13 Julho 2018
Nos últimos meses, cientistas de todo o mundo foram surpreendidos com um misterioso aumento das emissões de gases que estão comprometendo, de forma drástica, a camada de ozônio que protege a Terra.
A reportagem foi publicada por BBC e reproduzida por EcoDebate, 11-07-2018.
Agora, um grupo de pesquisadores acredita ter descoberto os responsáveis pelos danos ao meio ambiente: espumas de isolamento térmico de poliuretano, produzidas na China para uso em residências.
Buraco na camada de ozônio em 2000 registrado pela NASA, a agência espacial dos EUA
(Foto: Nasa/ Science Ohiti Library)
A Agência de Investigação Ambiental (EIA, na sigla em inglês), com base no Reino Unido, identificou a presença de CFC-11, ou clorofluorocarbonos-11, na produção dessas espumas na China. O composto químico havia sido proibido em 2010, mas está sendo usado intensamente em fábricas chinesas.
O relatório da EIA apontou a construção de casas na China como fonte das emissões atípicas de gases. Há dois meses, pesquisadores publicaram um estudo que mostrava que a esperada redução do uso de CFC-11, banido há oito anos, havia desacelerado drasticamente.
Os pesquisadores suspeitavam que o composto continuava sendo usado em algum lugar do leste da Ásia. Mas a fonte exata ainda era desconhecida.
Especialistas tinham receio de que o CFC-11 pudesse estar sendo usado secretamente para enriquecer urânio na produção de armas nucleares.
Agora, os pesquisadores dizem não ter dúvidas de que a fonte de produção do composto está vinculada ao uso de espuma para isolamento térmico de casas.
Os CFC-11 funcionam como um eficiente agente expansor na fabricação de espuma de poliuretano, convertendo-as em isolantes térmicos rígidos usados, principalmente, como forro no teto de residências para reduzir o custo da eletricidade e a emissão de carbono.
O EIA entrou em contato com fábricas de espuma de poliuretano em dez províncias na China. Depois de várias conversas com executivos de 18 empresas, os investigadores concluíram que o composto químico estava sendo usado na maioria dos isolantes de poliuretano produzidos pelas empresas.
A razão é simples: os CFC-11 têm melhor qualidade e são muito mais baratos que os produtos alternativos. Apesar do CFC-11 ter sido banido, a fiscalização não é eficiente e, por isso, ele continua sendo usado.
“Ficamos totalmente chocados ao descobrir que as empresas eram muito abertas em confirmar que estavam usando o CFC-11 e, ao mesmo tempo, reconhecendo que era ilegal”, disse à BBC Avipsa Mahapatra, do EIA.
A EIA calcula que os gases produzidos na China estão ligados ao aumento das emissões observado no relatório da agência em maio. No entanto, embora os achados da EIA sejam considerados plausíveis, alguns especialistas acreditam que eles não explicariam, por si só, o atual elevado nível de emissão de gases que tem comprometido a camada de ozônio.
Stephen Montzka, da Administração Oceânica e Atmosférica dos EUA (Noaa, na Sigla em inglês), disse à BBC que “o uso generalizado do CFC-11, que parece ser evidente na China com base no estudo (do EIA), é bastante surpreendente”.
Ele pondera, contudo, ser difícil analisar com precisão o cálculo das emissões provenientes do uso do CFC-11 para “saber se é realmente possível que essa atividade explique tudo ou quase tudo que estamos observando na atmosfera global”.
Por que a descoberta da EIA é importante?
Ainda que o uso de CFC-11 em fábricas chinesas não seja o único ou mesmo o maior responsável pela emissão de gases que estão destruindo a camada de ozônio, a descoberta do EIA é importante por ter identificado que uma quantidade considerável de químicos ilegais continua sendo usada – com a capacidade em potencial de reverter a já observada recuperação da camada de ozônio.
A espuma de poliuretano fabricada na China representa quase um terço da produção global desse produto. Os pesquisadores calculam que a produção atrasará em uma década ou mais o objetivo de fechar o buraco que permite os efeitos nocivos da radiação solar.
Como a China é signatária do Protocolo de Montreal – tratado de 1987, mas que entrou em vigor dois anos depois -, seria possível impor sanções comerciais contra o país. Mas desde que o protocolo foi firmado, há mais de 20 anos, nenhum país foi punido com sanções e dificilmente será esse o caso para o uso de CFC-11 na China.
É provável que a China seja incentivada a reduzir a produção de CFC-11 e será aberta uma investigação com o apoio do secretariado do Protocolo de Montreal para averiguar a situação no país.
Nesta semana, representantes do Protocolo de Montreal se reúnem em Viena, na Áustria, para elaborar um plano na tentativa de solucionar o problema.
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Cientistas identificam fonte de misteriosas emissões que estão destruindo camada de ozônio - Instituto Humanitas Unisinos - IHU