30 Setembro 2017
“É importante o diálogo, inclusive dentro da Igreja”. Com estas palavras, o cardeal Secretário de Estado da Santa Sé, Pietro Parolin, reivindicou sensatez no debate sobre a exortação apostólica Amoris Laetitia, que neste final de semana chegou a um ponto culminante, após a publicação da chamada “correção filial” ao Papa Francisco.
A reportagem é de Cameron Doody, publicada por Religión Digital, 29-09-2017. A tradução é do Cepat.
Nesta quinta-feira, o “número dois” do Vaticano se tornou a primeira figura da hierarquia a se referir a esta “correção filial” assinada por meia centena de teólogos e acadêmicos. Através de uma carta, estes ultraconservadores acusaram o Pontífice de propagar em seu escrito e em seus “atos” palavras e omissões” subsequentes, sete posturas heréticas sobre o matrimônio, a moral e a recepção dos sacramentos.
Falando em Roma, tendo como pano de fundo uma conferência sobre a perseguição que sofrem os cristãos iraquianos, o cardeal Parolin afirmou que aqueles que não estiverem de acordo com o Papa são livres para se expressar, “mas nesses assuntos se deve ponderar e encontrar formas de nos entender mutuamente”.
Embora nenhum dos assinantes da “correção filial” seja cardeal e nenhum seja bispo, a não ser o líder do grupo tradicionalista da Fraternidade Sacerdotal São Pio X, ou lefebvrianos, Bernard Fellay, a publicação de tal escrito desatou, neste final de semana, uma onda de manchetes que pressagiam um “cisma” potencial na Igreja.
A “correção filial” também reavivou o debate sobre as dubia dos quatro cardeais acerca da Amoris Laetitia, apresentadas ao Papa no ano passado, ainda que os responsáveis da nova “correção filial” decidiram, nesta ocasião, que seja “uma iniciativa independente”, não impulsionada – ao menos diretamente – pelo cardeal Raymond Burke, ‘líder da oposição’ a Francisco na Cúria.
Por sua parte, e em declarações ao Avvenire, o teólogo e secretário especial do Sínodo da Família, Bruno Forte, se referiu ao documento ‘anti-Bergoglio’ como “uma operação contra o Papa e contra a Igreja”.
Na opinião de Forte, a Amoris Laetitia “responde a uma pergunta pastoral – se os divorciados em segunda união podem comungar – perfeitamente legítima e evangélica, baseada na caridade”. Por isso, considera tanto as dubia como a “correção” um “ataque grave e instrumentalizado”.
Além disso, o prelado aponta que se trata da “expressão de um grupo absolutamente minoritário que não captou a mensagem de fundo da Amoris Laetitia. E que fecham a porta ao “espírito do Concílio Vaticano II que Francisco está encarnando”.
E ainda que o cardeal Parolin convide ao diálogo sobre a abertura aos sacramentos que a Amoris Laetitia propõe aos católicos divorciados e em segunda união, cabe recordar que, nesta mesma quinta-feira, La Civiltà Cattolica publicou as mais extensas reflexões do Papa Francisco sobre o debate, das quais se teve constância até a data.
“Escuto muitos comentários – respeitáveis porque os dizem filhos de Deus, mas equivocados – sobre a Exortação apostólica pós-sinodal”, admitiu o Papa a um grupo de jesuítas, com quem se reuniu durante sua recente visita à Colômbia. Mas, “para compreender Amoris Laetitia é necessário lê-la do início ao fim. Começar com o primeiro capítulo, continuar pelo segundo... e assim seguindo... e refletir”, continuou.
“Uma segunda coisa”, prosseguiu Francisco neste encontro em Cartagena das Índias. “Alguns sustentam que a moral que está na base da Amoris Laetitia não é uma moral católica ou, ao menos, que não é uma moral segura. Diante disto, quero reafirmar com clareza que a moral da Amoris Laetitia é tomista, a do grande Tomás. Podem falar disto com um grande teólogo, entre os melhores de hoje e entre os mais maduros, o cardeal Schönborn”.
“Quero dizer isto”, afirmou o Pontífice, “para que ajudem as pessoas que acreditam que a moral é pura casuística. Ajudem elas a perceber que o grande Tomás tem uma riqueza muito grande, capaz de também hoje nos inspirar. Mas, de joelhos, sempre de joelhos...”.
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Parolin reivindica “sensatez” aos assinantes do manifesto ‘anti-Bergoglio’ - Instituto Humanitas Unisinos - IHU