13 Novembro 2017
No cenário internacional, a estrela do Papa Francisco brilha hoje mais forte do que nunca, agora inclusive no papel de pacificador nuclear entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte. Mas, também dentro da Igreja ele se encontra diante de uma guerra mundial em capítulos, uma estranha guerra que ele mesmo ajudou a desencadear, muito convencido de que terá sucesso.
A reportagem é de Sandro Magister, publicada por Settimo Cielo, 12-11-2017. A tradução é de André Langer.
Se Jorge Mario Bergoglio é indiscutivelmente um inovador, ele o é mais no método do que nos resultados.
As novidades são sempre apresentadas em pequenas doses, semi-escondidas, às vezes em uma nota alusiva de rodapé, como fez com a agora famosa nota 351 da exortação pós-sinodal Amoris Laetitia, para depois dizer abertamente, ao ser interpelado em uma de suas muitas e já famosas entrevistas coletivas no avião, que nem se lembra dessa nota.
E, no entanto, bastaram essas poucas linhas sibilinas para suscitar na Igreja um conflito sem precedentes, com episcopados inteiros confrontados – na Alemanha a favor das novidades, na Polônia contra – e, assim, em todo o mundo, entre dioceses e dioceses, entre paróquia e paróquia, onde estão em jogo não apenas o "sim" ou o "não" à comunhão de pessoas divorciadas que se casaram novamente, mas o fim da indissolubilidade do matrimônio e a admissão do divórcio também na Igreja católica, como já acontece entre os protestantes e os ortodoxos.
Algumas pessoas estão alarmadas com essa confusão que invade a Igreja. Mas Francisco não faz nada para restaurar a ordem na casa. Ele avança com segurança. Nem mesmo presta atenção nos cardeais que apresentam suas "dubia" e em tantos outros sobre questões de capital importância da doutrina que veem em perigo, e pedem que esclareça. Ele deixa correr as interpretações mais disparatadas, tanto as conservadoras como as dos ultraprogressistas, sem jamais condenar explicitamente nenhuma.
O importante para ele é "lançar a semente para que a força seja desencadeada", e "misturar o fermento para que a força cresça", de acordo com as palavras que ele mesmo usou em uma de suas homilias de alguns dias atrás na Capela da Residência Santa Marta. E "se eu ficar com as mãos sujas, graças a Deus!, porque ai daqueles que pregam com a intenção de não sujar as mãos. Esses são guardiões de museus".
Pascal, o filósofo e o homem de fé que Francisco diz que quer beatificar, escreveu palavras incendiárias contra os jesuítas de seu tempo, palavras que lançaram suas teses mais audaciosas na disputa para que, no futuro próximo, amadurecessem e se tornassem pensamentos comuns.
Mas é exatamente o que faz hoje o primeiro papa jesuíta da história: ele coloca em movimento "processos" nos quais semeia as novidades que ele quer que triunfem mais cedo ou mais tarde, nos mais diversos campos, como, por exemplo, no juízo sobre o protestantismo.
Na Argentina, Bergoglio lançou terríveis invectivas contra Lutero e Calvino. Mas, como Papa, faz o contrário: para Lutero, só tem elogios. Em uma visita à igreja luterana de Roma, ao lhe perguntarem se católicos e protestantes podem receber juntos a comunhão, embora os primeiros acreditem que o pão e o vinho "realmente" se transformam no corpo e no sangue de Cristo, enquanto os últimos não acreditam nisso, ele respondeu ‘sim’ e depois ‘não’, e depois disse ‘não sei’, e a posteriori disse para fazer o que acharem mais adequado, em um desperdício de contradições, mas na prática sinalizando de maneira positiva ao pedido.
A verdadeira novidade do pontificado de Francisco é a liquidez de seu magistério. O que ele não tolera é que alguém ouse fixá-lo em ideias claras e distintas, purgando-o daquilo que tem de inovador.
Quando o cardeal Gerhard L. Müller, que como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, insistiu em dizer que na Amoris Laetitia não havia nada de novo em relação à tradição, ele o afastou abruptamente do cargo.
Quanto ao cardeal Robert Sarah, prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, que queria reservar para si o controle total das traduções do Missal Latino em diferentes línguas, humilhou-o publicamente, obrigando-o a dizer a todos os bispos que, pelo contrário, o Papa outorga a cada Igreja nacional a liberdade de traduzi-lo a seu gosto, o que constitui o embrião de uma futura Igreja católica não mais monolítica, mas federada, outro objetivo de Bergoglio, que é um calculista implacável.
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A revolução de Bergoglio. Em doses homeopáticas, mas irreversível - Instituto Humanitas Unisinos - IHU