Caso Barros: papa estava informado desde 2015 sobre os abusos do clero no Chile

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07 Fevereiro 2018

Charles Scicluna – o investigador encarregado pelo papa de verificar as responsabilidades do bispo Juan Barros, acusado de ter “acobertado” os abusos do seu mentor, o padre Fernando Karadima – logo chegará em Santiago do Chile para ouvir as vítimas. E agora vem à tona que, com toda a probabilidade, ainda em 2015, Francisco recebeu uma indicação por escrito contra o atual bispo de Osorno.

A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada por La Stampa, 06-02-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

A notícia foi publicada pela Associated Press, e, posteriormente, o jornal chileno La Tercera divulgou na internet todo o texto da carta assinada pela vítima, Juan Carlos Cruz.

Essa carta chegou ao seu destino? Marie Collins, ex-vítima de abusos e ex-membro da comissão vaticana para a proteção dos menores, confirmou isso à Associated Press: “Quando damos” ao cardeal Sean O’Malley, presidente da comissão, “a carta para o papa, ele nos assegurou que a entregaria a Francisco. Em um segundo momento, ele nos assegurou que isso tinha sido feito.”

Na carta, datada de 3 de março de 2015, Cruz relata todo o sofrimento que lhe foi provocado pela nomeação de Barros como bispo de Osorno, decidida por Francisco pouco antes: “Eu me animei a lhe escrever esta carta porque estou cansado de lutar, chorar e sofrer”. A vítima explica que, antes de se dirigir ao pontífice, tinha escrito ao núncio apostólico no Chile. “Em janeiro, foi divulgada a designação de Juan Barros Madrid como bispo de Osorno”, continua Cruz. “Santo Padre, para mim e para muitíssima gente, Santo Padre, foi um verdadeiro choque... Imediatamente escrevi uma denúncia formal ao núncio Ivo Scapolo, a quem tentamos ver e que nunca teve a cortesia de nos receber”.

“Santo Padre – continua a vítima – uma coisa é a tremenda dor e angústia do abuso tanto sexual quanto psicológico ao qual fomos submetidos, mas, talvez, seja até pior o terrível maltrato que recebemos de nossos pastores.” De acordo com o testemunho de Cruz, tanto Barros quanto três outros sacerdotes, hoje bispos, Andrés Arteaga, Tomislav Koljatic e Horacio Valenzuela, “estavam perto e às vezes de pé ao nosso lado quando Karadima nos abusava. Inclusive, Santo Padre, eles eram tocados de forma muito inapropriada por Karadima”.

Vale a pena lembrar que o bispo Barros nunca foi acusado de ter cometido abusos. Ele também não é acusado de comportamentos impróprios durante os já longos anos de episcopado em Iquique, como ordinário militar, e agora em Osorno. É evidente que esse testemunho, que já veio à tona no momento dos processos contra o influente pároco Ferdinando Karadima – que mais tarde se revelou como um abusador em série de rapazes –, não foi considerado suficiente para agir contra Barros.

O próprio papa, de 2015 até poucos dias atrás, não considerou que havia “evidências” para proceder contra ele, como ele repetiu várias vezes durante a conversa com os jornalistas na viagem de volta do Chile e do Peru. Assegurando, porém, que, se alguém as trouxesse, ele estaria pronto para mudar de ideia.

No entanto, algo aconteceu, já que, no dia 30 de janeiro, a Santa Sé comunicou que, “após algumas informações que foram recentemente recebidas sobre o caso” Barros, o papa “dispôs” que o melhor e o mais experiente dos prelados antipedofilia, com uma longa experiência em inquéritos e na escuta das vítimas, se dirigisse ao Chile “para escutar aqueles que expressaram a vontade de submeter elementos em sua posse”.

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