26 Março 2019
Até que ponto a liturgia é a responsável pela crise de abusos? Segundo o teólogo alemão Benedikt Kranemann, a missa do modo como é celebrada hoje em dia pode ser perigosa, já que consagra “fantasias de poder”, especialmente entre os padres, que podem levar até a ameaças “à integridade física e mental” dos fiéis.
A reportagem é de Cameron Doody, publicada por Religión Digital, 21-03-2019. A tradução é do Cepat.
O liturgista da Universidade de Erfurt convidou desta forma, em um ato ecumênico em Leipzig, a uma análise mais profunda da conexão entre a liturgia e o poder, segundo o portal de notícias dos bispos alemãs, katholisch.de.
Para este especialista, tal conexão foi “muito pouco” pensada, já que a liturgia católica não só reflete a hierarquia da Igreja, como também a fortalece. O teólogo acrescentou que a conexão entre o papel social dos padres, seu ministério na Igreja e a ação sagrada que realizam pode conduzir a um “clericalismo devastador”.
Mas, não é que a liturgia atual perpetue só, segundo Kranemann, uma imagem muito hierárquica da Igreja ou um clericalismo que contribuiu à crise de abusos. A missa também é problemática pelo que falta em termos da dimensão ecumênica. Olhar a liturgia católica a partir dos pontos de vista das demais igrejas “pode ajudar a revelar onde a autorrealização e a autoexaltação no culto entram em conflito com a missão das igrejas cristãs e à custa do testemunho cristão comum tão necessário na sociedade de hoje”, explicou o liturgista.
Uma reforma da liturgia é só uma das coisas que os leigos alemães estão reivindicando como resposta à crise de pedofilia. Por sua parte, Thomas Sternberg, presidente leigo do influente Comitê Central dos Católicos Alemães, receita para uma Igreja submergida em uma “profunda angústia” que os leigos “compartilhem responsabilidades” com os bispos no “corpo da Igreja”, para juntos “em comunidade” recuperar a “confiança perdida”.
“Nós (no Comitê Central) estamos convencidos de que a confiança só se pode recuperar através de passos sustentáveis de reforma”, declarou Sternberg ao Catholic News Service. “Somos a favor da ordenação complementar de homens casados e de abrir espaços consagrados – de momento, o diaconato – às mulheres, de estruturas administrativas justas, de um sistema de gestão, de um sistema de jurisdição penal e embora não menos importante de uma responsabilidade de liderança sinodal entre todos os fiéis da Igreja”.
São propostas, especificou Sternberg, que são importantes para além, inclusive, da crise de abusos. “São questões para a sustentabilidade futura da Igreja como espaço para a proclamação da Boa Nova de Jesus Cristo em nosso tempo”, concluiu.
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Um liturgista alemão culpa as “fantasias de poder” da missa pela crise de abusos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU