28 Mai 2018
O egoísmo e a exclusão, a crise econômica e a falta de emprego, as ameaças às famílias e a indiferença em relação aos jovens, aos pobres e aos migrantes. A “cultura do descarte”. O Papa Francisco reflete sobre os desafios que tornam este mundo de hoje incerto e, durante a audiência na Fundação Centesimus Annus pro Pontífice (no final da Conferência Internacional sobre “Novas políticas e estilos de vida na era digital”), invocou “uma cultura global de justiça econômica, de igualdade e de inclusão” à luz da Doutrina Social da Igreja.
A reportagem é de Salvatore Cernuzio, publicada por Vatican Insider, 26-05-2018. A tradução é de André Langer.
Na Sala Régia, a poucos passos da Biblioteca onde recebeu, na manhã do sábado, o seu “irmão” Bartolomeu, que abriu as sessões de trabalho da conferência, o Papa Bergoglio falou com os membros da Fundação Centesimus Annus sobre as “atuais dificuldades e crises no sistema econômico” que “têm uma inegável dimensão ética: estão relacionadas a uma mentalidade de egoísmo e de exclusão que gerou, na prática, uma cultura do descarte, cega à dignidade humana dos mais vulneráveis”.
Não são hipóteses, mas dados deixados à vista pela crescente “globalização da indiferença” diante dos “evidentes desafios morais que a família humana é chamada a enfrentar”. Em particular, o Papa referiu-se aos “obstáculos ao desenvolvimento humano integral de muitos de nossos irmãos e irmãs, não apenas nos países materialmente mais pobres, mas cada vez mais em meio à opulência do mundo desenvolvido”. “Penso também – acrescentou o Papa – nas urgentes questões éticas relacionadas aos movimentos migratórios mundiais”.
“Com frequência, desenvolveu-se uma dicotomia trágica e falsa (semelhante à ruptura artificial entre ciência e fé) entre a doutrina ética de nossas tradições religiosas e os interesses práticos da atual comunidade empresarial”, disse o Papa. “Mas existe uma circularidade natural entre lucros e responsabilidade social. Há, de fato, uma “ligação indissolúvel entre uma ética que respeita as pessoas e o bem comum e o funcionamento real de cada sistema econômico e financeiro”, acrescentou, citando o recente documento do Vaticano Oeconomicae et pecuniariae quaestiones sobre o discernimento ético no sistema econômico.
“A dimensão ética das relações sociais e econômicas” não pode ser importada “para a vida e as atividades sociais de fora, mas deve emergir de dentro”, insistiu Bergoglio. Este é um objetivo de longo prazo “que requer o compromisso de cada pessoa e de cada instituição dentro da sociedade”.
Em relação ao tema escolhido para a conferência deste ano – “Novas políticas e novos estilos de vida na era digital” –, o Santo Padre destacou um dos desafios relacionados a essa questão: as ameaças que as famílias enfrentam por causa da falta de oportunidades de emprego estável e do impacto da revolução da cultura digital.
O Pontífice enfatizou que, assim como colocou em evidência a preparação para o Sínodo deste ano, dedicado aos jovens, “é uma área crucial em que a solidariedade da Igreja é efetivamente necessária”.
“A contribuição de todos vocês é expressão privilegiada da atenção da Igreja com o futuro dos jovens e das famílias”, observou Francisco, recordando que, por outro lado, é uma atividade na qual a cooperação ecumênica é de especial importância e a presença do Patriarca Bartolomeu de Constantinopla na conferência “é um sinal eloquente dessa responsabilidade comum”.
“Queridos amigos, compartilhando seus conhecimentos e experiências, e transmitindo a riqueza da Doutrina Social da Igreja, vocês procuram formar as consciências de líderes nos campos político, social e econômico. Animo-os a perseverar neste esforço, que ajuda a construir uma cultura global da justiça econômica, da igualdade e da inclusão”, concluiu o Pontífice, expressando sua gratidão e apreço “por tudo o que já conquistaram, confiando seu futuro compromisso à Providência de Deus em oração”.
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O Papa: a dicotomia entre a ética das religiões e os interesses das finanças é trágica e falsa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU