nas eleições políticas de um ano atrás. A região norte da Itália é a verdadeira pátria da Lega. Desde a década de 1980, o tempo das ligas regionalistas, para continuar, nas décadas seguintes, quando a Lega do Norte se impôs. A Lega Padana de Umberto Bossi e, mais tarde, de Maroni. Até a crise profunda da década passada, quando Matteo Salvini superou a identidade política marcada pelo território.
Salvini: atravessou o rio Pó. Para o Sul. E além dos Alpes. Encontrou Marine Le Pen. À direita. A sua Lega é "Nacional". Não só porque expandiu seu território para a Itália. Mas porque, olhando principalmente para a França (depois para os outros partidos soberanistas da Europa pós-soviética), construiu uma verdadeira "Ligue Nationale". Eu a defini assim em 2014. Por similaridade, não só de léxico, com o "Front (hoje Rassemblement) Nacional". Guiado por Marine Le Pen. A referência à religião, aos católicos, portanto, parece uma tentativa de criar raízes em um terreno onde as Ligas, que precederam a Lega de Salvini, surgiram e cresceram. Nos passos da DC.
A Lega de Salvini: teve seu início no "Forza-leguismo" dos anos 1990. Mas foi muito mais longe. No entanto, as raízes são importantes. Porque fornecem uma base de valores. Fundada na tradição. Assim, na iconografia e no discurso de Salvini, apareceram Nossa Senhora e Jesus. Para além das avaliações políticas e, antes ainda, éticas, já expressas pelos ambientes da Igreja e pelos mundo católico, de maneira às vezes áspera, essa escolha estratégica e de comunicação produziu efeitos visíveis.
De fato, no último ano, o peso eleitoral da Lega no eleitorado "católico" cresceu consideravelmente. Como aconteceu entre os eleitores como um todo. Mas em maior medida. (Nando Pagnoncelli também ressaltou isso).
Entre os praticantes regulares - que afirmam ir à missa regularmente todos os domingos (ou quase) - na véspera das últimas eleições europeias, 27% disseram que pretendiam votar na Lega de Salvini. Um número que é ligeiramente inferior à "média" do partido, que duas semanas antes da consulta havia estacionado em torno de 32% (na pesquisa Demos para o Repubblica). E teria subido dois pontos no momento da votação. No entanto, deve-se considerar que, pouco mais de um ano antes, nas eleições políticas de 2018, apenas 12% dos católicos afirmavam votar pela Lega, contra uma média de 17%, entre os eleitores em geral. O voto dos católicos praticantes, portanto, nos últimos meses, parece ter crescido no eleitorado da Lega.
Enquanto, paralelamente, diminuiu entre os eleitores dos outros partidos principais. Em especial, entre os que cederam mais apoio à Lega: Forza Italia e Movimento 5 stelle. Por outro lado, a votação no PD nas eleições europeias, entre católicos praticantes, caiu um pouco em relação às Políticas: de 26 para 24%. Até certo ponto, trata-se de um alinhamento demográfico, já que a base do PD, como a dos católicos praticantes, parece cada vez mais idosa. O peso da FI entre os católicos, por outro lado, caiu significativamente: de 17 para 12%. Mas os M5s "despencaram": de 28 para 17%. (Um partido, aliás, particularmente penalizado pelo voto europeu).
No entanto, entre os italianos, da Lega do Norte e não, apenas 20% consideram o ensinamento da Igreja no plano "ético e pessoal" como "importante". A maioria (relativa: 41%) o considera "útil". Mas depois "cada um se deve regular de acordo com a própria consciência". Todos os outros o olham com distanciamento. A Igreja, portanto, hoje mais do que ontem, fornece um sistema de referências. Um substrato. Que os cidadãos usam "à própria maneira". De acordo com uma lógica "bricolage". Coerente com estes tempos de "voto líquido". Veiculado pelos líderes, mais do que pelos partidos. Anteontem, Berlusconi. Ontem, Renzi. Hoje Salvini. Amanhã: quem sabe.
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Itália. Cresce o peso dos católicos que votam na Lega - Instituto Humanitas Unisinos - IHU