Por: Stefany Rocha | 09 Janeiro 2019
“Vivemos um tempo em que estamos constantemente correndo atrás. O que ninguém sabe é correndo atrás de quê”. A frase do sociólogo polonês Zygmunt Bauman reflete a instabilidade e mutabilidade que ele enxergava na sociedade pós-moderna.
Falecido no dia 09 de janeiro de 2017, aos 91 anos, Bauman deixou uma obra com mais de 50 livros publicados, além de inúmeros artigos. Crítico da sociedade contemporânea, seu trabalho se tornou amplamente conhecido e premiado, transformando-o em um dos pensadores mais renomados da atualidade.
Anticapitalista e antiglobalização, buscando entender os processos sociais da sociedade moderna, tratava questões sobre as relações humanas e suas transformações. Individualidade, amor, consumo, redes sociais, desigualdade social, entre outros, são alguns dos temas que marcaram sua obra. Apesar da fama de pessimista na forma com que observava o espírito do tempo, seu trabalho alcançou não só o meio acadêmico, mas também fora deste círculo.
Bauman, ao olhar para o mundo, partia do ideal de que a condição humana deve ser tratada em seu valor ético e humanitário. Preocupado em falar sobre a ‘cegueira moral’ e despertar as pessoas da indiferença aos problemas sociais, era um assíduo questionador dos governos neoliberais que incentivam o capitalismo e deixam de lado suas responsabilidades com a justiça social.
Sua crítica ao mundo pós-moderno popularizou-se através da expressão ‘modernidade líquida’. “Escolhi chamar de ‘modernidade líquida’ a crescente convicção de que a mudança é a única coisa permanente e a incerteza a única certeza”, dizia.
Inconstante e facilmente modificada, fluida como líquido, foi assim que Bauman caracterizou a sociedade e as relações atuais. Para ele, a instabilidade da economia, as novas tecnologias, o medo que se reproduz na sociedade e o espaço público passando a ser ocupado pelo consumo acabam por nos deixar inseguros frente às tentativas de nos inserirmos nos padrões sociais. Estes, por sua vez, também seguem em constante transformação.
Hoje, o pensamento de Bauman está presente quando a sociedade pós-moderna é tomada pela incerteza do futuro. Com seu ceticismo, o sociólogo já alertava para os riscos da expansão dos governos populistas como preenchimento de um espaço causado pela perda de confiança na política e pela crise democrática. "As pessoas já não acreditam no sistema democrático porque ele não cumpre suas promessas", enunciava.
Dois anos após sua morte, seu legado é cada vez mais um retrato da vida cotidiana, uma vez que a modernização do mundo de hoje faz com que nada dure muito tempo, sempre há necessidade de mudança; há necessidade de dissolver tudo que é sólido. Já dizia Bauman: “vivemos em tempos líquidos. Nada foi feito para durar”. Em meio ao derramamento de conceitos e relações, sua obra permanece.
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Bauman: mundo líquido, obra sólida - Instituto Humanitas Unisinos - IHU