16 Julho 2018
Nestes dias, o Papa deve ter dado um pontifical salto em sua cadeira em Santa Marta quando entregaram-lhe a página de um importante jornal chinês sob controle governamental - o Global Times.
O comentário é de Alberto Melloni, publicado por La Repubblica, 14 -07-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
Um artigo de Zhang Yu, um jornalista que escreve frequentemente sobre relações sino-vaticanas, forneceu informações sobre mais uma entrevista do papa concedida à Reuters, e com esse pretexto enviava três mensagens um tanto criptografadas, mas que chegaram ao seu destino, no Vaticano.
A primeira mensagem é que Francisco pode visitar a China.
O Global Times colocou na boca de um professor chinês que vive nos EUA palavras afirmando que se Bergoglio pudesse visitar Pequim a viagem teria "um significado e um impacto maior do que aquele de Nixon em 1972", e que representaria um "desenvolvimento extraordinário que mudaria o mundo." Proposições verdadeiras, senão óbvias, colocadas na fala de um cavalheiro inofensivo do ponto de vista da propaganda chinesa. Mas que, publicadas naquele jornal, tornam-se um sinal positivo, mesmo com o risco de "queimar" o diálogo em andamento.
A segunda mensagem é que os chineses estão se esforçando para compreender a maneira pela qual o Papa enfrenta àqueles que contestam o diálogo.
Bergoglio assumiu o estilo diplomático de João XXIII, que quando queria tomar distância de maneira irrevogável de alguém, dizia dele: "Porém, é bom...". Em Pequim os funcionários inteligentes aprenderam que quando o papa diz que os cardeais que contestam "são bons" não quer recuar um milímetro de seu empenho apostólico: que é promover a reconciliação entre os católicos reconhecidos e não reconhecidos, algo para o qual rezam aqueles que sofrem perseguições em virtude da fé.
A terceira mensagem é que mesmo os chineses têm dificuldade em entender que a Igreja faz a mais alta política somente quanto mais é evangélica. E, portanto, não entendem o curto-circuito teológico-político das oposições a Francisco.
Não são normais "conservadores" aqueles que contestam o seu magistério, o seu estilo pastoral, a sua pregação do Cristo pobre e, assim, todos os seus atos, até sua atitude em relação à China. Um lastro reacionário, em um corpo vasto como aquele católico, não traz dano algum: aliás, educa para a magnanimidade em relação àqueles que, quando foi preciso usá-la, a haviam esquecido.
Mas os cardeais anti-bergoglianos e todos seus monsenhorzinhos não são "conservadores": são marionetes, às vezes inocentes, muitas vezes patéticas, jogadas em um cenário político muito maior do que elas, no qual está em jogo o evangelho.
Cenário em que se move alguém como Steve Bannon, profeta e caixa eletrônico de um catolicismo identitário, autoritário, antissemita, xenófobo, fóbico, que ganha consenso em toda uma faixa escura que corta a Europa da Polônia até a Itália e tem como objetivo desconstruir a União, agitando amuletos religiosos envenenados. É aquele mundo que considera o empenho do papa pela paz, pela fraternidade com os pobres, o empenho pelo diálogo como uma desgraça contra a qual é preciso agir, e colocar em ação toda força de divisão.
Quando os chineses entenderem isso também, irão perceber que, se o papa olha com tanto zelo missionário para a China não é para adicionar mais uma jogada relevante, que sua já ilimitada popularidade não precisa, mas para desfrutar do salário do apóstolo: que é apenas aquele de ver a palavra do evangelho que corre no tempo entre as pessoas.
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Da China três mensagens para o Papa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU