13 Fevereiro 2019
"Como brasileiros, permaneceremos vigilantes e exigimos que o governo não poupe esforços para fortalecer a democracia e priorizar políticas que visem a melhoria dos serviços de saúde e educação, o combate ao desemprego e a redução da desigualdade social", afirmam os Dominicanos do Brasil em nota pública.
"O oposto mais cotidiano ao amor de Deus, à compaixão de Deus, é a indiferença. (...) Que meu coração seja curado dessa doença”, Papa Francisco, 08.01.19
Assim como o Senhor dirigiu a Jeremias e colocou suas palavras na boca do profeta, nós frades dominicanos – reunidos em Assembleia – que recebemos do Senhor a vocação de sermos pregadores de sua Palavra, não podemos ficar indiferentes, ou mesmo com medo, de nos colocarmos à frente para atuar em defesa da vida, dos direitos dos pobres e dos direitos da Terra.
A fidelidade a Jesus e aos propósitos de São Domingos levaram historicamente a Família Dominicana a se envolver diretamente com a causa da Justiça e da Paz, que se traduziu, por exemplo, na defesa dos direitos dos indígenas na América Latina, na luta contra o Apartheid na África do Sul ou na luta contra a ditadura militar no Brasil. Nomes como Frei Antonio Montesinos, Frei Bartolomeu de Las Casas, Frei Gil Vilanova, Frei Tito de Alencar, entre tantos outros, servem hoje de inspiração e convocação para que lutemos, mais uma vez, por esses valores. Com eles enfrentamos este momento conturbado da história nacional, no qual somos chamados a sermos luz no meio da escuridão (Mt 5, 13-16).
Em razão do mandamento do Senhor, pela fidelidade ao Evangelho e a herança que recebemos de nosso Pai São Domingos de Gusmão, repudiamos:
1. O rebaixamento dos direitos dos mais pobres decorrente de projetos de reformas previdenciárias e trabalhistas que reforcem as vantagens de categorias já privilegiadas.
2. A criminalização dos movimentos populares e das ONGs, em contradição com o princípio constitucional de fortalecimento da sociedade civil e da democracia;
3. A multiplicação do preconceito e da discriminação em relação a vários grupos sociais, especialmente à comunidade LGBTI+;
4. O esvaziamento da reforma agrária, a redução das terras indígenas e dos territórios quilombolas, em afronta aos direitos dos sem-terra, dos povos originários e dos afrodescendentes;
5. O desmatamento da Amazônia e a privatização do patrimônio público;
6. A liberação da posse de armas e, em breve, a flexibilização de seu porte.
Como brasileiros, permaneceremos vigilantes e exigimos que o governo não poupe esforços para fortalecer a democracia e priorizar políticas que visem a melhoria dos serviços de saúde e educação, o combate ao desemprego e a redução da desigualdade social.
Como cristãos, assumimos o compromisso de atuar profeticamente para que toda a nossa nação alcance o anseio de Jesus de “que todos tenham vida e vida em abundância” (Jo 10, 10).
Como discípulos de Cristo, conclamamos todas as pessoas de fé, incluindo as autoridades da Igreja Católica, a assumirem sua missão evangélica, fazendo-se presença e voz atuante no anúncio da Justiça e da Paz;
Como frades dominicanos, fieis à nossa história, conclamamos todo o povo a reforçar a organização e o protagonismo social e revigorar as energias na luta em favor de uma sociedade democrática, justa, fraterna e solidária.
Ordem dos Frades Pregadores
Província Frei Bartolomeu de las Casas
São Paulo, 24 de janeiro de 2019.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
“Tenho de gritar, tenho de arriscar”. Frades Dominicanos do Brasil reafirmam valor da Democracia, da Justiça e da Paz - Instituto Humanitas Unisinos - IHU