19 Junho 2018
Investigador designado pelo Papa Francisco para visitar a diocese de Osorno, no sul do Chile, que tem sido o epicentro dos escândalos de abuso sexual clerical, afirmou que o pontífice o instruiu a pedir perdão pelo sofrimento que esses escândalos causaram.
A reportagem é de Inés San Martín, publicada por Crux, 18-06-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.
A catedral da diocese chilena do sul de Osorno durante
uma missa presidida pelo enviado do Papa,
arcebispo maltês, Charles Scicluna
(Foto: Misión Pastoral Osorno)
"O papa Francisco solicitou que eu pedisse desculpas a cada um dos fiéis da diocese de Osorno e a todos os habitantes deste território por ofendê-los profundamente", disse o arcebispo de Malta, Charles Scicluna durante uma que celebrou no domingo, encerrando a visita pastoral que ocorreu de 14 a 17 de junho.
Sicluna, juntamente com o padre espanhol Jordi Bertomeu, foi enviado ao Chile por Francisco para uma visita pastoral de 12 a 19 de junho. Esta é a segunda vez neste ano que o Pontífice envia os dois homens para o país latino-americano. A primeira, em fevereiro, foi para investigar o caso do bispo Juan Barros, a quem o pontífice designou para Osorno em 2015.
A decisão do papa causou alvoroço, tanto na diocese, quanto entre as vítimas do padre Fernando Karadima, considerado o pedófilo mais notório do Chile, que em 2011 foi considerado culpado pelo Vaticano por abusar sexualmente de menores, além de abusos de poder e consciência.
Até o final de janeiro deste ano, Francisco apoiou publicamente Barros. Durante sua viagem ao Chile, ele disse que as acusações contra Barros eram uma “calúnia”. Em 2015, ele foi flagrado em um vídeo dizendo que aqueles que se encontravam na diocese de Osorno protestando contra Barros estavam sendo “levados pelos esquerdistas”.
No entanto, algo aconteceu depois de seu retorno a Roma que o levou a enviar Scicluna e Bertomeu ao Chile para investigar Barros. Eles voltaram com um relatório de 2.300 páginas após conversarem com 64 pessoas.
Isso levou o Papa a mudar sua atitude em relação à crise chilena. Ele se desculpou publicamente por suas palavras. Depois, convidou dois grupos de vítimas para se encontrarem com ele. Também convocou toda a conferência dos bispos chilenos ao Vaticano para uma reunião de três dias.
Depois do encontro com o Papa, em abril, os bispos apresentaram sua renúncia em massa. Na segunda-feira, Francisco aceitou os três primeiros, incluindo Barros.
Durante a visita pastoral a Osorno, os dois enviados do Papa se reuniram com a comunidade religiosa local, realizando encontros em uma paróquia e na catedral, onde aconteceu a missa de domingo.
Falando com jornalistas locais antes da missa, Scicluna disse: “A reconciliação é uma dádiva do Senhor, não uma ação do homem. Podemos dizer isso com muita humildade. Todos estão convidados, todos são livres para aceitar ou rejeitar [o convite]”.
O documento original de Scicluna e Bertomeu permanece confidencial. Porém, no mês passado, desde que os bispos chilenos estiveram em Roma e retornaram apresentando suas renúncias a Francisco, amplas evidências surgiram mostrando o quão grande é o iceberg.
A homilia da missa de domingo foi confiada ao bispo Jorge Concha, administrador apostólico de Osorno, até que o Papa nomeie um bispo permanente. Durante sua homilia, recebeu várias ovações, sendo a primeira quando se referiu aos leigos da diocese.
"Eu pude aprender sobre pessoas de diversos lugares que já começaram a caminhar nesta direção de encontro. Vi que o desejo de unidade é muito vivo em todos vocês", disse ele. “E em todo o mundo, o papel de grande protagonismo assumido por homens e mulheres leigos de Osorno é bem conhecido.”
"Cristo é aquele que deve estar no centro de nossas vidas, embora nem sempre seja assim", disse Concha. “Colocar Jesus no centro significa se identificar e agir como ele, que se entrega em prol dos famintos, aprisionados, migrantes e abusados, a ponto de se tornar um deles”.
"Aqueles que nunca deixaram de colocar [Jesus] no centro, podem jogar a primeira pedra", disse ele, provocando a segunda ovação dos fiéis, que lotaram a catedral.
Antes da missa, o grupo conhecido como “Homens e mulheres leigos de Osorno” divulgou um comunicado explicando sua decisão de comparecer à missa: “Decidimos dar um passo adiante e, depois de três anos, entrar em nossa catedral para participar da missa no dia do Senhor, deixando absolutamente claro que não se trata de uma missa de reparação nem de reconciliação [...], mas para acolher o administrador apostólico, esperando que um caminho de reconciliação comece com ele.”
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Chile. Papa pede desculpas por escândalo de abuso sexual - Instituto Humanitas Unisinos - IHU