14 Março 2019
Desde ontem de manhã, circularam rápido as informações mais objetivas sobre o tiroteio na Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano, na Grande São Paulo. Pelo menos 10 pessoas morreram e outras 11 ficaram feridas. Os dois atiradores – Luiz Henrique de Castro, de 25 anos, e Guilherme Taucci Monteiro, de 17 – eram ex-alunos. Entraram encapuzados na escola, com um revólver, uma besta, um arco e flecha e uma machadinha. Atiraram contra trabalhadores e colegas e se mataram em seguida.
Embora não tenha sido o primeiro caso do tipo (o Estadão lembra outros tiroteios em escolas no Brasil, como o de Realengo em 2011 e o de Medianeira no ano passado), é claro que discussões sobre a flexibilização do porte de armas voltaram à mesa.
A informação é publicada por Outra Saúde, 14-03-2019.
Simploriamente, o general Mourão atribuiu os crimes aos videogames. "Na minha opinião (…) vemos essa garotada viciada em videogames (…) videogames violentos. Tenho netos e os vejo muitas vezes mergulhados nisso aí", disse, afirmando que o debate sobre armas não tem nada a ver com a questão. "Vai dizer que a arma que os caras estavam lá era legal? Não era. Não tem nada a ver, né?".
Flávio Bolsonaro foi mais longe e culpou o Estatuto do Desarmamento, acompanhando pelo major Olimpio, que defendeu nas redes sociais que a tragédia seria evitada se os professores estivessem armados. Ele ainda falou que a redução da maioridade penal poderia inibir casos como este... Desconsiderando que em geral os atiradores se matem no fim. Já Bolsonaro demorou seis horas para dizer algo. Prestou condolência às famílias e disse que foi "uma covardia e monstruosidade sem tamanho".
Em tempo, ter gente armada nas escolas é também o que defende Donald Trump em seu país. E, lá, alguns estados já fazem isso. Mas o Nexo explica por que é uma ideia sem sentido: os dados disponíveis sobre circulação de armas e crimes violentos refutam fácil o argumento.
Bom, por enquanto ainda não se descobriu nada sobre videogames. Mas já se sabe outra coisa: segundo a apuração do R7, Guilherme e Luiz frequentaram o Dogolachan, um fórum acessível na dark net e usado por homens que seu autointitulam 'masculinistas', que nutrem ódio por minorias e reverenciam quem comete esse tipo de crime. Nos 'chans', usuários não precisam se identificar e podem basicamente fazer e falar qualquer coisa.
Os rapazes chegaram a pedir dicas por lá sobre como fazer o atentado. "Fique com Deus, meu mentor. O sinal será a música no máximo 3 dias depois estaremos diante de Deus, com nossas 7 virgens", mostra o print de uma mensagem supostamente enviada ao administrador do fórum.
Pouco depois das mortes, os dois já eram heróis nos chans, embora alguns usuários lamentem o fato de que eles não conseguiram matar mais gente. Para quem não sabe ou lembra, a professora e militante feminista Lola Aronovich passou quase uma década denunciando as ameaças e ações de ódio contra ela por parte de frequentadores desses espaços, que chegaram a expor seu nome e endereço. O Dogolachan foi enfim alvo de uma grande operação da Polícia Federal, e no ano passado um dos seus criadores foi preso e condenado a 41 anos. O outro está foragido.
Quando aconteceu o massacre em Realengo, Lola foi a primeira a apontar uma possível ligação entre Wellington Menezes de Oliveira, autor do crime, e fóruns de masculinistas. Estava certa: a polícia acabou descobrindo sua relação com o Homini Sanctus, que depois deu origem ao Dogolachan. Ontem, em seu blog, Lola escreveu que deixou de acompanhar o fórum depois que ele foi para a dark web. "Entretanto, durante os quatro anos e pouco que li o chan , posso dizer que não houve um só dia em que os membros não fantasiavam com o dia em que teriam acesso livre a armas de fogo. Todos votaram em Bolsonaro, o candidato que lhes prometia isso". (Mas atenção, a foto que está circulando com um dos atiradores de camisa do Bolsonaro é montagem).
A coordenadora da escola, Marilena Umezu, foi a primeira pessoa a ser morta. No início do ano, tinha se manifestado no Facebook sobre armas: "Somos a favor do porte de livros".
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Massacre em escola de Suzano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU