14 Mai 2019
No Salão do Livro de Turim, Timothy Radcliffe apresentou sua palestra sobre "Acreditar em tempos do fundamentalismo". Quem é atraído por algum fundamentalismo não consegue lidar com a complexidade da vida. É o pensamento de Timothy Radcliffe, teólogo e biblista em Oxford, um dos autores católicos mais lidos do mundo, que no Salão refletiu sobre o tema "Acreditar em tempos de fundamentalismos", políticos e religiosos. Entre os quais ele também inscreve os populismos.
A entrevista é de Domenico Agasso Jr., publicada por La Stampa, 12-05-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis a entrevista.
Padre, que riscos podem acarretar?
A incapacidade de dialogar com as pessoas que pensam de forma diferente. Isso pode levar um indivíduo a se fechar em uma bolha mental. E tudo isso é agravado pelos meios modernos de comunicação: os algoritmos nos levam a estar em contato com indivíduos que compartilham nossos preconceitos e medos.
Quem se deixa atrair?
Aqueles que têm dificuldade em se confrontar com as ambiguidades, a riqueza e a complexidade da vida. E o crescimento do populismo - que é uma forma de fundamentalismo - atrai quem se sente deixado para trás.
Você pode nos dar alguns exemplos”
Nos EUA, quem votou em Trump foram muitas pessoas brancas excluídas das elites que dominam a política e a mídia. A mesma coisa aconteceu com o Brexit na Grã-Bretanha. Os coletes amarelos na França expressam um desejo de visibilidade e dizem: ‘Olhe para mim! Eu existo!’. Essa raiva de não ser levados em consideração também acaba atraindo os prisioneiros que se convertem ao Islã e depois se alistam no ISIS.
Que papel o Cristianismo desempenha?
Ele tem uma resposta inteligente e sutil ao desejo de identidade, um dos primeiros elementos eficazes do fundamentalismo. Se você é católico, sabe quem você é. Você pertence a uma comunidade definida com suas próprias tradições. Mas, atenção: você também é ensinado que não sabe plenamente quem você é. O apóstolo São João escreve: ‘agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifestado o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele; porque assim como é o veremos'.
No nível secular, de que atitude precisamos?
Reconhecer a raiva e a frustração daqueles que se sentem marginalizados.
Seria isso suficiente?
Não. É também necessário desmantelar os pressupostos básicos de toda forma de fundamentalismo e ter a força para desafiar toda resposta populista ao sofrimento daqueles que são postos de lado.
O que os cristãos devem fazer?
A Igreja tem algo maravilhoso a oferecer. Somos parte de uma organização local, conhecemos a dor das pessoas. Vamos pensar no Papa Francisco quando ele era arcebispo de Buenos Aires: ele estava imerso na vida das favelas. Mas, ao mesmo tempo, a Igreja é também a instituição mais global que existe, presente em todas as nações. É por isso que o estrangeiro é meu irmão. E Deus geralmente visita as pessoas como um estrangeiro. Devemos estar abertos à presença de Deus nos estrangeiros.
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"Também os populismos são uma forma de fundamentalismo". Entrevista com Timothy Radcliffe - Instituto Humanitas Unisinos - IHU