27 Setembro 2017
Eles contêm os restos de seis crianças vítimas de um massacre perpetrado pelo Exército de El Salvador, que acabam de ser identificadas e sepultadas.
A reportagem é de Alver Metalli, publicada por Tierras de América, 26-09-2017. A tradução é de André Langer.
Uma procissão marcada pela tristeza de familiares e moradores da região forma uma coluna para acompanhar seis caixões brancos. Eles são pequenos e cada um deles leva uma coroa de flores. Tão pequenos quanto os restos que contêm: seis crianças que desapareceram há 35 anos durante uma operação do Exército em uma remota aldeia das montanhas ao norte de El Salvador, a 113 quilômetros de San Salvador, a capital, em plena guerra civil. À frente da procissão caminha o cardeal Gregorio Rosa Chávez, que dirige as orações que cerca de duzentas pessoas recitam com devoção. Não há choro, pois todas as lágrimas foram derramadas há muito tempo, quando as incursões contra a insurreição cobraram a vida de crianças e adultos suspeitos de colaborar com os guerrilheiros da FMLN (Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional) ou apenas fornecer abrigo e comida.
O cortejo serpenteia pelas ruas da aldeia, que foi crescendo como um cogumelo em um terraço de montanha, para terminar seu percurso em uma capela dedicada aos Mártires. Alguns cantam, outros rezam, outros mais dormem ao sol de setembro, até que o importante bispo, que veio da capital para essa última e muito aguardada homenagem, toma a palavra. Ele fala de "um dia especial que pode marcar o início de uma verdadeira reconciliação do nosso país". Assentem com a cabeça, confirmando a temerária afirmação, o vice-ministro de Relações Exteriores de El Salvador, Carlos Castañeda, e a procuradora da Defesa dos Direitos Humanos, Raquel Caballero, representando o governo, sentados pacificamente um ao lado do outro na primeira fila.
O cardeal diz que ter encontrado os corpos dos pequenos, que ter podido dar-lhes finalmente um nome e sepultura, "marca um antes e um depois no momento decisivo de reconciliação" que o país centro-americano vive, após a anulação da Lei da Anistia de 1993 que perdoava os crimes cometidos durante a guerra civil que ensanguentou El Salvador entre 1980 e 1992. "Havia uma anistia decretada pelo presidente Alfredo Cristiani Burkard em 1993, de acordo com o critério do perdão e do esquecimento. Esta anistia acabou de ser revogada. Abriu-se novamente um espaço onde é possível investigar", disse em outra ocasião Rosa Chávez, falando de "duas linhas" para enfrentar um passado controverso: "uma linha fala de perdão e esquecimento, a outra, de verdade, justiça e perdão. Na América do Sul, ambas foram aplicadas; onde se seguiu a linha do perdão e do esquecimento o resultado foi um fracasso; onde se seguiu – como no Chile – uma linha de justiça e perdão, obtiveram-se os melhores resultados. Pessoalmente, acrescentaria um quarto termo: reconciliação, como no esquema colombiano".
É o que a Igreja salvadorenha reclama há muito tempo para enfrentar a terrível história nacional. O cardeal menciona, em seguida, os nomes das crianças, que uma equipe de antropólogos forenses argentinos – convocada para colaborar com os especialistas salvadorenhos – conseguiu identificar: Norberto, Gladys e Pastor Serrano, três irmãos de 11, 8 e 3 anos respectivamente na época em que desapareceram; Rafael Franco, de cinco anos, e José Mauricio Menjívar, da mesma idade. Finalmente, Milagro Navarro Orellana, que só pôde viver até os quatro anos.
Os restos foram localizados no dia 15 de julho de 2015 a partir de indicações fornecidas por José Franco, um sobrevivente e pai de uma das crianças, que assinalou à Comissão de Busca do governo a área onde foram enterradas no final da operação militar de 1982. O homem morreu há alguns meses sem poder, portanto, sepultar o pequeno Rafael.
"Após uma longa investigação, concluiu-se que as crianças foram assassinadas por soldados e paramilitares no cantão de El Sitio do município de Arcatao, Chalatenango, durante a operação militar conhecida como" la guinda de mayo", que aconteceu nos meses de maio e junho desse ano", especificou a Comissão Nacional de Busca em um comunicado emitido antes do funeral.
Em julho de 2015, a Suprema Corte de El Salvador ordenou uma investigação para identificar o local onde dez menores foram enterrados, incluindo os seis que acabam de ser identificados e sepultados, que desapareceram durante uma incursão dos Batalhões Ramon Belloso e Atlacatl. De acordo com as informações fornecidas pela Comissão, não menos de 53 crianças desapareceram, 23 das quais foram localizadas, quatro "morreram" e três "foram assassinadas no local".
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El Salvador. Seis pequenos caixões brancos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU