25 Abril 2018
Vão sendo delineados os contornos do encontro que os bispos alemães terão nas próximas semanas no Vaticano para discutir a polêmica sobre a “hospitalidade eucarística”, ou seja, conceder ou não o acesso à comunhão a um protestante enquanto participa da missa junto com o cônjuge católico.
A reportagem é de Iacopo Scaramuzzi, publicada por Vatican Insider, 24-04-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Ainda não há uma data, mas o encontro, que será hospedado pela Congregação para a Doutrina da Fé, liderada pelo arcebispo Luis Francisco Ladaria, contará em Roma com o presidente dos bispos alemães, o cardeal Reinhard Marx, junto com o cardeal arcebispo de Colônia, Rainer Maria Woelki, chefe dos bispos que questionaram a abertura aprovada pela assembleia episcopal, e o bispo de Münster, Felix Genn.
O propósito da discussão, para o Conselho Permanente dos bispos alemães, é “discutir e avaliar os aspectos pastorais e o contexto jurídico também do ponto de vista da Igreja mundial”.
O caso, há semanas no centro de um acalorado debate que repercutiu na Alemanha chegando até Roma, começou no dia 22 de fevereiro, ao término da Assembleia Plenária de primavera dos prelados alemães em Ingolstadt, quando o cardeal Reinhard Marx, arcebispo de Munique e presidente da Conferência Episcopal, havia anunciado a elaboração de um subsídio pastoral, dirigido principalmente aos sacerdotes, para “examinar as situações concretas e para chegar a uma decisão responsável sobre a possibilidade de o cônjuge não católico ter acesso à comunhão”.
Um mês depois, em 22 de março, no Kölner Stadt-Anzeiger, o jornal da cidade de Colônia, relatava-se sobre uma carta dirigida por sete bispos alemães, incluindo o cardeal arcebispo de Colônia, Rainer Maria Woelki, ao prefeito da Doutrina da Fé, o arcebispo Luis Ladaria, e ao cardeal Kurt Koch, presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, para pedir a sua “ajuda e esclarecimento”, porque – defendiam os signatários – o esboço do subsídio, embora aprovado por dois terços dos bispos, é “ilegal” e “viola a fé católica e a unidade da Igreja” e, portanto, diria respeito a uma decisão que, superando as competências de uma Conferência Episcopal nacional, levanta a questão de uma “decisão da Igreja universal” e, portanto, uma tomada de posição da Santa Sé.
Com uma carta dirigida a todo o episcopado da Alemanha e publicada no site da Conferência Episcopal, o cardeal Marx respondeu refazendo os passos do caso, sublinhando que o documento tinha sido adotado com uma “esmagadora maioria” pela assembleia de Ingolstadt e especificando que “é naturalmente possível para uma Conferência Episcopal nacional (e também para um bispo diocesano, de acordo com o cânone 844 § 4 do Código de Direito Canônico), formular critérios que permitam a comunhão a cristãos que não estão em plena comunhão com a Igreja Católica”.
A missiva afirmava ainda que “a assembleia tomou a sua decisão com base nos textos teológicos e ecumênicos de referência e das possibilidades regulamentares do Direito Canônico e, portanto, vê o vínculo com a Igreja universal como um dado claro, especialmente após o encorajamento do Papa Francisco para novos passos no ecumenismo, também na pastoral”.
Nos últimos dias, quando alguns jornais alemães escreveram que o prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, o arcebispo Luis Francisco Ladaria, havia rejeitado o texto alemão, a Conferência Episcopal Alemã desmentiu, pela boca de seu porta-voz, Matthias Kopp, esses relatos da imprensa, especificando que, de todos os modos, o texto em questão ainda era um esboço não definitivo e deixando claro que o papa havia manifestado o desejo de “realizar um debate em Roma sobre o assunto”, perspectiva à qual Marx aderia com convicção.
Agora, a Conferência Episcopal Alemã anunciou que o Conselho Episcopal Permanente, reunido nos últimos dias, discutiu as propostas de modificação que chegaram de diversos bispos, nesse meio tempo, e, como previsto pela assembleia, os presidentes da Comissão Episcopal Doutrinal, da Comissão Episcopal para o Ecumenismo, junto com o próprio cardeal Marx, aprovaram a versão definitiva do subsídio pastoral.
Marx “informará os membros da Conferência Episcopal Alemã e as instituições competentes da Cúria Romana”, afirma um comunicado divulgado na noite dessa segunda-feira, 23 de abril, que fornece ainda alguns detalhes sobre o encontro em Roma: a Congregação para a Doutrina da Fé do Vaticano (e não, portanto, o papa) convidou a Roma, além do cardeal Marx – que, aliás, nestes dias está em Roma na qualidade de membro do Conselho dos nove cardeais que auxiliam o papa na reforma da Cúria Romana, o chamado C9 –, também o cardeal Woelki e o bispo de Münster, Felix Genn, que também é membro da Congregação dos Bispos.
O Conselho Permanente dos bispos alemães “acolhe a oportunidade de um diálogo em Roma para esclarecer e aprofundar” a questão: “O objetivo da discussão, do ponto de vista do Conselho Permanente, é discutir e avaliar os aspectos pastorais e o contexto jurídico também do ponto de vista da Igreja mundial”. Resta definir a data do encontro.
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Hospitalidade eucarística: Marx e Woelki debaterão em Roma - Instituto Humanitas Unisinos - IHU