09 Novembro 2018
“Com maioria na Câmara dos Representantes, pela primeira vez, desde 2010, os democratas podem bloquear a agenda legislativa republicana. Também poderão controlar diversos comitês de supervisão para convocar audiências e emitir pareceres, por exemplo, para investigar as finanças de Trump, a interferência russa nas eleições e os escândalos por assédio sexual do recentemente eleito juiz da Suprema Corte, Brett Kavanaugh. Podem também introduzir pedidos de impeachment contra Trump, mas sem uma maioria no Senado é muito difícil que tenham condições de conquistar uma ação a favor”, analisa Silvina Romano, doutora em Ciência Política, membro do conselho executivo do Centro Estratégico Latino-Americano de Geopolítica – CELAG, em artigo publicado pelo mesmo, 07-11-2018. A tradução é do Cepat.
- Encerram-se oito anos de maioria republicana na Câmara dos Representantes dos Estados Unidos.
- A onda democrata anunciada não teve o impacto esperado para demonstrar uma maioria oposta a Donald Trump em nível nacional.
- Persiste a polarização. Uma parte do país, de distritos suburbanos de áreas metropolitanas, favoreceu os democratas na Câmara Baixa. Outra parte do país, proveniente de áreas rurais, conservadoras, favoreceu os republicanos.
- Trump participou ativamente na campanha, advertindo o que se estava votando era a respeito dele próprio e a persistência ou não do America First.
- Os republicanos conservam maioria no Senado e os novos representantes são aliados de Trump. O presidente reorganizou o partido em seu favor, impondo-se ao establishment republicano.
- Foram as eleições legislativas mais caras dos últimos tempos e as de maior participação nos Estados Unidos.
- A mulheres se mobilizaram e votaram contra Trump. Destaca-se o número de mulheres e a diversidade racial e religiosa. As mulheres ocupam 84 cadeiras na Câmara Baixa, projetando uma possível ocupação de 100 cadeiras. Em nível nacional, apresentaram-se como candidatas ao Congresso e a governadoras 277 mulheres, algo histórico. Pela primeira vez, há representantes muçulmanas e indígenas na Câmara.
- Não houve interferência russa nas eleições.
Pela primeira vez, há duas mulheres muçulmanas na Câmara Baixa (Ilhan Omar, por Minnesota, e Rashida Tlaib, por Michigan). Ao mesmo tempo, Sharice Davids, no Kansas, e Deb Haaland, no Novo México, serão as primeiras indígenas na Câmara. Alexandria Ocasio-Cortez, de 29 anos (Nova York), será a representante mais jovem do Congresso (democrata que trabalhou junto com Bernie Sanders nas primárias disputadas com Hillary Clinton).
Os democratas tiveram boa performance em estados da Upper Midwest (Minnesota, Wisconsin e Michigan). Em Wisconsin, o democrata Tony Evers derrotou o governador Scott Walker.
Também conquistaram uma vitória no Kansas, com Laura Kelly, frente ao candidato republicano proposto por Trump, Kris Kobach. Impuseram-se em distritos suburbanos da Virgínia, Colorado e Florida.
Em Vermont, Bernie Sanders, apresentando-se como independente (não pelo Partido Democrata), venceu pelo terceiro período consecutivo.
Os republicanos conquistaram os assentos incumbents aos democratas em Indiana, Dakota do Norte e Missouri, e também conseguiram se impor no Texas e Tennessee.
No Texas, venceu Ted Cruz, em uma disputa muito acirrada com o democrata Beto O’Rourke, deixando a sensação de que o Texas, muito em breve, será um Estado democrata.
Em Estados chave como Florida, Arizona e Montana, a margem mínima entre republicanos e democratas retarda a publicação de resultados.
A maioria dos e das representantes republicanos que venceu são aliados de Donald Trump: Mike Braun, de Indiana, Josh Hawley, de Missouri, Kevin Cramer, de Dakota do Norte, e Marsha Blackburn, de Tennessee, que substituirá o senador Bob Corker, que se aposenta. Isto mostra como o presidente está reconstruindo o partido sob sua medida. Trump venceu o establishment republicano.
Foram disputados 36 estados. Foram eleitos 18 republicanos e 15 democratas, com três estados pendentes de definição em razão da pouca diferença de votos.
Os democratas venceram em Illinois, Pensilvânia, Colorado, Michigan, Califórnia, Minnesota, Novo México, Wisconsin, Nevada, Havaí, Oregon, Maine, Rhode Island, Nova York e Nevada.
Os republicanos venceram em Massachusetts, Arkansas, Texas, Florida, Tennessee, Vermont, Maryland, Dakota do Sul, Idaho, Alabama, Oklahoma, Arizona, Nebraska, Iowa, Ohio, Carolina do Sul, Nova Hampshire e Wyoming.
Um dado importante é que os democratas perderam em dois estados chave para as próximas eleições: Ohio e Florida. Neles, Trump terá aliados importantes, caso busque uma reeleição.
Na Florida, venceu o republicano Ron DeSantis, que contou com o apoio absoluto do presidente dos Estados Unidos. Assim, soma-se um estado chave à estética política de Trump, que impulsionou a candidatura de DeSantis via Twitter. Em sua campanha, o candidato republicano acusou seu adversário democrata de ser um socialista e de querer transformar a Florida em uma Venezuela.
Outro estado crucial para as próximas eleições presidenciais é a Geórgia. Lá, a acirrada disputa entre o republicano Brian Kemp e a afrodescendente democrata Stacey Abrams, dificulta a publicação dos resultados.
Judicialização da política nos Estados Unidos? Com maioria na Câmara dos Representantes, pela primeira vez, desde 2010, os democratas podem bloquear a agenda legislativa republicana. Também poderão controlar diversos comitês de supervisão para convocar audiências e emitir pareceres, por exemplo, para investigar as finanças de Trump, a interferência russa nas eleições e os escândalos por assédio sexual do recentemente eleito juiz da Suprema Corte, Brett Kavanaugh. Podem também introduzir pedidos de impeachment contra Trump, mas sem uma maioria no Senado é muito difícil que tenham condições de conquistar uma ação a favor.
A líder democrata da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, afirmou que o triunfo de seu partido restaurará o sistema de controle habilitado pela Constituição para fiscalizar o Governo de Trump e o Senado.
Os republicanos persistirão na conquista de prioridades como anular e substituir a lei de saúde, Affordable Care Act, e aprofundar as mudanças no sistema tributário dos Estados Unidos.
Em relação à reforma migratória de Trump, vários projetos de lei foram rejeitados em 2018, tanto no Senado, como na Câmara, com os votos contra de representantes republicanos. A reconfiguração do Senado pode gerar um clima neste sentido, somando maior adesão a Trump, para combater a oposição na Câmara Baixa, de maioria democrata.
Não obstante, Trump ainda pode governar por decreto em algumas áreas, como o da política comercial (por meio de ordens executivas, como fez Obama). O Congresso, em geral, não tem maior incidência nestes aspectos, e o presidente pode continuar pressionando com êxito para impor sua agenda. Isto inclui a guerra comercial com a China – tema que, além disso, contaria com o apoio do Congresso bipartidarista em alguns aspectos.
O presidente do Comitê de Relações Exteriores, Bob Corker (Tennessee), será substituído, provavelmente, por James Risch (Idaho), que se autoproclama como um dos membros “mais conservadores” do Congresso. Como segunda opção, destaca-se Marco Rubio (Florida), com um claro histórico antigoverno progressistas latino-americanos.
O Comitê de Assuntos Exteriores da Câmara dos Representantes é presidido pelo republicano Ed Royce (Califórnia). Em razão do triunfo democrata, provavelmente seja substituído por Eliot Engel (Nova York), que se opõe à política migratória de Trump e é factível que pressione para aprofundar as investigações sobre a “interferência russa” nas eleições presidenciais de 2016.
Foram notificados problemas em Geórgia, Arizona, Florida, Nova York, Michigan e Texas, porque os lugares de votação não abriram a tempo, já que as máquinas para votar não funcionaram ou não tinham papel. El alguns lugares, como em Geórgia, aguardaram até três horas para votar.
Contudo, não houve interferência russa nas eleições dos Estados Unidos: “Tratou-se de problemas técnicos, de equipamento, não vinculados a atividades maliciosas na rede”, advertiu membros de Homeland Security.
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Estados Unidos. Análise preliminar das eleições legislativas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU