29 Junho 2018
O poema é de Alfredo J. Gonçalves, padre carlista, assessor das Pastorais Sociais.
Se fosse possível saber o nome
das migrantes submersos e afogados no mar Mediterrâneo,
onde tantos sonhos foram transformados em pesadelos...
Se fosse possível olhar nos olhos
de cada um e deles e decifrar a mistura de esperança e desespero,
fixada de forma brutal nessas faces mudos para a eternidade...
Se fosse possível conhecer os rostos
lendo neles os traços da família, da cultura e dos valores,
sepultados vivos e para sempre as águas traiçoeiras...
Se fosse possível acariciar-lhes as chagas dos pés
marcados pelas areias do deserto e a aridez dos caminhos,
e que agora repousarão ignorados no seio da tormenta bravia...
Se fosse possível penetrar-lhes o coração
e tocar as feridas e cicatrizes causadas pela travessia,
numa migração pontuada de barreiras, acidentes e surpresas...
Se fosse possível ouvir os gemidos de suas almas
pelo fracasso, a impotência e o desaparecimento inútil,
que definitivamente as separou de amigos, parentes e familiares...
Então, sim, tomaríamos consciência de que
não são apenas números, tabelas, gráficos e estatísticas;
não são apenas vítimas anônimas do acaso ou do destino,
não são apenas peças de uma reposição automática
no xadrez férreo, pétreo e perverso da economia globalizada...
Ao contrário, são sujeitos intrépidos na construção de um futuro,
artífices de um amanhã que os deixou para trás, mas segue sua rota;
profetas que denunciam as contradições da geopolítica mundial
e anunciam a urgência de mudanças nas relações internacionais;
protagonistas de uma sociedade onde, em lugar do passaporte,
a cidadania será assegurada pela certidão de nascimento.
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