26 Setembro 2018
"Não percebem que mais ninguém os escuta, nem acredita em vocês? Na verdade falta nos convertermos, descobrir que para estar ao lado de vocês devemos reverter tantas situações que são, definitivamente, as que os afastam". Francisco fez uma rápida apropriação das reclamações que os jovens levantaram para o Sínodo que acontecerá neste mês de outubro durante um vibrante encontro ecumênico na igreja luterana de San Carlos, em Tallin, capital da Estônia.
A informação é publicada por Religión Digital, 25-09-2018. A tradução é de Graziela Wolfart.
O Papa, o bispo luterano e outros líderes religiosos entraram juntos no templo, em procissão que simboliza o desejo de unidade dos cristãos. Francisco foi recebido com aplausos e cantos de jovens, que para além das divisões, sentem-se unidos pelo Evangelho de Jesus e pela luta por um mundo melhor. “Sempre é bom nos reunir, compartilhar testemunhos de vida, expressar o que pensamos e queremos; e é muito lindo estarmos juntos, nós que acreditamos em Jesus Cristo”, apontou o Papa, que se comprometeu em "confiar o coração ao companheiro de caminho sem receios, sem desconfianças", assinalou depois o Papa no discurso que havia escrito.
Tal como apontou o bispo luterano, na Estônia não é sempre que as igrejas estão cheias como hoje. O país é, na Europa, o que menos crentes possui, e o que mais sofre com o que denominou como "analfabetismo religioso". Depois de escutar os testemunhos de Lisbel, Tauri e Mirko, Francisco tentou entender as razões desse afastamento da fé.
Na abside do templo, uma frase do Evangelho de São Mateus: “Vinde a mim todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu os aliviarei”. Algo que o Papa assumiu como próprio: "Vocês, jovens cristãos, conseguem se identificar com alguns elementos desta passagem do Evangelho". Por que os jovens já não recorrem à Igreja para se aliviar?
O Papa assinalou algumas das razões, fazendo suas as conclusões do Pré-Sínodo de jovens. "Muitos de vocês pediram que alguém os acompanhasse e os compreendesse sem julgar e que soubessem escutar, como também responder as suas perguntas".
Não é sempre que isso acontece. Assim, lamentou que "nossas igrejas cristãs – e me animo a dizer que todo processo religioso estruturado institucionalmente – às vezes adotam estilos onde é mais fácil falar, aconselhar e propor a partir de nossa experiência, do que escutar, deixar-nos interpelar e iluminar a partir do que vocês vivem".
Mas o Papa foi além, assumindo como próprios os desejos e esperanças desses rapazes e moças. "Hoje, aqui, desejo lhes dizer que queremos chorar com vocês se estão chorando, acompanhar com nossas palmas e nossa risada suas alegrias, ajudá-los a viver o seguimento do Senhor".
Deste modo, Francisco admitiu que "muitos jovens não nos pedem nada porque não nos consideram interlocutores significativos de sua existência". "Alguns, inclusive, pedem que os deixemos em paz, sentem a presença da Igreja como algo chato e até irritante", reconheceu o Pontífice.
É que os jovens "ficam indignados com os escândalos econômicos e sexuais diante dos quais não veem uma firme condenação, e não sabemos interpretar adequadamente a vida e a sensibilidade dos jovens por falta de preparação, ou simplesmente atribuímos a eles um papel passivo".
Diante disso, o Pontífice se comprometeu a construir "uma comunidade transparente, acolhedora, honesta, atraente, comunicativa, acessível, alegre e interativa", tal como os jovens pediram ao Papa.
Francisco quis dar uma mensagem de otimismo, porque "apesar de nossas faltas de testemunho, vocês continuaram descobrindo Jesus no seio de nossas comunidades. Porque sabemos que onde está Jesus sempre há renovação, sempre há oportunidade para a conversão".
"Parecia que o amor estava morto, mas nós sabemos que não, e temos uma palavra para dizer, algo para anunciar, com poucos discursos e muitos gestos. Porque vocês são a geração da imagem e da ação sobre a especulação, sobre a teoria", destacou o Papa, salientando como além da pertença a uma ou outra confissão, "a a fé em Jesus é o que nos une, e é Ele que está esperando que o levemos a todos os jovens que perderam o sentido de suas vidas".
"O amor não está morto, nos chama e nos envia. Peçamos o dom apostólico de levar o Evangelho aos outros e de renunciar a fazer de nossa vida cristã um museu de recordações", concluiu Francisco.
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"Muitos jovens não nos pedem nada, porque não nos consideram interlocutores de sua existência", constata o Papa Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU