31 Outubro 2018
“Não são os jovens que precisam de nós, adultos; somos nós que precisamos deles. É a sociedade, é a Igreja que precisa deles.”
A opinião é do teólogo e padre italiano Armando Matteo, professor de teologia fundamental da Pontifícia Universidade Urbaniana, em artigo publicado no sítio Settimana News, 29-10-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eu tive um sonho. Era o dia 28 de outubro de 2018. Ao término da solene celebração eucarística presidida pelo Papa Francisco, para a conclusão do Sínodo sobre os jovens, um cardeal se levanta e lê uma mensagem. Ei-la.
A vocês, adultos do mundo, dirigimo-nos nós, Padres sinodais. Nos últimos dias, convocados aqui em Roma, sob a amável orientação de Francisco, recolhemos o grito dos jovens: o grito dos filhos e filhas de vocês. É um grito de justiça dirigido a todos nós, adultos, e a todos nós, já velhos. E o grito dos jovens é este.
É o grito de quem pede que não lhe seja tirada a possibilidade de fazer a sua parte nesta história.
É o grito de quem está cansado de ser chamado de “jovem”, apenas para receber a amarga indicação pela qual haverá um tempo – só Deus sabe quando – em que poderá finalmente receber este mundo das nossas mãos adultas.
É o grito de quem está irritado por ser chamado de “jovem” apenas para ficar sabendo que a sua tarefa seria a de “não perturbar” a nós, adultos, enquanto destruímos com incrível precisão e cinismo esta sociedade, este belíssimo planeta, a nossa mãe Igreja.
É o grito de quem, além de qualquer medida, está decepcionado por ser chamado de “jovem”, apenas para a recordação daquela amena banalidade de que lhe faltaria aquela experiência do mundo que nós, adultos, teríamos em abundância. Talvez nos esquecemos de que ninguém nasce no mundo já sabendo?
Mas os jovens nascem no mundo com tudo o que devem ter para renovar, revigorar, re-humanizar este mundo. Sua potência de ser é algo único em termos de força e de capacidade de visão.
Francisco nos lembrou que as características do ser dos jovens são as mesmas características de Deus. E é exatamente assim.
Mas, se é exatamente assim, então não percamos tempo.
Porque é hora de que nós, adultos, passemos a bola. Os jovens estão prontos.
Foi isso que nós entendemos nestes dias. E também entendemos que não são os jovens que precisam de nós, adultos; somos nós que precisamos deles. É a sociedade, é a Igreja que precisa deles.
Não subtraiamos dos jovens, por ainda mais tempo, a oportunidade de dar uma nova vida e uma vida nova a esta nossa sociedade e a esta nossa Igreja, demasiadamente “desfiguradas” por nós, adultos.
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Sínodo: cansados, irritados, decepcionados por serem chamados de ''jovens''. Artigo de Armando Matteo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU